Luanda - A entrevista do presidente da República João Lourenço à TPA (pela primeira vez) – com possibilidade de o jornalista Nok Nogueira também perguntar coisas que nunca seriam respondidas, pela forma, também, pouco profissional como o fez – a julgar pelo perfil do entrevistado! –, contrariando uma falsa ideia veiculada pelos órgãos de imprensa de que se deu entrevista também ao “Novo Jornal”, quando não é bem assim (já vou explicar no desenvolvimento) – acabou por capitalizar todas as atenções dos conteúdos divulgados pela imprensa angolana durante a semana de 23 a 30 de junho de 2019, uma vez que uma entrevista de um Chefe de Estado, em qualquer parte do mundo, tem sempre grande impacto (interesse público) na maioria dos cidadãos governados de um país normal, que pretenderão sempre saber se estão diante de um presidente da República honesto ou não.

Fonte: Club-k.net

ANÁLISE DA SEMANA: COMO SE EXPLICA ISTO (4)?

Entrevistas a esse nível, quer se aceite ou não, têm sempre um pendor de “julgamento” do entrevistado. É como se o presidente da República estivesse na cadeira de “réu” e os jornalistas na cadeira de “juiz”, coisa que não aconteceu no referido exercício.

É preciso que você, meu caro leitor, saiba os critérios deste meu exercício semanal: é claro que é humanamente impossível que apenas uma cabeça oiça tudo, veja tudo e leia tudo. Eu não sou super-homem. Portanto, o critério adoptado tem com base acompanhamentos aleatórios da imprensa – numa amostra de principais órgãos ouvidos, vistos e lidos com base na obervação do analista – e o positivo e negativo são os aspectos que mais se encontram nos extremos, não estando, com isso, a assumir-se que quem não foi citado não trabalhou durante a semana ou não fez nada de positivo nem de negativo. A ideia não é esta.

A ideia é proporcionar-lhe, caro leitor, uma visão individual do cidadão e jornalista Carlos Alberto – puramente subjectiva. Toda a opinião vale o que vale. A minha opinião pode valer para alguns e não valer para outros. Ainda assim, eu prefiro correr este risco, estando submetido igualmente ao seu escrutínio para que confirme ou não se faço análises imparciais ou eivadas de “vícios de forma”.


Nesta introdução, vale dizer que esta análise semanal teria sido outra se a entrevista do presidente da República não tivesse acontecido.

Como aconteceu, e é factual, tive de deixar para trás alguns outros aspectos positivos e negativos da minha observação com base no critério “relevância pública”.

Destaca-se, nesta análise, o “marketing político” mal feito por parte dos assessores de comunicação do presidente da República, que têm demonstrado algum “amadorismo” nestas andanças, pelos resultados que a entrevista causou. Podiam ter feito um trabalho mais profissional com o presidente da República João Lourenço. O negativo de maior impacto desta análise vai para eles (assessores e auxiliares de comunicação do PR).

O positivo de maior impacto, ao nível de desempenho dos órgãos de comunicação social, vai para duas rádios privadas, que durante a semana finda mostraram maior preocupação em responder aos anseios político-sociais do seu público-ouvinte, embora a Rádio Despertar continue a demonstrar maus exemplos no que ao tratamento de matérias relacionadas com o partido no poder (MPLA) diz respeito – exactamente o mesmo exercício de violação à lei que os militantes do MPLA fazem nos órgãos públicos com peças relacionadas com a UNITA –, chegando mesmo a contribuir negativamente para uma imagem da UNITA, maior partido na oposição em Angola, que diz aspirar ser poder no país.

O facto curioso nesta minha análise “4” é que a mesma pessoa que recebeu a maior nota positiva na análise “3” recebe hoje nota negativa, por não ter tido o cuidado de se ter preparado convenientemente, como demonstrou, e bem, noutras ocasiões no “Novo Jornal”, tendo merecido o meu elogio público.
Estou a falar de Nok Nogueira. Não esteve bem.

No entanto, foi o Nok Nogueira que mais encarnou o espírito que deve ser dado a uma colectiva: conseguiu rebater as “não respostas” do entrevistado João Lourenço, usando inclusive a deixa do seu colega Luís Caetano. Mostrou foco no interesse público. Por outro lado, há uma nota positiva para o Luís Caetano da TPA, fruto de uma coisa que dificilmente acontece naquela estação pública: produziu-se notícia numa entrevista. Aperte o cinto. Vamos então ao positivo e ao negativo da semana.

O POSITIVO

Duas rádios privadas prestaram um melhor “serviço público” durante a semana passada, nos seus jornais das 12h – e algumas vezes às 18h30 e às 19h, respectivamente –, estou a falar da “Rádio Despertar (RD)” (91.0), ligada a uma gestão político-partidária do partido “UNITA”, e da “Rádio Ecclesia (RE)” (97.5), ligada a uma gestão ideológica da Igreja Católica em Angola.

As aspas no “serviço público” são propositadas, pois até jornalistas mostram uma grande dificuldade de perceber o que é, na verdade, “serviço público”, de acordo com a minha observação. E isto contribui para as diversas abordagens na cobertura de eventos.


A Lei n.º1/17, de 23 de Janeiro, a Lei de Imprensa em vigor em Angola, define “serviço público” no artigo 2.º, com epígrafe “definições”, que “Serviço Público é um serviço de programas e de informação de interesse geral, dirgido a todo público heterogéneo e anónimo, assegurado obrigatoriamente pelo Estado.”.

É verdade que a Lei angolana de Imprensa é uma lei contraditória – ela própria contradiz-se em alguns aspectos ligados à regulação e à supervisão dos órgãos de comunicação social. Em alguns momentos tenta mostrar que é a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana (ERCA) a que tem a missão de assegurar a objectividade e isenção da informação divulgada pelos órgãos de comunicação social, quando, na verdade, é falso, uma vez que esta responsabilidade é do maior regulador da imprensa: o Ministério da Comunicação Social, que tem poder sancionátório, no fundo, sobre todos os órgãos de comunicação social, perante violações no tratamento de peças.

O serviço público é garantido a partir do momento em que os órgãos públicos e privados de comunicação social estão licenciados (autorizados) a fazer o seu trabalho.

Não se pode confundir “serviço público” com “órgãos públicos” de comunicação social. No sentido “objectividade e isenção” “Com vista a garantir o direito dos cidadãos de informar, se informar e ser informado, o Estado assegura a existência de um serviço público de informação (art. 10.º da Lei de Imprensa).”, portanto, estamos conversados: “Serviço Público” é o que todos, sem excepção, privados ou públicos, devem fazer. Não se trata apenas de serviços de órgãos públicos. Está na Lei n.º1/17, de 23 de Janeiro. Nesta parte, a referida lei foi feliz.

Agora que você já percebeu o que é “serviço público”, posso continuar o meu positivo da semana: A RD e a RE mostraram maiores preocupações com o “serviço público”, uma vez que foram as únicas, durante a semana, que conseguiram traduzir, com respeito ao contraditório, todos os fenómenos sociais que marcaram, de uma forma geral, a semana. O caso CNC “Conselho Nacional de Carregadores”, em julgamento, casos de cidadãos que viram seus alegados terrenos serem “usurpados” por terceiros, casos sobre a bombástica notícia de ter havido (ou há mesmo) alegadamente “polícias fantasmas” na Polícia, etc., marcaram positivamente a minha observação.

E o positivo tem mais realce porque a RD e a RE não têm um número grande de profissionais nas suas redacções, o que me leva a concluir que os pequenos grupos estão sempre atentos ao que se passa no país e que há sinais de haver entrega dos profissionais ao trabalho, assim como um interesse em fazer cada dia melhor. Merece os meus aplausos de reconhecimento, coisa que já não verifiquei durante os jornais da “ Rádio Nacional de Angola RNA” (93.5), que ficaram muito presos, mais uma vez, às comunicações institucionais.


Alguém criou a ideia de que “linha editorial” dos órgãos públicos de comunicação social deva ser “promover a imagem do Executivo” ou dos poderes. A Lei de Imprensa de facto diz ser obrigatório, no art. 16.º, a publicação de notas oficiais de instituições do Estado, mas nada diz que tais notas não possam estar eivadas de “mentiras”. Aliás, é só ver que hoje o próprio presidente da República João Lourenço diz que o passado foi catastrófico para o país. E sempre se leu “as notas oficiais”.
Estou a assumir que as “notas oficiais” não garantem, de per si, “verdade” no que está a ser divulgado.

O jornalista deve ir à busca de outros ângulos da mesma matéria para permitir que o seu público-alvo tenha mais instrumentos informativos que lhe faça ter uma percepção mais plural e isenta de todos os fenómenos sociais relatados na imprensa. Não basta que o Executivo diga algo para ser tido como “verdade inquestionável”. Não é papel do jornalista dar um “xeque-mate” a um assunto quando está a informar o que não é da sua cabeça. O jornalista deve apresentar os factos em todos os ângulos possíveis. É a isto que a Lei de Imprensa se refere quando diz “objectividade e isenção”. Não é verdade que seja papel da RNA ler apenas notas oficiais como sendo “notícia”.

Até prova em contrário, o próprio Executivo pode estar a mentir, eventualmente, ao povo angolano, com “notas oficiais”. Um órgão sério deve sempre ficar com um pé atrás quando o Executivo publicita uma medida tomada, partindo do pressuposto de que ninguém, no seu juízo perfeito, publicita os seus defeitos.
Cabe, por isso, ao jornalista ir à busca do que o Executivo não diz: os defeitos, as contradições, as mentiras, etc., sempre com base também no uso do contraditório. O Executivo também não pode ser julgado sem ser ouvido. O dirieito à presunção de inocência é um princípio sagrado na actividade jornalística. Até se pode “admitir” a violação de uma norma, mas nunca se aceita uma violação de princípios que definem um Estado Democrático e de Direito, dizem os juristas.

Esta nota positiva para a RD e RE acaba por traduzir uma nota negativa, consequentemente, à RNA, que ainda não consegue sair das “notas oficiais” dos diversos poderes em Angola (Executivo, Legislativo e Judicial), o que pode representar um perigo para o futuro dos angolanos, tal como aconteceu no tempo de José Eduardo dos Santos. Recomendo que a RNA tenha atenção a este aspecto para não se chegar a 2022 com a publicitação de “inverdades” na imprensa, favorecendo, ilicitamente, eventualmente, interesses do actual inquilino do Palácio da Cidade Alta. É preciso ter-se muito cuidado com os políticos.

A abertura, pela primeira vez, à Televisão Pública de Angola, uma televisão paga com a contribuição de todos os angolanos, do presidente da República João Lourenço é, sem sombra de dúvidas, um aspecto positivo que marcou a semana, uma vez que nós, jornalistas, sempre questionámos o facto de o antigo presidente da República José Eduardo dos Santos nunca ter dado o devido valor aos órgãos angolanos de comunicação social. E tenho pena de que José Eduardo dos Santos possa “ir desta para melhor” sem dar nenhuma entrevista aos órgãos angolanos de comunicação social, o que representaria uma grande mancha negativa na sua existência no Planeta Terra, concretamente no território angolano. Ainda pode mudar este quadro. Uma entrevista de um ex-presidente da República constitui sempre motivo de interesse público.

João Lourenço, à frente da Presidência da República, começou por dar entrevistas a órgãos estrangeiros. Isto provocou um ressuscitar de ânimos por parte de jornalistas angolanos que sempre esperaram poder entrevistar o presidente do seu país – embora haja aqui um problema de “culto de personalidade” por parte de muitos jornalistas angolanos que só pretendem entrevistar o PR mais para serem vistos pelo próprio número um da nação e tirarem algum aproveitamento político-económico disto do que propriamente prestarem um serviço público à altura das exigências da profissão, já lá vamos.

É positivo que o “nosso” (atenção que eu não votei em João Lourenço e tenho a certeza de que fiz a melhor leitura de um cidadão consciente e exigente em 2017, a julgar pelo que estou a ver no seu desempenho, a não ser que JLo me surpreenda para que eu mude de opinião) presidente da República comece a falar mais abertamente para a nossa imprensa. O presidente da República não é Deus, como muitos pensam. É um simples cidadão, como qualquer um de nós, que se submeteu livremente à gestão de riquezas e património que não lhe pertencem. Por gerir um património que é público, que não é do seu bolso individual, deve prestar contas ao dono das riquezas: o povo angolano, de Cabinda ao Cunene. A iniciativa de falar (prestar contas) é muito positiva.

O gesto valeu muito para uma Angola que quer cada vez mais transparência na gestão da coisa pública. E agora a pergunta: João Lourenço prestou contas ao Soberano na entrevista? A resposta é não. Por isso é que isto entra no meu negativo.

Devo dizer que foi bom vermos um presidente da República a rir-se publicamente. Parece algo superficial mas a expressão facial – que representa uma linguagem comunicativa do ser humano – de um gestor público fala mais que as meras palavras que ele usa numa entrevista. Como disse, ninguém dá tiros no seu próprio pé. É claro que João Lourenço nunca vai assumir publicamente ser desonesto – mesmo que seja! – e é por isso que “a abertura” ao público é sempre positiva para se tirar ilações sobre a sua pessoa e mesmo as perguntas não respondidas acabam sempre por representar uma comunicação: o exercício da linguagem humana processa-se no cérebro. Não se processa no mero uso de uma língua.
O corpo fala mais que as palavras.

O corpo não engana. É o “verdadeiro cérebro” que faz mover o corpo. Chomsky – um dos pensadores americanos de referência nos cursos de “Comunicação” – já dizia que “a língua é um sistema de princípios mentais”, ou seja, sem abrir a boca, o cérebro fala. E foi muito interessante ver que João Lourenço tem de facto feito um esforço para ser diferente de José Eduardo dos Santos, no que à comunicação diz respeito, mas mostrou, mais uma vez, um “militarismo comportamental”.

João Lourenço mostrou sorrisos, durante a entrevista, que não traduziam que ele estava à vontade com os entrevistados. Aquilo foi uma técnica psicológica para não dizer nada que ele não queria dizer. Fez o Nok Nogueira entrar num discurso mais descontraído – para que ele (o jornalista) não rebatesse em questões não respondidas, acrescido do facto de o nosso colega Nok Nogueira ter demonstrado que não estava munido de instrumentos informativos que o ajudassem a desconstruir o discurso do entrevistado.

Neste sentido, João Lourenço venceu o “duelo” contra os dois jornalistas.

É importante lembrar que, numa entrevista, há sim vencedores e vencidos, ao contrário do que muitos jornalistas afirmam. Os manuais de jornalismo são claros neste aspecto. Quando o jornalista consegue tirar uma informação a um entrevistado – o presidente da República não é excepção – há “vitória” para o entrevistador. O inverso significa justamente o contrário. Os entrevistados – atenção que eu próprio que estou a escrever esta análise se estiver na pele de entrevistado também vou usar as minhas técnicas para que o meu entrevistador não marque mais golos do que eu – pretendem sempre dizer o que apenas convém ao público. Eles, todos eles, de qualquer parte do mundo, nunca vão divulgar os seus defeitos, se os entrevistadores não dominarem algumas técnicas na arte de perguntar.

Acima de o jornalismo ser uma ciência, a arte de cada pessoa (tanto o entrevistado quanto o entrevistador) conta muito para o desfecho da divulgação da matéria. O entrevistado João Lourenço venceu os dois entrevistadores mas mostrou “coisas” interessantes na sua expressão corporal (que também fala a partir do cérebro).

Há um outro aspecto positivo no fim desta entrevista: depois de tantos risos e perguntas não respondidas, exactamente no fim da entrevista, Luís Caetano faz uma pergunta de um verdaderio serviço público para satisfazer o interesse público: “Senhor presidente, é desta vez que se vai resolver definitivamente o problema da seca em Angola, sabe-se que o Executivo pretende gastar x milhões, vai haver solução definitiva?”.

É este tipo de perguntas que se espera de um entrevistador sério. Vou explicar: o “desta vez” liga João Lourenço ao Governo de José Eduardo dos Santos. O problema da seca é antigo. E o MPLA tem mostrado ser incompetente no tratamento da seca em Angola.

É só ver que o próprio presidente da República João Lourenço andou a “apelar” – e eu fiz menção deste aspecto na análise “3” – às pessoas singulares e colectivas da sociedade angolana no sentido de darem uma “ajuda” com qualquer coisa. Faz sentido que um jornalista pergunte se, apesar de se fazer um anúncio de gastos de um dinheiro que pertence originalmente ao povo angolano, não se está em mais uma medida paliativa, sem resolução definitiva. Luís Caetano fez a pergunta de uma forma inteligente com o “desta vez”.

Por outro lado, o entrevistador da TPA mostrou que domina dados, avançando números (a quantia que supostamente seria gasta), o que permitiu fazer que o entrevistado João Lourenço deixasse de rir. A expressão corporal ao longo de toda a entrevista mudou. O cérebro acusou “o desta vez” versus “quantia a ser gasta”. Isto permitiu ao entrevistado responder com seriedade o assunto e, pela primeira vez, ao longo de toda a entrevista, o entrevistado conseguiu dar um dado que podia ser notícia se a redacção da TPA tivesse analistas profissionais de conteúdos: o presidente da República assumiu, pela primeira vez, que vai resolver definitivamente o problema da seca no sul do país – é inédito, tem grande impacto na sociedade, tem proximidade com o público-alvo da TPA, seria improvável que um presidente angolano assumisse publicamente que vai resolver definitivamente o problema da seca em Angola, tem utilidade pública, tem apelo, mostra uma curiosidade que nunca se tinha visto na governação do país, mostra empatia com o público, retira a possibilidade de se estar perante um político que promete sem apresentar metas dos seus resultados, é um dado que tem proeminência, face à garantia da mais alta entidade da nação, é um dado oportuno, uma vez que a seca é um problema de um momento em que nos encontramos em Angola: inverno, não chove.

O PR até fez questão de apontar que o dinheiro avançado não será suficiente. Vai haver necessidade de mais dinheiro. Está aqui a notícia – o golo marcado pelo Luís Caetano. Quando se pergunta com uma boa técnica, o entrevistado dá os dados que se precisa para se fazer notícia. Uma entrevista que não gera notícia é qualquer coisa menos entrevista.

As entrevistas servem para se buscar dados novos de grande impacto na vida dos cidadãos numa sociedade. Anabela Gradim (“Manual de Jornalismo” p. 76) diz que “a entrevista é o género básico de toda a praxis jornalística”. Quando se prepara uma entrevista, um jornalista sério pretenderá sempre marcar golo (colher dados de relevância pública que nunca foram ditos antes por ninguém) – já que João Lourenço dá muitos exemplos de futebol, faço o mesmo porque sei que lê as minhas análises.

O mais engraçado é que a redacção da TPA não explorou a única notícia que o seu próprio profissional fez, de forma competente. Ou seja, Luís Caetano, que é o director de informação, não conseguiu perceber que ele marcou golo, pela primeira vez, ao longo da existência da Televisão Púbica de Angola. O Telejornal da TPA devia abrir no sabádo, no dia seguinte, com o seu “golo” marcado. Foram buscar “bocas” do Comité Central que já não são novidades.

A TPA já tinha passado discursos do presidente do MPLA João Lourenço aquando do VII Congresso Extraordinário, à volta dos motivos do alargamento do Comité Central. O Telejornal da TPA fez o que se diz em jornalismo “choveu no molhado” (não disse nada de novo). Isto acontece quando os profissionais não dominam conceitos jornalísticos. Isto demonstrou também que não foi o Luís Caetano que preparou as perguntas da entrevista.

Não faz sentido que quem prepara perguntas para marcar golo consiga marcar e não “publicite” a sua vitória inédita numa televisão pública. É demonstração de incompetência por parte dos gestores de conteúdos da TPA, o presidente do Conselho de Administração da TPA, Francisco Mendes, do administrador de conteúdos da TPA, Paulo Julião, do próprio Luís Caetano, director de informação da TPA, do responsável do alinhamento informativo do jornal em causa e do próprio apresentador em serviço do Telejornal Mário Vaz, que deviam ter tido olho clínico para explorar justamente um golo inédito produzido pela própria casa (a TPA).

Ainda na entrevista concedida pelo presidente da República à TPA, há um detalhe que a minha honestidade intelectual manda bater palmas: o facto de o PCA Francisco Mendes ter conseguido impor-se no que às incompatibilidades diz respeito. Eu sou dos que se bateram muito para que o próprio Francisco Mendes, Paulo Julião e Ana Lemos – por pertecerem ao Conselho de Admintracção da TPA, um órgão meramente político-partidário que depende de escolhas individuais do Titular do Poder Executivo – não devessem fazer jornalismo justamente para não serem, ao mesmo tempo, jogadores e árbitros.

Noutras alturas, esta entrevista ao presidente da República teria sido feita pelo Francisco Mendes ou pelo Paulo Julião, que sempre exerceram esta função. Positivamente, foi o director de informação que a fez. A Lei de Imprensa diz que o director de informação é jornalista em funções. Todos os que estão acima dele, no Conselho de Administração, não podem exercer ao mesmo tempo a profissão que não pode ter vínculos político-partidários.

Na RNA, por exemplo, a administradora de conteúdos Paula Simons continua a violar a lei ao exercer jornalismo ao mesmo tempo que é também parte do Conselho de Administração da RNA, que depende da vontade unilateral do presidente da República, o que se pressupõe nunca poder exercer um trabalho objectivo e isento pelo seu vínculo estreito com o presidente da República, por sinal o entrevistado. Portanto, Francisco Mendes merece aqui o meu positivo por terem cumprido a lei neste aspecto.

Um aspecto positivo de realce é o facto de eu ter observado várias reacções do público que usa as redes sociais a darem nota positiva a Nok Nogueira. É claro que muitos não têm a minha observação nos detalhes, mas vale sempre a pena ver o escrutínio do exercício jornalístico. É positivo que o público faça as suas avaliações, independentemente do conteúdo das suas opiniões. Nas redes sociais, é notória uma maior intervenção pública para se avaliar o desempenho de um jornalista. É muito positivo. Todos devem estar sob escrútinio público. Os jornalistas não são estrelas intocáveis.

O NEGATIVO

A assessoria de imprensa do presidente da República preparou mal essa entrevista. Não existe nenhum presidente do mundo que dê uma entrevista a órgãos de comunicação social sem ter um papel sequer para tirar “números” da sua gestão.

Ninguém presta contas – numa entrevista séria! – sem apresentar “números” do que se fez e do que vai ser feito até ao fim do mandato (2022).

Mais uma vez, o presidente da República não teve uma assesoria de comunicação e imprensa à altura. É por esta razão que João Lourenço teve de “não responder” à maior parte das perguntas do jornalista Nok Nogueira, um pouco também por uma atitude pouco profissional do referido jornalista.

Da maneira como a entrevista foi gravada e exibida, tudo leva a crer que se tratou apenas de um “marketing político” (amador) para enaltecer (endeusar) a figura de João Lourenço. Não é humanamente possível que, não sabendo que perguntas iriam ser feitas, o entrevistado não leve nenhuma “cábula” para dizer o que fez com dados precisos. Isto não existe num país normal. Este detalhe mostrou que a entrevista foi um mero “marketing político” (amador, repito) para se matar “o não gostei nada” dos cidadãos nos vários textos nas redes sociais.

João Lourenço terá percebido que a sua imagem terá ficado muito beliscada com o “não gostei” e, por isso, criou-se uma entrevista para mudar tendências de opinião. Esta pode ser considerada uma técnica de manipulação de massas. Não deve ser por mero acaso que a TPA foi escolhida no assunto. As imagens valem mais que mil palavras. Os senhores que trabalham em maketing e comunicação sabem disso.

Dou também uma nota negativa às “não respostas” do entrevistado João Lourenço. Há uma série de questões que um presidente da República – que estava na sua “casa de renda”, o Palácio da Cidade Alta – era obrigado a responder com dados precisos: situação do impacto das suas políticas na vida dos cidadãos. Deu uma mera opinião. Não apresentou números.

Sobre dívidas contraídas e situação de acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), deu uma mera opinião. Vendeu um peixe sem apresentar factos. Não conseguiu mostrar números.

Sobre uma possível revisão da Constituição, apresentou mera opinião. Não mostrou dados jurídicos para sustentar a sua ideia que apontasse ser falso que o presidente da República tenha poderes excessivos.

Sobre a revogação do acórdão 319/2013, deu uma mera opinião de quem pretende ficar no poder sem prestar contas a ninguém – não deve ser por acaso que deu entrevista sem nenhum número que mostrasse como está a gerir a coisa pública.

Sobre aumento de gastos com a segurança do PR, supostamente plasmados no OGE 2019 rectificado, deu uma mera opinião. Não apresentou dados do OGE que refutassem a “afirmação” de Nok Nogueira. Não devia ser afirmação. O jornalista não está ali para mostrar a sua opinião. Está ali para fazer perguntas concretas, claras e com dados (números) para apanhar uma possível contradição no discurso do político, que pretende estar sempre no poder.

Alias, João Lourenço, "inteligente" como é, chegou mesmo a dar um xeque-mate ao Nok Nogueira “Esta afirmação que faz eu não confirmo.”. O entrevistado usou uma técnica para mostrar que o jornalista estava a afirmar coisas sem ter domínio da matéria. E Nok Nogueira sentiu o impacto. Foi obrigado a fazer perguntas dizendo “desculpa por insistir na pergunta”.

Outro aspecto negativo: um jornalista não pode pedir “desculpas” por insistir numa pergunta. É sua missão perguntar. E a pergunta pode ser feita e rebatida de diversas formas. Ele tem de ser astuto: perguntar de outra forma para não parecer que está a insistir numa pergunta incómoda. É uma técnica válida expressa nos manuais de jornalismo. Cabe ao entrevistado responder ou não.

Se o entrevistado não responde, as pessoas avaliam as “não respostas” na mesma. Por exemplo, sobre a situação da saúde, estado dos hospitais públicos, João Lourenço deu uma mera opinião. Não mostrou nenhum número que apontasse que hoje há mais atendimentos aos pacientes do que no passado. Os dados estatísticos têm de fazer parte de discursos políticos num “julgamento” a um presidente da República.

Sobre a situação das escolas, carteiras, equipamentos, reforma educativa, etc., João Lourenço deu uma mera opinião. Não apresentou números de quantas carteiras conseguiu canalizar para as escolas, quantas crianças estão fora e dentro do sistema de ensino, não apresentou números que mostrassem uma eficiência e eficácia maior, eventualmente, na sua gestão, problemas ou não com a implementação da monodocência,etc. O presidente da República limitou-se a dar uma mera opinião eleitoralista.

Sobre a saída prematura de Álvaro Boavida Neto do cargo de secretário-geral do MPLA, não respondeu de forma directa, mas ficou provado – com a “não resposta” – que João Lourenço tem algum problema pessoal contra o seu antecessor José Eduardo dos Santos. Tentou mostrar que não, mas a expressão corporal comunicou. E tudo indica que quem defender JES vai sair do seu Governo: ditadura.

Há mais evidências de que João Lourenço terá uma agenda pessoal na sua gestão do país em detrimento de uma agenda plural para os cidadãos. Viu-se, no fundo, que até essa entrevista só foi dada para se fazer uma comparação pessoal com José Eduardo dos Santos – que nunca deu entrevistas a órgãos públicos de comunicação social, quando até não disse nada de novo.

Sobre alegadas nomeações no fim do mandato de JES, João Lourenço aproveitou, mais uma vez, para dar “xeque” ao entrevistador Nok Nogueira que não soube apresentar nenhum nome de tais nomeações, permitindo que o entrevistador passeasse toda a sua classe discursiva para atingir os seus objectivos eleitoralistas: continuar no poder.

Sobre o seu património pessoal versus transparência no passado nos diversos cargos que exerceu, foi a maior demonstração de que João Lourenço estará a contar com alguma “fraude” eleitoral. Não é normal que um cidadão que dependa do nosso voto diga que não quer comentar sobre a sua passagem ou não em bancos privados, a possibilidade de seu nome estar no escândalo do buraco financeiro que fez falir o Banco Espírito Santo Angola (BESA), se é, de facto, o maior latifundiário do país, como afirmara a jornalista Amélia de Aguiar, etc.

Não é normal que João Lourenço não esteja preocupado em mostrar publicamente como terá conseguido o seu património. Não faz sentido falar em combate à corrupção quando ele próprio não se refere ao seu caso pessoal.

Para moralizar a sociedade, o presidente da República deve explicações ao dono das riquezas do país. Quem ignora um dado relevante deste só pode ter a acerteza de que o nosso voto não o vai tirar do poder. Seria até ele a tentar justificar que sempre foi transparente na sua vida antes de chegar ao cargo de presidente da República. Foi muito negativa a arrogância demonstrada nesta questão. Indicia qualquer coisa estranha.

De uma forma geral, João Lourenço mostrou arrogância e falta de preparação para as perguntas dos jornalistas, chegando mesmo a não permitir, algumas vezes, que o jornalista rebatesse na questão, usando dizeres como “um minuto, estou a falar”. Quem estava a falar ali não é “chefe” do jornalista. É um prestador de serviços públicos. Pela lógica, o jornalista tem mais direito de interromper o entrevistado sempre que sentir que ele está a desviar-se da pergunta. Não é o entrevistado que deve dizer, de forma intimidatória “um minuto, estou a falar”.

Quem se prestou ser julgado numa entrevista tem de se submeter às perguntas dos juízes (os jornalistas) que estão na entrevista a representar interesses da maioria dos cidadãos contra quem só representa “um” cidadão, que pretende, até prova em contrário, continuar a ser presidente da República (interesse pessoal).

Foi negativa a forma como interrompeu várias vezes o jornalista Nok Nogueira, um pouco também, como já disse, pelo facto de o entrevistador não se ter preparado documentalmente para que tivesse conseguido guiar a entrevista de outra forma. O entrevistado João Lourenço foi mais astuto na actuação, mas prejudicou o serviço público e o interesse público. Não permitiu que o Novo Jornal pudesse ter sequer uma notícia de realce.

Sobre as Autarquias Locais, o presidente da República não acrescentou nada. Não se sabe se João Lourenço apoia o jurista Carlos Feijó – que defende gradualismo funcional, autarquias em todos os municípios em simultâneo - ou se defende a ideia de Adão de Almeida, outro jurista do seu MPLA, que defende gradualismo geográfico, autarquias só em alguns municípios seleccionaods a de dedo, violando a Constituição. O presidente da República não conseguiu mostrar a sua honestidade intelectual sobre este assunto, de capital importância para os angolanos a partir do próximo ano: 2020.

Sobre o processo do funeral de Savimbi, também ficou claro que a “não resposta” directa pretendia fugir a uma possibilidade de ter havido “jogo político” do próprio presidente da República para que o presidente da UNITA fosse bater a sua porta e ele sair vitorioso, como o salvador do funeral da UNITA.

Outros aspectos negativos marcaram a semana: a inauguração de empreendimentos na Huíla e exposição de fotos e imagens com crianças inocentes foi um “marketing político” muito baixo, do meu ponto de vista, na medida em que as escolas e os hospitais podiam ser inaugurados pelo governador provincial e pela ministra da Saúde. Não faz sentido que o outro que conseguiu mostrar resultados em pouco tempo na Huíla seja ofuscado pelo presidente da República.

Continua a haver usurpação de competências do presidente da República, que pretende, a todo o custo, em meu entender, fazer tudo, falar sobre tudo, não permitindo que os seus auxiliares, que estão mais próximos diariamente dos cidadãos e mais à vontade para falar sobre os diversos dossiês do Estado, tenham uma palavra a dizer. Penso até que devia mesmo ser proibido o aproveitamento político de imagens com crianças que ainda não têm um sentido crítico à altura para decidirem se podem ou não aparecer numa foto ou numa imagem de televisão com um candidato natural às eleições gerais de 2022.

Por outro lado, não ficou claro – os jornalistas não questionaram – sobre se o governador da Huíla está ou não a usar o seu dinheiro pessoal e as suas empresas na construção da imagem da Huíla e em que modalidades o Estado vai retribuir o seu esforço, que parece ser mais pessoal do propriamente de uma gestão profissional da coisa pública. João Lourenço devia explicar aos angolanos que tipo de “contrato” tem com o governador provincial da Huíla e se os termos de tal contrato não são lesivos ao Estado. É preciso ter-se muito cuidado com políticos que tentem mostrar um “eudeusamento” forçado à sua figura. Por trás disso, pode haver motivo para um bom “jornalismo de investigação”.

No negativo, os assessores de comunicação e imprensa do PR não tiveram o cuidado de explicar ao povo angolano e aos jornalistas que critérios terão usado para se dar uma “colectiva” só com a TPA e com, supostamente, o Novo Jornal. Supostamente, porque, por um lado, se a entrevista iria passar completa na TPA, o “Novo Jornal” que só sai em formato físico na sexta-feira – justamente uma semana depois – não iria fazer notícias com uma matéria que todo o o mundo já viu na TPA.

Não faz sentido que a entrevista tenha sido dada ao Novo Jornal. É falso. A entrevista foi dada à TPA, com a possibilidade de o jornalista Nok Nogueira poder também falar – completamente ignorado pelo entrevistado que não respondeu nada ao Nok Nogueira. Não faz sentido haver uma entrevista colectiva de órgãos que não têm a mesma divulgação. Um é diário e o outro é semanário. “Coitado” do Nok Nogueira “obrigado” a fazer um papel que não faz sentido para o jornal para o qual trabalha.

Perspectivo que o Novo Jornal não consiga escrever nada na próxima sexta-feira devido ao “formato” preparado, que mais soa a “marketing político” (amador). Não acredito que o NJ vá chover no molhado quando até o Jornal de Angola de hoje, domingo, já mostrou o “marketing político” a favor da imagem de João Lourenço.

É só ver que quem estampou uma manchete sobre a referida entrevista de João Lourenço foi o diário Jornal de Angola. Ou seja, um órgão que não participou nas perguntas e respostas – em termos práticos – é que acaba por publicitar um “golo” de uma matéria que não foi feita por si. E quem fez a matéria, o NJ, não vai conseguir fazer manchete com a referida entrevista. Recomendo, por isso, que o formato de entrevistas seja outro. As “colectivas” não estão a trazer “notícias”, de uma forma geral. É preciso que o presidente da República fale com base na necessidade (solicitação) dos órgãos e não com base na necessidade de se fazer “marketing político” da figura de João Lourenço.

Há também um negativo de realce de quase todos os órgãos públicos e privados de comunicação social: a forma como noticiaram as declarações de um responsável da Polícia Nacional, segundo as quais há “polícias fantasmas” na corporação, com o conhecimento do então Comandante-Geral da PN Ambrósio de Lemos. Mais uma vez os colegas esqueceram-se de um princípio sagrado: o direito à presunção de inocência.

Ninguém conseguiu ir à busca do contraditório – declarações de Ambrósio de Lemos, quando a pessoa em causa está em vida. Agora basta que qualquer pessoa diga algo em trubunal para se fazer notícia sem contraditório. Não é assim que vamos evoluir. Nunca se sabe quais as razões reais de o réu em causa estar a dizer isto. Tem problemas pessoais contra o antigo CGPN? Basta acusar-se alguém para ser notícia sem uso do contraditório? É este jornalismo que precisamos neste momento delicado de transição política no país? Não me parece que estejamos a fazer bom trabalho.

Tem havido muito sensacionalismo para que os órgãos de CS tenham níveis altos de audiência. Quem paga com isto é a Transparência. O jornalismo precisa de ter cuidado para não ser usado como instrumento de “vinganças pessoais” de quem hoje está na Cidade Alta. É preciso fazermos sempre uso do contraditório. Não devemos ser nós, jornalistas, a fazer julgamentos públicos, quando fazemos notícia, reportagem ou entrevistas. Este papel – juízo de valores dos que são acusados de alguma coisa – é do público que consome as nossas matérias. Não é nosso papel difamar ninguém. Quem quiser fazer opinião (pessoal) faz como eu.

Neste exercício, estou a dar uma opinião que vale o que vale. Não estou a fazer notícia, não estou a fazer reportagem, não estou a fazer entrevista. Estou a emitir uma opinião pessoal sobre as minhas observações individuais.

Quando eu estiver, um dia, no papel de jornalista, mudo o meu discurso. Devo dar a devida equidistância à matéria em relação às minhas convicções pessoais. Não é facil, mas é possível. Por isso é que, em qualquer parte de um mundo “normal”, um jornalista não é qualquer pessoa. Ele deve ter um compromisso com a verdade e com a equidistância político-partidária das organizações de poder.

Dou também uma nota negativa à TPA por, ao longo da semana passada, as peças relacionadas com a UNITA terem sido manipuladas. Quando se trata de peças relacionadas com a UNITA, a TPA continua a seleccionar "planos fechados" (linguagem técnica: são imagens que só mostram uma pequena parte de alguma actividade) que impedem o telespectador de ter uma ideia do número exacto de pessoas que estiveram numa determinada actividade. Isto é uma técnica de manipulação que se usa na edição das peças. A TPA sempre fez isto no tempo de José Eduardo dos Santos. Reparem que logo a seguir a TPA põe sempre uma peça relacionada com o MPLA, o partido opositor, com "planos abertos" (linguagem técnica: imagens que mostram um campo aberto de uma determinada actividade) para que o telespectador tenha a percepção de que no MPLA há milhões e na UNITA há apenas algumas pessoas. Voltou a acontecer há pouco no Telejornal. E reparem que as peças relacionadas com a UNITA nunca passam de um minuto. Podem contar. Controlem. Sabem por que eles usam esta técnica de manipulação? É o seguinte: em televisão, uma imagem vale mais que mil palavras. O telespectador grava mais facilmente uma imagem no cérebro do que mil palavras de quem fala em televisão. Eles sabem disso. Continua a haver violação à Constituição e à Lei de Imprensa.

Com a cobertura das jornadas parlamentares do MPLA na Lunda-Norte, o tratamento foi claramente diferenciado. Promoveu-se a imagem da vice-presidente do MPLA Luísa Damião em detrimento da imagem do vice-presidente da UNITA Raúl Danda, com técnicas de manipulação de massas, puníveis por lei.

O desempenho de Mateus Gonçalves no Magazine Informativo da LAC, às 19h, marca negativamente a semana também. Mateus Gonçalves, ao entrevistar o comentador desportivo Manecas Leitão, cometeu o mesmo erro de Nok Nogueira: mostrou opiniões pessoais para que o comentador confirmasse a sua ideia.

É preciso que os jovens jornalistas não se pautem por más práticas. Eu próprio, Carlos Alberto, estou aqui a emitir uma opinião (pessoal). Mas se eu estiver a exercer a profissão, a fazer entrevista a João Lourenço, ou a outros entrevistados, devo ter o cuidado de “fazer perguntas” directas e claras. O meu papel – enquanto entrevistador – é buscar dados de realce. Não sou eu que devo dar dados para ser notícia. Os meus dados factuais só podem servir para se fazer a pergunta. Não podem servir para se fazer afirmações. Quem afirma é o entrevistado. Não é o entrevistador.

Em programas desportivos apresentados também pelo jornalista Mateus Gonçalves e João Armando, vemos várias vezes os entrevistadores (moderadores) a emitir a sua opinião, esperando que os outros só confirmem. Isto não é jornalismo sério. Os pivôs, os moderadores, os apresentadores, os entrevistadores não têm o papel de opinar. Têm o papel de fazer perguntas diversificadas – muitas vezes contra as suas próprias convicções pessoais. Ninguém é neutro. É verdade, mas o jornalista tem de fazer um esforço para ser isento. Ser isento é conseguir sair da sua opinião pessoal para apresentar a opinião dos outros. O papel do jornalista é servir. Não é auto-servir-se.

O melhor jornalista é aquele que consegue marcar golo: trazer ao público dados relevantes e inéditos, dos quais se não fosse a sua perícia, ninguém saberia.

Numa moderação ou apresentação, como a do Mateus Gonçalves na LAC, faz-se entrevistas. As regras são universais. Para mais dados, sugiro a leitura de “O Segredo de Joe Gould” de Joseph Mitchel. Mitchel, de acordo com o que aprendi em “Técnicas e Géneros Jornalísticos” na Universidade Metodista de Angola (UMA), foi considerado um dos maiores construtores de perfis jornalísticos do século XX.

Carlos Alberto
30.06.2019