Luanda - Associar os conceitos de “Intervenção” e “integrado” a um plano concreto de investimentos é algo de muito motivador e que deixa regozijado qualquer intelectual preocupado com o futuro do nosso Pais. De facto, é inegável que os diferentes “Programas de Investimentos Públicos” (PIPs) que têm feito parte do orçamento de estado ao longo dos últimos anos, geraram enormes “Elefantes Brancos” e centenas de edifícios construídos ou instalações inacabadas que nunca serviram os objectivos para que foram concebidos, para além de "objecto" de inauguração numa data festiva qualquer.

Fonte: Facebook

Gestores de projectos e especialistas em desenvolvimento facilmente reconhecem que tais Projectos de Investimento Publico não foram elaborados de uma forma “integrada” e os seus planos e orçamentos não têm em conta as necessidades operacionais, consequentemente não se prepararam as pessoas capazes de gerir e conduzir tais projectos. Não se “interveio” para que tais Investimentos operassem eficazmente.


Tomei contacto recentemente com o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) do Cuanza Sul. Enquanto residente na Província, devo referir que não tive conhecimento de qualquer iniciativa visando a discussão de tais planos com representantes das comunidades.


Por outro lado, a relação dos diferentes projectos e os valores afectos aos mesmos, deixam-nos preocupados. Não vemos como podemos chamar a tais listagens de projectos, como acções de intervenção e muito menos Intervenções integradas.


De facto, eu penso que o problema mais importante e de maior dificuldade de resolução que pesa sobre este executivo é o desemprego. A falta de trabalho para os milhares de jovens e adolescentes que saíram ou que se preparam para deixar as escolas em breve, é uma autêntica bomba relógio que cresce exponencialmente.
De que vale construir uma escola se as famílias das áreas beneficiárias, não têm recursos para alimentar, comprar lápis e cadernos ou roupa e calçados para o aluno.


Para quê construir um Posto médico se os beneficiários não têm acesso a uma alimentação de quantidade aceitável e diversificada.


Reparar uma estrada de terra batida, sem assegurar o seu uso e a sua constante manutenção é como fazer castelos de areia à beira mar. Fica bem na fotografia, mas desaparece ao fim de algumas ondas.


O desemprego, a falta de trabalho remunerado por períodos de tempo razoáveis, é um enorme impedimento à estabilização da nossa sociedade e um factor de desconcerto das comunidades e famílias.

O conceito de “intervenção integrada” mesmo em projectos ou actividades pequenas tem de ser visto sempre segundo duas perspectivas: 1º. Como gerador de benefícios directos e de qualidade para os destinatários. 2º Como gerador de fonte de trabalho e emprego para os locais.


Para levar a cabo uma “intervenção integrada” na área da educação por exemplo, não é suficiente “Construção de Escolas Primárias no Município de XYZ”. Quem como nós trabalha no interior, não pode ficar indiferente à quantidade de professores e alunos que povoam as estradas à espera de boleia em horas que deveriam estar dentro da sala de aulas. Construir a escola apenas, não resolve esse problema. Como se vai resolver as questões da merenda escolar dessa escola? Quem e como se vai resolver os problemas de abastecimento de água, de saneamento de energia da escola? Como se pode fazer uma horta ou um jardim ou mesmo equipa-la com um campo de jogos? Como podemos assegurar que os professores dessa escola sejam regularmente actualizados e inspeccionados?


Hoje, no século XXI, trabalho e emprego já não se confundem com conceitos como “mão de obra”. As empresas já não precisam de “operários não especializados” e mesmo as funções de “segurança” que dão emprego a milhares de angolanos, estão a ser substituídas por novas soluções tecnológicas que exigem pessoal de maior capacidade técnica. Como podemos iniciar nas novas tecnologias os jovens e adolescentes que irão frequentar tais escolas?


Uma abordagem mais integrada e mais interventiva poderia ser feita comunicando com as comunidades, valorizando o muito que já existe, mas não está a funcionar bem.


Poderíamos deixar a construção de novas escolas e novos postos médicos para o Orçamento Geral do Estado e orientar as verbas do PIMM para verdadeiras acções de Integração, rentabilização, operacionalização, manutenção de forma a aumentar a qualidade do trabalho e o nº de empregos locais.


As reflexões que aqui fazemos para as escolas podiam ser feitas para os “Centros de Saúde” ou para as “Estradas Terciárias”. A desilusão é a mesma.


Afinal o PIIN vai voltar a ser a mesma coisa. Muita obra para inaugurar em datas importantes, apenas…….

Luanda, 04 de Julho

Rui Lopes “Macau”