Luanda - No tempo de José Eduardo dos Santos, vimos muitos jornalistas a brilhar e que continuam a "brilhar" até hoje. Vimos muitos jornalistas a ganharem prémios de jornalismo. Vimos muitos jornalistas a dizerem categoricamente que eram militantes do MPLA e que José Eduardo dos Santos era o melhor que Angola podia ter. Vimos muitos jornalistas conceituados a dizer que jornalista que não quisesse seguir a "linha editorial" de um determinado órgão tinha de ir arranjar emprego noutro lado.

Fonte: Club-k.net


Lembro-me de ter visto e ouvido várias vezes, em palestras, seminários e actividades sobre a Liberdade de Imprensa, que os jornalistas, nas redacções, eram obrigados a respeitar "o patrão"! E quem era "o patrão"? José Eduardo dos Santos, presidente da República, na altura. E quem são as pessoas que diziam isto? Os mesmos que hoje desempenham cargos de direcção e chefia nos diversos órgãos públicos e privados de comunicação social.


José Eduardo dos Santos saiu da política activa. João Lourenço entrou com um discurso de ruptura com o passado e os mesmos jornalistas, os mesmos directores dos diversos órgãos públicos e privados de comunicação social, os mesmos repórteres, os mesmos apresentadores, os mesmos directores de Informação, os mesmos gestores de conteúdos, os mesmos chefes de Redacção, etc., justamente as mesmas pessoas - com raras excepções -, hoje já falam mal de José Eduardo dos Santos e dos filhos - incluindo o tipo de jornalismo que eles próprios faziam e ajudavam a promover - tudo porque o "novo patrão" alterou o discurso.


Hoje o "novo patrão" quer mostrar que tudo o que foi do outro, seu antecessor, foi negativo.

E os jornalistas, que também fizeram parte da maldade do passado, estão aí, sem vergonha na cara, a compactuar que o "antigo patrão" é que era o mau da fita, e que eles eram "santos", mesmo sem pertencerem à família "dos Santos".

Mas, afinal, onde esteve a ética e deontologia profissional destes jornalistas? Onde esteve o compromisso com a verdade? Qual era a verdadeira "linha editorial" que se apregoava tanto?

Quantas vezes vimos jornalistas a fazer campanha para o MPLA no tempo de José Eduardo dos Santos? Quantas vezes vimos o mesmo apresentador do Telejornal acabar de apresentar o Telejornal para apresentar, minutos depois, no mesmo canal, na mesma televisão, um programa de campanha do MPLA a mostrar que Angola crescia todos os dias e que era o melhor país do mundo?


Quantas vezes vimos jornalistas a serem expulsos, programas a serem extintos nas rádios e televisões, sem nenhuma explicação aos ouvintes nem aos telespectadores, jornais privados a serem comprados pelo sistema, etc.?


Quem foram os que abriram o peito para mostrar a sua insatisfação pelo que estava a acontecer? São os que estão hoje a fazer jornalismo? A resposta é não.
Fala-se mal do jornalismo do passado. E eu pergunto: os órgãos públicos já conseguem fazer jornalismo de investigação para mostrar uma eventual má gestão de algum dirigente do actual Executivo? Já conseguem fazer jornalismo de investigação para mostrar razões de muitas contradições no discurso e na postura do presidente da República João Lourenço?
Há muitos directores de órgãos e jornalistas que andam por aí hoje a falar mal do passado que nunca fizeram nada para mudar o tal passado. Pelo contrário, sempre foram coniventes com o que se passava a olhos nus. Muita gente questionava onde andavam os jornalistas (escravos da VERDADE dos factos).


Na nossa classe jornalística, sabemos quem são os que sempre foram íntegros. São poucos. Estão aí. Conhecemos aqueles que arranjaram makas nas redacções, os que foram discriminados, os que foram presos, os que tiveram sempre processo-crime em curso, os que estavam nas redacções mas não eram tidos nem achados por causa das suas posições, aqueles que têm convicções próprias acima do salário que recebiam/recebem, os que foram expulsos das redacções, os que abandonaram a profissão por não aceitarem compactuar com a maldade, etc.


Os que sempre promoveram a maldade, as mesmas pessoas, hoje têm coragem de achar que são autoridade moral para a sociedade e para os mais novos jornalistas? Têm coragem de abrir a boca para criticar o tempo de José Eduardo dos Santos? Compactuaram com a maldade para hoje vir criticar o passado? E se não tivesse havido um João Lourenço?


Vocês, os directores, chefes de Redacção e jornalistas de ocasião, não têm autoridade moral sobre mim. Não foram exemplo para este país. Deixaram morrer muitos compatriotas nossos sem nada fazer para mudar. Não conseguiram ajudar José Eduardo dos Santos a ter um destino melhor. E hoje estão a fazer exactamente o mesmo com João Lourenço. Um jornalista que não defende a VERDADE e a JUSTIÇA acima do seus interesses pessoais é qualquer coisa menos jornalista.

Carlos Alberto
12.07.2019