Toronto  - A crise da democracia que se vive actualmente em Angola assemelha-se com a crise da democracia constatada na Europa com o fim da 1ª Guerra Mundial. Tudo “parecia que a democracia liberal se ia impor em todos os países da Europa. Na realidade, porém, vamos assistir a um processo precisamente divergente.”


Fonte: Club-k.net

O grito no silêncio & 27 de Maio de 1977

É assim, que depois 1ª Guerra Mundial, por toda a Europa, surgem os movimentos políticos de extrema-direita favoráveis ao autoritarismo, isto é, os movimentos políticos que atacavam o parlamentarismo democrático e propunham soluções ditatoriais. A vaga autoritária, embora mais intensa na Itália e na Alemanha, estendeu-se a muitos outros países europeus. Dados palpáveis concluem que a proliferação dos movimentos de extrema-direita explica-se pelas condições económicas e sociais do período entre as duas guerras - A crise de 1929 e triunfo, em 1917, da revolução soviética.


Portanto, no contexto Angolano a crise da democracia intensifica-se logo após o descarrilamento da ideologia “comunista” na Rússia. Esperava-se uma transição mais “suave” -partido único para multipartidarismo- tendo como base  os acontecimentos no continente velho.


Em contraste, no início dos anos 90 Angola mergulha-se numa crise infernal que trouxe em primeira mão as memórias vividas no 27 de Maio de 1977. 


Desta forma, o ponto abaixo enumerado será a tese em análise nesta exposição por ser a premissa básica em democracia:

 - Medo, desconfiança ao próximo e incerteza reprime a população em aderir abertamente em actos sociopolíticos e inclusive culturais que contrariassem o regime no poder. 


I . Pânico e Opressão

Urge ser feita uma delimitação concisa das reacções psicológicas -voluntarias ou involuntárias- numa sociedade na qual os parâmetros de “análise da democracia” é acima de tudo medida por aspectos de terror como foi o 27 de Maio de 1977:

a) São unânimes os estudos científicos ao concluírem que ao se fazer a repressão a população dá-se a ela a denominação de guerra subversiva;

b) Dar à população a sensação de que há uma guerra e que portanto é justo que toda ela deva ser mobilizada;

c) Ao se conceituar de ‘guerra’ a luta contra a subversão se está dizendo que todos os meios de combate a ela são lícitos, isto é, a tortura, assassinato, delação etc;

d) Rotular as análises opostas como “consciência da frustração” concebida em complicar a consecução das tarefas;  

e) Valorizar o trabalho dos que se dedicam a estas funções em diversos domínios;


Rodrigo de Souza Costa, na obra jurídica intitulada “REVISTA DO DIREITO”, conclui que o uso da força tem como objectivo de “semear a sensação de terror na mente das pessoas” com o propósito agravante de, através do estado de pânico “tentar-se a legitimação de uma série de atitudes que, de maneira inequívoca, constituem severas violações aos mais básicos direitos do homem”.


É assim, que desde o massacre do 27 de Maio a população angolana foi doutrinada com o refrão “Che menino não fala politica” interpretado por Valdemar Bastos. E na mesma óptica analítica os dados revelaram que “Pensar e ter opinião são privilégios dos poderosos” em países que atravessam crises na democracia, tal como argumentou recentemente o jornalista e analista político angolano Ismael Mateus. Vale lembrar igualmente que a gíria popular “Neste país há filhos de primeira e filhos de segunda” readaptada pelo jornalista Graça Campos, no artigo intitulado “Um caso extraordinário”, é outra característica que descreve a crise da democracia em Angola.


As diferentes técnicas de opressão psicológicas especificadas na alínea (I), não ocorrem em circunstâncias involuntárias ou por mero acaso. São cuidadosamente e atempadamente delineados desde a sua pré-apresentacão até a execução. Como nota de exemplo:

1 - A inclusão de Welvitchia dos Santos Pêgo, ‹‹Tchizé››, na lista de deputados do MPLA, foi antecipada com slogans durante a campanha eleitoral com os dizeres que  “ o MPLA apostará  na nova geração e novos quadros”.

2 - A proposta das eleições “atípicas” sugeridas pelo presidente Angolano vem de um processo de preparação a longo prazo. Mas antes da sua execução e propagação geral passou por diferentes fases;

3 - O novo Bilhete de Identidade, na qual esta incluído os rostos do actual e passado presidente do MPLA, filosoficamente tem um significado: O culto da personalidade que literariamente define-se como “uma estratégia de propaganda política baseada na exaltação das virtudes - reais e/ou supostas - do governante, bem como da divulgação positivista de sua figura.” “Um dos maiores cultos à personalidade de todos os tempos foi à Josef Stalin na União Soviética, retratos de Stalin eram sempre colocados ao lado de outros símbolos comunistas, por exemplo, na parada desportiva anual de Moscou, retratos enormes de Stalin e outros líderes soviéticos eram usados. Stalin era chamado pelo Pravda de Vodge (Líder em russo), e deveria ser admirado pelo povo.


Sobre os pontos acima citados, refugiou-me uma vez mas no depoimento do analista politico Ismael Mateus quando diz que "O MPLA nos enganou a todos", no artigo intitulado “MPLA premeditou o golpe baixo”.

 

O pintor Emeric Marcier, um dos idealistas contemporaneos sobre “mentira como estratégia política” concluiu:

- No plano coletivo, a mentira não é gratuita;

- Apenas o que é hábito se faz norma, às vezes até transformada em lei;

- Quando Hitler ou Mussolini queriam provocar um comportamento nas massas, criavam uma mentira que, batida e rebatida, tornava-se “verdade”. Assim nos levaram à guerra;

- A verdade liberta. A mentira oprime;

- Sendo o fascismo essencialmente mentiroso, tanto em política quanto em estética, a falsidade é assimilada pela Nação, que se torna, toda ela, artificial e promocional.


Assim sendo, “qualquer semelhança com Angola de hoje não é mera coincidência”, porque os críticos da matéria provaram cientificamente que em política tudo é atempadamente delineado.


A diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas perfeitamente obedientes. O terror, como o conhecemos hoje, ataca sem provocação preliminar, e suas vítimas são inocentes até mesmo do ponto de vista do perseguidor”.


Ao realizar comparação entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado categoricamente conclui-se que “nos dias actuais tais práticas também não constituem monopólio de ditaduras, fazendo-se claramente presentes na actuação de governos supostamente democráticos.”


É evidente que, que a Crise da democracia em Angola é suportada por todos os angolanos, inclusive os residentes na diáspora porque somos todos “analfabetos, sem uma convicção segura e acima de tudo corruptos”.


Portanto, para concluir a exposição realço que o nosso grito no silêncio tem causado exonerações, detenções isoladas e inclusive mortes súbitas mas sem proporcionar mudanças significativas no processo democrático. Como solução seria conveniente reconhecer que os angolanos no seu todo são “analfabetos, sem uma convicção segura e acima de tudo corruptos”.


-- Nota: Consulte --
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Referências
- Página Jurídica - "Revista do Direito"
- Terrorismo: uma abordagem crítica
- Rodrigo de Souza Costa
- Clementiono Heitor
- Wikipedia
- Ismael Mateus -“Pensar e ter opinião são privilégios dos poderosos”
- Graça Campos -“Um caso extraordinário”
- Ecclesia - "Cara de JES no novo Bilhete de Identidade"