Luanda - O despacho datado de 29 de Julho de 2019 da Sra Ministra do Ensino Superior Maria do Rosário Sambo, veio dar resposta ao Decreto Presidencial no67/19 de 22 de Fevereiro que aprova o envio anual de 300 licenciados e mestres para as melhores universidades do mundo.

Fonte: Club-k.net

A ideia do programa é boa, pois o país precisa estar representado nas mais altas academias e centros do saber intelectual de modos a termos quadros altamente qualificados capazes de dar resposta aos mega desafios que o país enfrenta no campo económico e social.


Este programa por sua vez, pode ser visto como uma faca de dois gumes, ou seja, um lado positivo e outro negativo. O lado positivo reside no facto dos ganhos que o país pode obter com a formação de quadros altamente qualificado, caso os critérios de selecção sejam baseados na transparência, rigor, honestidade e sobretudo com um plano de criação de condições para inserção dos mesmos no mercado de trabalho ou centros de pesquisa científica no momento do regresso ao país. Deste modo valerá apenas o investimento que poderá elevar o nome de Angola nos rankings internacionais do saber.

O lado negativo reside no facto do programa poder servir como forma de corrupção, fuga de divisas e outros males que estamos a tentar combater. Negativo se o critério de selecção for baseado no familiarismo, amiguismo, nepotismo, militância política, padrinhos e filhinhos de papai e sobretudo se não houver um plano eficiente de inserção dos quadros no mercado de trabalho ou centros de pesquisa científica no regresso ao país, o que representará insucessos do programa por falta de seriedade dos nossos dirigentes e consequentemente a fuga de cérebro tal como tem vindo a acontecer infelizmente.


O programa de envio de estudante para formação no exterior do país já vem de longa data, iniciou com o primeiro presidente Agostinho Neto logo após a independência, numa altura em que o país precisava formar quadros para os desafios da época. Com a morte do presidente Neto em 1979, José Eduardo dos Santos deu continuidade ao programa. O programa formou muitos quadros que hoje dirigem o país. Porém, vale lembar que a maior parte dos quadros era formado em países assentes em modelos Marxista-Leninista baseada numa teoria com forte ênfase ao partido governante e pouca visão do mundo capitalista ocidental... Daí a ideia ainda patente de Partido Controlador e suas consequências para o país. Eu particularmente também tive a oportunidade de beneficiar através do Ministério da Energia e Águas de uma formação técnica especializada para Rússia, um país considerado o epicentro do Leninismo. E a formação seguida de inserção foi de grande valia uma vez que muitos de nós assume hoje cargo de responsabilidade no sector elétrico.


Todo programa de formação , deve estar aliado à um plano de inserção para evitar frustrações e fuga de cérebros, pois em nada adianta formar quadros nas melhores universidade do mundo se ao regressar ao pais não encontram condições para pôr em prática o que se aprendeu, tudo por culpa de indivíduos sem visão intelectual e espírito patriótico.


Países como a China, Índia, Coreia do Sul , Japão etc, também adoptaram programas de envio de estudantes para melhores universidades do mundo ocidental e hoje colhem os frutos do investimento. Esses países criaram um forte programa de inserção dos quadros formados com remuneração atrativa e todos participam ativamente com suas ideias no crescimento económico de seus países.

Angola por sua vez, só colherá bons frutos desse programa se o mesmo for encarado com seriedade, transparência, rigor e sem fortes interferências políticas.

FERNANDO MANUEL CARIANGO

Economista