Lisboa - 1 . Estudo habilitado sobre o assunto da impopularidade interna de José Eduardo dos Santos (JES) aponta a reputação  “controversa” da família presidencial, em especial alguns filhos, como uma das causas do fenómeno; outras, a saturação decorrente da sua longevidade política e o ónus da imagem de ineficácia/venalidade associada ao regime.
 

Fonte: AM

Ónus da “família” na popularidade interna de JES - Pesquisa e análise

O documento também relaciona o aumento da impopularidade de JES com o desaparecimento de Jonas Savimbi, antigo líder da UNITA, no passado convertido em “bode expiatório” de percalços do regime. O bem estar da população não melhorou o suficiente para manter o argumento do “belicismo” da UNITA como causa dos males do país. 
 

A imagem menos benigna de alguns dos filhos de JES é alimentada, entre outras razões, por constantes notícias e rumores sobre operações de expansão dos seus negócios – no país e estrangeiro. Todos são ainda jovens e, na suposição de que nenhum era detentor de património ou fortuna, especula-se acerca da atitude de JES em relação ao assunto.       
 

Outro rumores mal aceites sugerem que os negócios das filhas de JES no estrangeiro são usualmente titulados por entidades sediadas em offshores. Não se entende que, pelo menos  Isabel Santos, envolvida que está em negócios mais volumosos, não tenha até agora criado uma estrutura institucional de carácter empresarial ou um fundo específico. 
 

Há indicações segundo as quais o “vácuo” institucional/empresarial referenciado nos negócios de Isabel Santos tem sido motivo de hesitações da parte de potenciais parceiros estrangeiros sondados para o efeito. A conclusão mais corrente é a de que a credibilidade externa de Angola não tira proveito de tal realidade. 
 

O caso da Sonangol é apontado como exemplo do contrário. O prestígio da companhia  propiciou a sua internacionalização e desta colhe benefícios que revertem a favor da sua respeitabilidade e do país. A selecção da  Sonangol como principal instrumento de internacionalização da economia de Angola foi influenciada por esta lógica.
 

Uma irmã de JES, Marta Santos, também é abrangida, embora menos, nas críticas que “a família”, conforme termo convencionado, suscita em meios internos do próprio regime. Além de Isabel Santos, os outros  filhos de JES abrangidos nas críticas são Tchizé Santos e José Paulino dos Santos (ambos a expandir interesses nos media).
 

2 . As repercussões negativas que se deduz que as filhas de JES projectam no pai contemplam particularidades adicionais como o facto de ambas terem casado com estrangeiros e de não terem uma relação harmoniosa entre si – em razão de alegadas susceptibilidades mútuas e disputas. 
 

Em meios restritos especula-se que a vida familiar de JES com sua esposa, Ana Paula Santos, é perturbada por algumas “discrepâncias”,  na origem das quais estão questões relacionadas com filhos do PR. As especulações costumam ser acompanhadas de detalhes de difícil verificação. 
 

3 . Nos últimos tempos têm surgido conjecturas segundo as quais Isabel Santos desempenha agora a sua vida empresarial com autonomia suficiente para definir e impor os seus próprios interesses. Com o tempo,  terá adquirido importância patrimonial e experiência que lhe permitiram passar a agir por sua conta e risco.
 

As suas posições que num passado recente assumiu em relação à Cimangola e Unitel são consideradas elucidativas de que segue na sua acção de empresária uma linha pelo menos não coincidente com sensibilidades do pai:

- Na  Cimangola forçou a saída da  Teixeira Duarte para impor a entrada de Américo Amorim, ao qual se associou na holding Ciminvest; a Teixeira Duarte, passa por ser uma empresa pela qual JES tem antiga simpatia; a seguir impôs o afastamento de um gestor da empresa (oriundo da JMPLA), indicado por JES.
 
- Na Unitel mantém antiga oposição a um aumento da participação da PT para mais dos  30%; em  2007 vetou a nomeação de um administrador-delegado proposto pela PT,  Briosa e Gala. 
 

JES não terá apreciado a atitude da filha em relação à  Teixeira Duarte, apesar das vantagens financeiras que esta colheu com a sua saída da Cimangola. Do mesmo modo  também lhe terá desagradado o veto em relação a Briosa e Gala, uma figura próxima de Durão Barroso, personalidade cuja amizade cultiva.
 

A reserva em relação ao grau de autenticidade destas atitudes de Isabel Santos como demonstração de que gere com plena autonomia as suas empresas e participações,  é a de que é do seu interesse, e eventualmente de  JES, promover uma tal ideia de autonomia, caso a realidade concreta não seja exactamente essa.