Lisboa - Um futuro ditador que ajudou um outro a subir ao poder antes de o trair. Ou um cozinheiro e campeão de pesos pesados de boxe que se transformou num “wild man” que matava “racional e calmamente”. E outro, ainda, que esteve 30 anos no poder e permitiu todo o tipo de atrocidades por parte dos militares contra o seu povo, ação que recebeu depois da ONU o rótulo de “genocídio”. Robert Mugabe, que morreu nesta sexta-feira, está longe de ser caso único numa longa lista de tiranos em África

Fonte: Expresso

Golpes de Estado, violência, repressão, cacetadas na economia e nos direitos humanos, guerras, traições, excentricidades e longos reinados. No dia em que Robert Mugabe, herói e ditador de Zimbabwe, morreu, o Expresso conta a história de dez ditadores africanos.


Robert Mugabe - Zimbabwe (1980-2017)

O ex-Presidente do Zimbabué morreu esta sexta-feira aos 95 anos. Esteve 37 anos no poder, cadeira da qual saiu em 2017 após um anúncio de golpe de Estado operado pelos militares. No dia do adeus, o sucessor, Emmerson Mnangagwa referiu-se a Mugabe como “ícone da libertação” daquele país.

Robert Mugabe, filho de um carpinteiro e de uma professora, nasceu em 1924 na Rodésia, o nome dado ao Zimbabwe pelos invasores àquela colónia britânica. Em 1964, ciente das injustiças e a fervilhar por outros ventos, a sua voz incomodou os governantes daquele território e foi preso. Esteve mais uma década em cativeiro sem direito a um julgamento. A BBC conta que, enquanto ainda estava preso, foi convidado para liderar o partido Zanu (Zimbabwe African National Union). Em liberdade, orquestrou depois várias investidas de guerrilhas na ainda Rodésia. Mais tarde, vestindo a pele de hábil negociador, ajudou a garantir o acordo para a libertação daquele território foi garantido e assim foi garantida a independência da República do Zimbabwe. Ganhou a primeira eleição presidencial em 1980.

Se, em tempos idos, até esteve ligado à evolução do acesso à educação e cuidados de saúde para a população, Mugabe transformou-se num ditador, opressor e violento. Tal como a revista “Time” colocou na altura, quatro anos após a independência, Mugabe pretendia que aquele Estado tivesse apenas um partido marxista. A redistribuição do território ficou pautada por corrupção e violência.

Em 2007, por exemplo, a sua liderança traduzia-se em 1700% de inflação, 80% de desemprego e uma esperança média de vida nos 35 anos, aquele que era o pior indicador no mundo inteiro. O dinheiro era inútil. E a repressão caminhava de mão dada com a miséria. Quando, em 2008, perdeu as eleições para Morgan Tsvangirai, exigiu uma recontagem, foram mortos opositores, forçou o recuo do líder da oposição e, depois, acordou uma liderança partilhada, algo que nunca aconteceria.

Afinal, disse algures em 2008: “Só Deus que me nomeou vai remover-me”. No seu 85.º aniversário, por exemplo, a alucinação ligada ao poder e, quem sabe, à noção de finitude levou-o a gastar qualquer coisa como 225 mil euros na festa de anos. O ano passado, diz a CNN, terá gastado mais de 700 mil euros na celebração do seu nascimento, numa localidade onde imperava a miséria, em seca e com falta de alimentos.


Idi Amin - Uganda (1917-1979)

Na edição de março de 1977, a revista “Time” rotulou-o como “The wild man of Africa”. Idi Amin, um militar popular que na juventude até se sagrou campeão de pesos pesados de boxe (também revelava aptidão na natação e râguebi), conduziu os destinos do Uganda entre 1971 e 1979. Depois de agarrar o poder após um golpe de Estado contra o Presidente Milton Obote, montou um regime brutal que respirava repressão, assinando inúmeros crimes contra a humanidade.

Amin nasceu em Kokobo, em 1925. Fez-se homem pela via militar, onde começou como cozinheiro, e ofereceu a si próprio a presidência daquele país. Matou e torturou mais de 200 mil cidadãos daquele país africano (outras fontes revelam que este número pode ir até 300 mil mortes). Agarrou-se ao poder, expulsou dezenas de milhares de asiáticos, destruiu a economia do Uganda, canalizou verbas que faziam o país andar para dar músculo ao corpo militar. O “Washington Post” diz que instituiu um reino de terror. As barbaridades que dizia, com pitadas de rídiculo, seduziram de alguma maneira a comunidade internacional, como que ridicularizando, amansando a imagem de ditador implacável e assassino. Em privado, disse em algum momento desta história o ex-procurador-geral daquele país, era relaxado, cordial, até encantador, mas não passava de “uma fachada”, pois aquele “wild man” se tratava de um verdadeiro “manipulador”. Mais: “Matava racional e calmamente”.

O “carniceiro do Uganda”, como lhe chama este artigo do site “Biography”, tentou invadir a Tanzânia, em 1978, com um golpe de Estado em mente. Segundo o “Post”, 3000 soldados do Uganda plantaram o terror na província de Kagera, executando civis, destruindo propriedades e matando animais. A resposta do exército da Tanzânia, um ano depois, com a ajuda de alguns exilados do Uganda, colocou um ponto final no reinado de Amin. E o ditador, com as quatro mulheres, 30 amantes e 20 filhos, fugiu para a Líbia. Após confusão entre os seus guarda-costas e as forças líbias, voltou a fazer as malas e desta vez mudou-se para a Arábia Saudita, onde morreria em 2016.


José Eduardo dos Santos - Angola (1979-2018)

Estudou Engenharia Petrolífera na ‘amiga’ União Soviética, regressou em 1970, fez parte da guerrilha como especialista em comunicações, liderou o MPLA, sucedeu a Agostinho Neto, implementou uma ditadura socialista, criou condições para eternizar o seu mandato, sobreviveu à guerra civil no país que durou até 2002, enriqueceu, decidiu, governou e afastou-se, finalmente, em 2018. Quase quatro décadas no poder. De acordo com este perfil da “Sábado”, Eduardo dos Santos deixou 40% da população angolana na miséria e terá terminado a aventura governativa com uma fortuna avaliada em 18,5 mil milhões de euros.

O “New York Times”, na altura que anunciou que não se candidatava a novo mandato presidencial, colocou-o na gaveta de Teodoro Mbasogo, o líder da Guiné Equatorial, e de Robert Mugabe, que ainda era Presidente do Zimbabué. “Africa is home to several so-called leaders for life”. Ou seja, aquele continente era a terra prometida que pisca o olho a mandatos vitalícios, qual realeza à força.

Essa terra vivia em agonia com as desigualdades brutais entre população e a elite do país, que observava indiferente às violações dos direitos humanos. Quanto a mortalidade infantil, era então um dos pesadelos na Terra: uma em cada cinco crianças não chegava ao quinto aniversário. A corrupção era e é outro flagelo. A falta de condições básicas para uma vida digna, como acesso a serviços de saúde ou a eletricidade, por exemplo, chocavam e chocam de frente com a riqueza da família dos Santos.


Omar al-Bashir - Sudão (1989-2019)

Esteve 30 anos no poder. Caiu como o agarrou: através de um golpe de Estado. O seu poder foi elevado, ao ponto de sobreviver a mandados de detenção do Tribunal Internacional de Haia, acusações de genocídio e crimes de guerra, sanções, à ideia de permitir massacres e violações de civis por parte do exército, guerra e a consensual condenação da comunidade internacional, conta este artigo do “Washington Post”.

Darfur, no sul do Sudão, marca esta história. Em 2003, rebeldes viraram-se contra o Governo de al-Bashir, alegando que eram tratados como cidadãos de segunda categoria pelo facto de não serem muçulmanos. Os janjaweed, as milícias apoiadas pela capital, esmagaram os intentos daquela franja da população, semeando um clima de terror. O sangue viu a luz do dia e acredita-se que tenham sido mortas mais de 350 mil pessoas naquele conflito, que terá obrigado ainda à deslocação de milhões de pessoas.

A ONU documentou o caso, alertou, denunciou e verbalizou as mortes em massa, as violações e as atrocidades feitas contra civis - em 2004, tratou de chamar ‘genocídio’ ao que se passava em Darfur. Mais tarde, em 2009, o Tribunal Internacional de Haia emitiu contra al-Bashir um mandado de detenção por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Em 2011, a secessão do Sudão do Sul traduziu-se também na perda de três quartos da produção de petróleo, conta este artigo do jornal “O Globo”. À indigente economia, esmifrada ainda mais pelas sanções dos Estados Unidos, juntaram-se quatro meses de protestos, após o Governo fechar a torneira nos subsídios que mantinham controlados os preços do pão e combustíveis. Al-Bashir, que chegou a ser acusado de apoiar o terrorismo internacional e de dar abrigo a Osama bin Laden, não resistiu ao movimento popular, apesar de decretar o estado de emergência para conter as marchas contra ele, e os militares forçaram-no a cair.


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Hosni Mubarak - Egipto (1981-2011)

Answar Sadat liderava o país quando foi assassinado por fundamentalistas islâmicos, em 1981. Hosni Mubarak, então vice-presidente, foi chamado para governar o Egipto. Mais uma vez, África testemunhou a implementação de uma ditadura militar musculada, com episódios de corrupção e feroz repressão contra os que não estavam do mesmo lado da história.

Mubarak nasceu em Kafr-el Meselha, Minufiya, em 1928. Estudou na Academia Militar do Egito e juntou-se à Força Aérea, no início dos anos 50, onde começou a trabalhar como instrutor de voo, conta este artigo da CNN. Vinte anos depois, conquistou um cargo de destaque na Força Aérea, a que juntou a cadeira de ministro-adjunto no Ministério da Guerra. Em 1975, já era vice-presidente do país. Em 14 outubro de 1981, sucedeu ao Presidente Sadat, assassinado numa parada militar.

Mubarak seria reeleito para o cargo quatro vezes, até que a ‘Primavera Árabe’, com epicentro na Tunísia, contagiou aquele país, com ativistas a reunirem-se na Praça Tahrir, gritando contra a corrupção, injustiça e, por consequência, pela demissão do governante. Em fevereiro de 2011, um mês depois do início das manifestações, o Presidente egípcio cedeu e renunciou ao cargo.

Então com 84 anos, Mubarak ficou à mercê da justiça daquele país, com acusações de crimes de corrupção e envolvimento na morte de mais de 800 manifestantes durante a ‘Primavera Árabe’. Depois de condenações, recursos e recuos e condenações, Hosni Mubarak foi libertado em março de 2017, conta este artigo da Al Jazeera.


Teodoro Obiang Nguema Mbasogo - Guiné Equitorial (1979-...)

Sacudiu o tio do trono através de um sangrento golpe de estado. Francisco Macías Nguema, fuzilado um mês depois do golpe, foi sucedido por Teodoro Mbasogo, em 1979. O novo governante transformou aquele país num que o glorifica, nem que seja à força. Ou, como se costuma dizer, implementou um regime com o culto da personalidade do seu líder.

É o governante há mais tempo no poder em África (e no mundo), conta este artigo da “Forbes” sobre os cinco piores líderes daquele continente - os outros quatro são José Eduardo dos Santos, Robert Mugabe, o Rei Mswati III da Suazilândia e Omar al-Bashir.

Apesar de ser um país rico em petróleo e com bons indicadores no que toca ao PIB, explica aquela revista, essa saúde dos cofres nacionais não se refletem na vida da população. A água potável é uma miragem para uma grande parte dos habitantes. Tal como Angola, a Guiné Equatorial também regista valores drásticos no que toca à mortalidade de crianças com menos de cinco anos (20%). A maioria dos restantes 80% não tem acesso a uma educação adequada e acesso a hospitais. De acordo com a Forbes, o filho, Teodorin Obiang, que já recebeu o carimbo para o seu futuro (presidente do país, diz o pai), vai vivendo uma vida de luxo, gastando milhões, respeitando uma religião chamada hedonismo.

Em agosto, Mbasogo celebrou o 40.º aniversário no poder daquela ex-colónia espanhola, conta este artigo do jornal “O Globo”. A sua fortuna pessoal está avaliada em mais de 540 milhões de euros. “É um ditador clássico”, disse àquele periódico o jornalista e professor da PUC-Rio, informando que aquele governante ganhou as eleições sempre com mais de 90% dos votos. “Ele controla a situação e asfixia a oposição”, explica Alexandre Santos. “Mudou a Constituição pelo menos duas vezes para concentrar mais poder. Perseguiu e matou opositores. Concentra poder político e financeiro e, assim, mantém a classe política domesticada. Compra influência e condescendência de outros países por causa dos petrodólares.”

A porta-voz da Amnistia Internacional para a África Ocidental esboçou o mesmo cenário e, ao mesmo jornal, falou em medo, “pela impunidade das violações de direitos humanos e abusos, incluindo a prisão de ativistas e opositores políticos por acusações forjadas”.

 

Rei Mswati III - Suazilândia (1983-...)

Em abril de 2018 quis mudar o nome do país para eSwatini, revelando assim uma intenção de afastar aquele território dos tempos de colónia britânica. Uma viagem ao histórico de notícias do “New York Times” sobre o Rei Mswati III da Suazilândia revela o teor da governação: pedidos de governação por parte do povo, ruas em ebulição, polícia a bloquear protestos, as extravagâncias da família real: o rei tem 13 mulheres e oferece-lhes palácios e carros BMW, originando manifestações; o país tinha, em 2004, a maior taxa de infeção por SIDA do mundo, segundo a ONU. Para contrariar esta tendência, o rei disse à população, em 2001, para não ter relações sexuais durante cinco anos; e ainda a história da detenção e despedimento de um jornalista por cobrir um casamento real.

De acordo com a “Forbes”, a esperança média de vida da Suazilândia era, em 2012, de 33 anos, a mais baixa do mundo. Quase 70% da população vive com menos de um dólar por dia e cerca de 40% estava desempregada. Naquela altura, o declínio económico estava em marcha, e por isso foi pedida ajuda à África do Sul.

Com mais de 60 irmãos, este monarca ganhou o título de príncipe de Makhosetive. Aos 14 anos, perdeu o pai e só poderia suceder-lhe com 21 anos de idade, em 1986, mas esta história não seguiu os contornos normais e ele acabaria por sentar-se no trono logo com 18 anos, conta o portal Britannica. Foi o líder mais novo do mundo naquela altura.

Com uma governação salpicada pelos excessos, luxo, corrupção e precariedade da população, o rei Mswati propôs uma abordagem democrata na renovação da Constituição. Os ventos de mudança e de esperança inverteram o sentido de marcha quando se soube, em 2003, que o esboço previa mais poder para o rei e o desaparecimento dos partidos da oposição. A resolução passou assinar um documento que não bania os partidos mas também que não os reconhecia.

 

Muammar Kadhafi - Líbia (1969-2011)

Mais uma vítima da ‘Primavera Árabe’, que acabou de uma maneira mais drástica e pouco digna: Muammar Khadafi foi exibido triunfalmente pelo povo, nas ruas de Trípoli, como se fosse um qualquer animal descartável. Mais tarde, foi assassinado pela ira popular, sedenta de uma mudança no país.

Como tantos outros ditadores africanos, chegou ao poder através de um violento golpe de Estado. Aconteceu no primeiro dia de setembro de 1969: o anúncio surgiu numa rádio local, conta este artigo do “Al Araby”. Quem liderava o exército era um tal de Kadhafi. Tinha 27 anos e acabava de encurtar a história de um rei da Líbia, que estava numa visita à Turquia para um tratamento médico. “A partir de agora, a Líbia deverá ser livre e soberana”, disse ao povo, deixando para trás tempos de corrupção e retrocessos sociais.

Como tantos outros ditadores africanos, montou uma ditadura musculada, matando aqueles que não cheiravam as mesmas flores. Ou seja, dando uma cambalhota no verbo, os opositores. “Esta proclamação de Kadhafi”, escreve o “Al Araby”, “marcou o início de uma das mais estranhas e excêntricas ditaduras que o mundo já viu”.

Este artigo do Expresso fala em algumas excentricidades do ditador, nomeadamente de uma das suas casas, com piscinas interiores, carros de luxo, pornografia gay e fotografias de Condoleezza Rice, uma alegada crush.

Mais tarde, ficou a saber-se que tinha uma fortuna avaliada em 180 mil milhões de euros, assim como ficaram destapados os seus abusos a mulheres e homens, que eram forçados a entrar no seu harém. Um documentário, aqui citado pela BBC, contou alguns “segredos mórbidos” daquele governante, entre eles o relato de uma ex-guarda-costas sobre o dia em que foram assistir à execução de 17 estudantes. “Eles não foram enforcados, foram mortos a tiros. Recebemos ordens para aplaudir.”

A revolução levada a cabo por Muammar Kadhafi em 1969 celebrou no domingo o 50.º aniversário. Este artigo do “The Wire” faz um retrato ao golpe e à Líbia, um país que é um labirinto.



Idriss Déby - Chade (1990-...)

Chegou ao poder, derrubando Hissène Habré em 1990, com o apoio da Líbia de Khadafi. Ditador por ditador com ajuda de um ditador. O regime manteve-se autoritário.

Déby juntou-se ao exército no início dos anos 70, quando o país ainda se arrastava numa longa guerra civil, conta o “Britannica”. Aprendeu a voar com outra afinação em França e voltou à casa de partida em 1978. E ganhou a confiança de Hissène Habré, ajudando a ganhar o poder em 1982. Tido como um militar brilhante, foi nomeado responsável das forças armadas daquele país.

A relação arrefeceu e começaram os rumores de uma eventual traição. Déby escapou à detenção e fugiu para o Sudão, onde magicou a machadada fatal. Começou por atacar as tropas do Chade, a partir de Darfur, no Sudão. Em 1990, Hissène Habré fugiu do país, a capital N’Djamena caiu e Déby assumiu o poder. Habré esteve oito anos como Presidente e terá matado mais de 40 mil opositores e torturado 200 mil pessoas.

Entre a repressão e os traços de uma típica ditadura, Déby mudou a Constituição e ganhou a possibilidade de governar até 2033. Mas, conta este artigo da publicação “The Economist”, o ditador estará a sentir dificuldades em manter o poder imaculado. Apesar de estar há quase 30 anos num cargo para o qual não foi eleito, as ligações diplomáticas parecem legitimar a sua posição. A França enviou ajuda militar para combater mercenários que atacaram no norte do país. De acordo com o “Africa News”, a França já evitara a queda do ditador, em 2008, quando travou rebeldes que estavam prestes a tomar o palácio presidencial, em N’Djamena.


Zine Ben Ali - Tunísia (1989-2011)

Foi o primeiro a cair na ‘Primavera Árabe’, em 2011. Um ano depois, foi condenado a prisão perpétua pela sangrenta repressão em Thala e Kasserine, o palco da revolução, que culminou com a morte de 22 manifestantes. Zine Ben Ali, que ainda não passou qualquer dia na prisão, chegou ao poder daquele país em 1989 depois de um golpe de Estado.

Ben Ali liderou a Tunísia durante 23 anos com pulso de ferro, acabando também ele por mudar a Constituição, para se eternizar na cadeira do poder. Segundo este artigo do “G1”, a comunidade internacional foi menos implacável com este ditador pois acreditavam que ele podia colocar um travão nos avanços muçulmanos, optando apenas por censurar a pobre democracia e as violações dos direitos humanos.

Tinha amigos na política em Washington e Paris, contava a “Time”, em 2011. Mas uma taxa de desemprego elevada, eleições fraudulentas e a repressão levaram Mohamed Bouazizi, um vendedor de rua, a imolar-se, incendiando os ânimos e começando a revolução. Ben Ali acabaria por fugir para a Arábia Saudita.

Em maio, numa carta partilhada pelo seu advogado, Ben Ali revelou ao seu povo que está bem de saúde e em segurança. O ditador revelou que seguia a situação do país e pediu aos tunisianos para defenderem a Tunísia - “Salvem o país da crise económica”. Aos 82 anos, assegurou: “Acreditem, eu vou voltar, se Deus quiser”.