Luanda - Numa altura em que a primeira universidade pública (Agostinho Neto) carece de infra- estruturas básicas para o seu funcionamento normal, e os investigadores clamam pelo uso racional do fundo do petróleo destinado à investigação científica, novas revelações apontam para o descaminho de verbas avultadas para a aquisição de viaturas. Adquiridas com o dinheiro do fundo do petróleo, a vivenda e as viaturas passaram a propriedade da actual ministra do Ensino Superior e Inovação, Maria do Rosário Sambo, dos seus antigos vices reitores e do actual reitor interino da Universidade Agostinho Neto.

*Livangue Manuel
Fonte: Club-k.net

VIVENDA E CARROS COMPRADOS PELA UAN

A vivenda n.o A63, localizada no Condomínio Cuchi, comprada em 2015 para a então reitora da UAN, e as viaturas (Toyota Land Cruizer V8 LD-82-93-Gs, Toyota Land Cruizer V8 LD-82-95-GS, Toyota Land Cruizer V8 82-92-GS, Toyota Land Cruizer V8 LD-82-94-GS, Ford Ranger Cabine Dupla – LD- 73-04-GR, Toyota Hilux Cabina dupla LD-25-53-FR, Toyota Hilux Cabina dupla LD-42-94-GG; Toyota Hilux Cabina dupla LD-43-01-GG) nunca chegaram a ser registadas como património da UAN.


A fonte do Club-K, que se mostrou indignada com o facto atentatório ao pensamento político do actual Presidente da República, desafia a IGAE (Inspecção Geral da Administração do Estado) e à PGR (Procuradoria Geral de Estado) a aprofundarem a investigação sobre esta denúncia que envolve uma ministra a perverter a ética e a lei.


Em Maio desde ano, a permanência da ministra do Ensino Superior, Tecnologia e Inovação, Maria do Rosário Sambo, foi considerada como um factor de instabilidade no sector que ela dirige desde Outubro de 2017, sob o manto de usurpação e concentração de poderes. Gestores, docentes e funcionários ligados a várias instituições do Ensino Superior manifestaram num texto publicado neste espaço a sua estupefacção por que, apesar de várias informações nada abonatórias sobre a pessoa de Maria Sambo, ela continuar à frente de um sector considerado dianteiro.


Numa altura em que a mentalidade do Chefe do Executivo está focada na descentralização e desconcentração de poderes, a médica, ao serviço do ensino, luta ainda pela concentração de atribuições das IES, “porque a senhora confunde, de forma primária, tutela administrativa com patronato”, desabafou.


Os exames de acesso que, mesmo quando reitora, foram geridos pelas universidades, hoje esta tarefa passou a ser uma incumbência do Ministério. Aliás, na Universidade Agostinho, antes de ela ser reitora, vinda de Benguela, o processo de admissão era gerido pelas unidades orgânicas. Depois de ela chegar à reitoria, chamou para o seu gabinete essa incumbência. Agora, levou-a também ao Ministério. Adivinha-se a intenção.


Depois da louca ideia, de levar à reforma todos os docentes que atinjam os 60 anos de idade, Maria Sambo também chamou para si a avaliação da carreira de docentes, decidindo quem deve ascender ou não. Esta tarefa, em nenhum momento, deveria passar para um departamento ministerial do Executivo, sendo a avaliação da idoneidade científica e académica da responsabilidade das próprias instituições do Ensino Superior.


No mesmo artigo, chegou a denunciar vingança passional que ela protagonizou contra o seu antigo marido. Maria Sambo travou, pessoalmente, o Doutor Eduardo Sambo, de ascender a professor catedrático, depois de uma carreira docente de mais de 35 anos – de monitor a professor associado. (Nota: a ministra e Eduardo Sambo estão separados, mas não estão legalmente divorciados). Por tabela, levou o melhor amigo de Eduardo Sambo, o Doutor Carlos Burity. Aos dois, a senhora ministra pediu clarificação de carreira e alegou o facto de serem ambos comissários da Polícia Nacional como factor impeditivo.


No ano passado, cada um deles candidatou-se à promoção para a categoria de professor catedrático, tendo estado há já 20 anos como professores associados, com requisitos bastantes para a transição.


Os júris foram nomeados e as provas públicas foram realizadas, nos termos da lei. Contudo, quando a Reitoria da UAN encaminhou os dossiers para o Ministério de tutela, os dois processos foram retidos.

 

Docentes de várias instituições manifestam o seu descontentamento pela forma como está a ser dirigido o ensino Superior, imploram que o MPLA tome uma posição contra a médica que está a colocar em xeque as boas intenções do Presidente da República.


“As unidades orgânicas estão mergulhadas numa desolação sem precedente, que se tornaram num espaço de lamento dos docentes e alunos que vêem tudo em regressão. Com ela à cabeça da instituição, adivinha-se o fracasso do Executivo na matéria de formação de quadros e do fomento da investigação científica”, vaticina a fonte visivelmente agastada com a situação.


Um dos exemplos citados pela fonte, como reflexo de alguém que não entende nada da academia, é o facto de as candidaturas às bolsas de estudo para doutoramento nas melhores universidades do mundo terem limitado a idade aos 35 anos.


“É simplesmente arrepiante. Até em países onde reina estabilidade política e económica há séculos, esta restrição soaria à má-fé. As universidades angolanas estão cheias de bons docentes que seriam mais valiam para a investigação e o ensino se, mesmo aos 50 anos, lhes fosse dada a oportunidade de fazer um doutoramento”.

Vários universitários de renome disseram que o silêncio das instituições do ensino superior nesta matéria deve-se à solidariedade com a política do Presidente da República que aposta na juventude, mas não se trata de uma aceitação aos critérios estabelecidos do Ministério de tutela. “Em nenhum momento, as instituições do sector foram ouvidas sobre esta matéria. Foi uma simples imposição da ministra e a sua ‘entourage’”, disse um dos gestores universitários que apela para que, no próximo ano, haja uma reflexão séria sobre a matéria.