Luanda - O Projecto Aldeia Camela Amões localizado no município do Cachiungo, província do Huambo, é da iniciativa do Grupo Asas, liderado pelo empresário Segunda Amões. Este projecto integrado prevê a construção até 2025 de 2.500 casas sociais de qualidade extraordinariamente invulgares em Angola. O ambicioso projecto está planificado para ser implementado numa área com uma extensão de cerca de 40 mil hectares.

Fonte: Club-k.net

O projecto inclui, entre outras, actividades agrícolas, pecuária, indústria, exploração florestal, ecoturismo e uma reserva natural de animais da província.


A Camela Amões dispõe de escolas para ensino, centros médicos e outros equipamentos sociais, empregando cerca de 600 pessoas maioritariamente jovem, numa primeira fase.


O projecto iniciado em 2014 é uma revitalização da Aldeia Camela Amões fundada por Prata Camela Amões, em 20 de Fevereiro de 1910.


Localizado em Cachiungo, um pequeno povoado de cerca de 12 mil habitantes que se dedicam, essencialmente, ao cultivo da batata rena e doce, feijão, milho, mandioca, ginguba, hortícolas e ocupam-se, igualmente, da criação de gado bovino e caprino.


Para gáudio do seu promotor, a Aldeia Camela Amões recebeu em Junho do corrente ano uma distinção de mérito na Cimeira Global de Comércio e Investimento em África, realizada em Washington D.C, EUA.
Este magnífico projecto rural, saído do gênio angolano, unindo a tradição da história e os avanços técnicos da actualidade, merecem os nossos efusivos aplausos.


Devemos, por isso, felicitar o Grupo Asas e o seu líder, Segunda Amões pela brilhante iniciativa. Recebem também a nossa vénia todos os que abraçaram o projecto, especialmente os habitantes do Cachiungo.

Aqui trazidos, é o momento de questionar: com um exemplo soberbo como este é ou não possível combatermos as assimetrias regionais ?

Este projecto é de iniciativa privada e não é de todo aconselhável uma replicagem fiel deste modelo a todas as aldeias do país por causa da diversidade cultural existente em Angola.


Todavia, o exemplo é válido e a ideia central pode ser capturada pelo Estado e por privados para moldarem outros projectos rurais sustentáveis.


Sendo um projecto de integração comunitária, a Camela Amões promove a sustentabilidade e as suas características inelutáveis para o desenvolvimento podem inspirar outros projectos para as demais aldeias do interior de Angola, noutros formatos de modo a atender as peculiaridades de cada região.
Tomemos o exemplo vindo do Cachiungo pelas mãos dos Amões, linhagem de comerciantes forjados na causa do seu povo e imbuídos do espírito de missão do bem fazer comunitário.


Esta família intrépida, que passa de geração em geração o testemunho e o legado do negócio comercial de braço dado com o bem comum, é um verdadeiro caso de estudo.


É nesta altura que convocamos o Estado, ainda omnipresente em Angola para fazer a sua parte.
No passado recente, o Estado fez “elefantes brancos”: aldeia nova e fazenda da quiminha, só para citar estes maus exemplos , onde centenas de milhões de dólares americanos foram “queimados” sem aparente retorno.


Porém, as lições extraídas destas aventuras no meio rural são resumidamente as seguintes: o Estado não fez a integração concertada das comunidades nos referidos projectos, por um lado, e, por outro, a dimensão gigantescas dos mesmos toldaram a sua efectivação exitosa.


Com isso, fica provado que são os projectos que envolvem a comunidade, calculadamente dimensionados e na base da sustentabilidade local que resultam no interior do país.


Portanto , no âmbito do processo de institucionalização do poder local em curso, que vai, num primeiro momento, desembocar na implementação das Autarquias Locais, deve o Estado considerar projectos desta natureza para superar às enormes assimetrias regionais prevalecentes em Angola.


A Camela Amões é somente o ponto de partida, um paradigma de integração comunitária, cuja ideia central pode ser aproveitada para incentivar outras iniciativas públicas ou privadas para beneficiar as demais regiões do país, atendendo as especialidades das mesmas.


O Projecto Camela Amões, que merece o reconhecimento de utilidade pública por parte do Estado angolano ( desde que a sua promoção e execução passa ser feita por uma fundação, por exemplo), é um estupendo alfobre, um ensaio bem conseguido de economia de escala onde se encandeiam as actividades num complemento quase harmónico previamente selecionados. Os mini-clusters de empregabilidade alavancam a economia local, qual sinfonia de uma orquestra filarmónica com uma partitura em actuação.


A escala musical vai ganhado ritmo e a melodia que nos chega do Huambo é agradabilíssima de se ouvir.


Já não são os meninos do Huambo de Manuel Rui Monteiro a volta da fogueira que nos dão lições de vida e de liberdade, mas são os habitantes de Cachiungo e o bem benemérito Segunda Amões que colocam tão eficazmente pedras nos alicerces de Angola.


No fim do dia teremos integração regional, diminuição das assimetrias regiões, economia de escala com seus mini cluster, mais emprego e o desenvolvimento local sustentado num extraordinário melhoramento da qualidade de vida dos cidadãos.

Saimos desta narrativa em Umbundu para homenagear a língua e a religião dos pioneiros deste projecto que marca a diferença e assinala uma nova era de pensar e fazer o País: “ Ukwene nda ofehã ove liseya momo ngolo la ngolo ka calisokele”: este provérbio popular tem o seguinte sentido que não é tradução literal; “ faça as coisas dentro das tuas possibilidades e oportunidades que a vida te oferecer”. É precisamente o que os Amões e o povo do Cachiungo estão a fazer no Huambo...
Posto isto, mais não digo..