Luanda - Muitos dizem que só escrevemos para desencorajar o "grande esforço" do Presidente da República de Angola João Lourenço em pretender melhorar o nível de vida dos angolanos. O que não admitem é que temos o direito de olhar para João Lourenço com os nossos olhos. Não somos obrigados a escrever com os olhos dos "autorizados a opinar". E somos daqueles que acham que nas redes sociais até fazemos um escrutínio mais eficaz sobre o desempenho do Executivo que o de muitos órgãos de comunicação social, viciados em manipular a informação para manipular a opinião pública.

Fonte: Club-k.net

Eu sou dos que não acreditam em "boas vontades" de João Lourenço por razões óbvias. Os meus leitores leram uma série de artigos ao longo destes dois anos de mandato de João Lourenço. Não pretendo fazer aqui um resumo do que já escrevi como principais males do Governo de João Lourenço.


Para além da contínua manipulação da informação nos órgãos públicos, para se ter, a todo o custo, uma percepção de que o país está a evoluir com João Lourenço - e mostrei aqui casos concretos que sustentam a minha tese da contínua manipulação da informação nos órgãos públicos, a desfavor de partidos políticos concorrentes do MPLA, é só ver qual foi o balanço dos dois anos de mandato de João Lourenço na Televisão Pública de Angola (TPA) que numa linha disse "ainda é cedo para avaliar", a mesma linha que usou quando João Lourenço fez um ano de mandato, o que não deixa de ser curioso -, sou dos que olham para João Lourenço, hoje, mais como um caixeiro-viajante preocupado em retirar mais dinheiro dos cofres do Estado para custear as suas viagens, deixando de investir em sectores prioritários que podiam ajudar a evitar mortes prematuras de angolanos, do que em governar Angola com variáveis científicas.


Se as viagens, ao menos, trouxessem resultados concretos que servissem de melhoria para o aumento da qualidade de vida dos angolanos, podíamos até pensar que se trata de um investimento com retorno a dobrar. Talvez até pudéssemos, nesta altura, fazer contas da taxa de juro, a favor do Estado, do dinheiro que João Lourenço usou em todas as viagens que fez nestes dois anos de mandato para aferirmos se o seu "balanço viajal" é ou não positivo.


O grande problema é que nós não temos todas as variáveis desta equação para analisarmos resultados concretos. Temos equações com várias incógnitas que nos impossibilitam obter resultados que estivessem dentro do conjunto de números naturais, mesmo que tivéssemos de recorrer a fórmulas de levantamentos de indeterminações.


João Lourenço, neste aspecto, preferiu adoptar o mesmo (mau) estilo do seu antecessor: negociar, em nome de Angola, nas viagens que faz, sem prestar contas aos donos da riqueza: o povo angolano. O Presidente da República faz acordos, em nome de Angola, sem prestar contas ao povo angolano sobre que tipo de contrapartida Angola tem com tais contratos. Este é um dos grandes males da sua governação. Já disse que não vou fazer um resumo de outros males que já apontei noutros artigos.
Outro grande mal, ligado à prestação de contas, é que João Lourenço insiste, até hoje, em não nos dizer quanto (dinheiro) e o quê (património de Angola) conseguiu arrecadar no seu combate à corrupção.


O que a imprensa nos mostra só são julgamentos de figuras ligadas ao Governo de José Eduardo dos Santos. Não nos mostra o mais importante: o resultado concreto dos julgamentos - o nosso dinheiro recuperado.


Ouve-se, lê-se, por aí que a Procuradoria-Geral da República (PGR) recuperou mais de 100 milhões de dólares norte-americanos. Será verdade? Se sim, aonde foi este dinheiro? É papel da PGR guardar dinheiro recuperado? Ouve-se, lê-se por aí que o Banco Nacional de Angola (BNA) recebeu, no repatriamento voluntário de capitais, acima de 100 mil milhões de dólares que estavam fora de Angola. É verdade? Se sim, aonde foi este dinheiro? Por que não entra nas nossas contas públicas?
A grande pergunta é: por que não se faz um balanço do "combate à corrupção", para além dos publicitados julgamentos que vemos na televisão? Por que o Titular do Poder Executivo não nos mostra o dinheiro e bens recuperados - se até nos pertence! - e nos diga onde vai aplicá-los, fora do que está estipulado no Orçamento-Geral do Estado (OGE)?


Como vamos acreditar num político que hasteou uma bandeira de combate à corrupção quando pode estar a tirar dinheiro do bolso de alguns para pôr no bolso de outros do mesmo MPLA, culpado de todas as nossas desgraças do passado?


Espero que João Lourenço tenha coragem de me responder, fazendo um verdadeiro balanço dos seus dois anos de mandato como Presidente da República e que desta vez nos apresente números. O balanço da TPA é um verdadeiro embuste. Queremos balanços sérios. Queremos entrevistas profundas. Queremos prestação de contas. Queremos balanços de custo-benefício neste combate à corrupção. Queremos saber até que ponto João Lourenço já cumpriu o que prometeu no programa de governação 2017-2022 do MPLA. Precisamos de ver se estamos diante de um político que promete e cumpre e se pode merecer a nossa confiança em 2022.


O povo angolano quer prestação de contas não quer possibilidade de falar na TPA ou na RNA, como sinal de maior "liberdade de expressão". Isto é um verdadeiro embuste.


Um gestor público é avaliado na prestação de contas. Fora disso, são politiquices para enganar o eleitorado.

Carlos Alberto (in facebook)
Pela Liberdade de Expressão
28.09.2019