Luanda - Não conhecemos os nubentes em causa – o recurso ao plural é uma mera questão de cortesia – e pelo sentimento não pretendemos conhecer, aliás, no momento em que estiveram “no alto da montanha” não o fizemos, não será agora que a montanha se moveu e veio para “de baixo dela” que o faremos.

Fonte: CK

Apesar disso, sabemos, quase todos que navegamos nessas lides, que fim-de-semana findo a conservatória de Luanda registou nos seus livros mais um casamento. Um grande casamento que, para muitos, é o mais luxuoso do ano, pelo menos dos realizados no solo pátrio!


De seguida e na nossa “lavra comum” (redes sociais e nas conversas de corredor) vieram as cobras e os lagartos, pedras e pedradas, mensagens hodiernas e missivas no formato tradicional, sob protesto de prodigalidade de recursos, por parte dos intervenientes (Presidente da Assembleia Nacional, Presidente da República e o General Dino), enquanto pessoas próximas ao casal, como apuramos de fontes normalmente bem informadas.

Reiterando a crítica subtil, os detratores do aludido luxo estabelecem paralelismo entre o valor monetário do bolo exposto, a ornamentação do cenário todo, os trajes dos principais personagens com a fome e seca no Sul de Angola bem como a carestia de vida generalizada no País!


Manifestaram, finalmente, arrependimento da confiança depositada ao pelouro governativo e, por conseguinte, semeiam ódio e tédio contra aquele.


Visto e ajuizado, surpreende-nos o nível de debate, da discussão que muitos, incluindo “letrados” participam e promovem por manifesta assonância, formando uma opinião pública completamente inquinada e envenenada, pois, entendemos que as sociedades desde os primórdios à hodiernidade, nunca foram/são constituídas em paridade.


Aliás, quem estudou ciências sociais, na globalidade, sabe ou deveria saber que o famigerado princípio de igualdade não tem atendimento literal. Por isso, existe a igualdade de facto e de direito, se tivermos que olhar para algumas ciências jurídicas; igualdade vertical e horizontal; igualdade material e formal etc!


Ou seja, se por natureza jurídica “todos são iguais perante a Constituição e a Lei”, isto mesmo determina a Constituição da República de Angola, artº 23º só para exemplificar, na prática, o Ministro, Deputado, Governador, General e outros não têm o mesmo tratamento nas matérias criminais, por exemplo, pois em função das imunidades, previstas por uma Lei, até o órgão de instrução difere do pacato cidadão.

Se interpretada essa noção de “igualdade não igual” e considerando os gastos feitos versos figuras envolvidas, parece-nos irreflectido, despropositado o volume de críticas feitas, na tendência de que o momento que se vive, no País, entenda-se, de crise, seja impróprio para promover um casamento ou outro acto qualquer com alguma luxuosidade…

Chegados aqui, há que colocar nesta temática a ideia de que, na verdade, com ou sem crise, a vida dos cidadãos num Estado concreto nunca, mas nunca mesmo, será igual. É assim aqui, na China, India e no Malta, porquanto uns por questões naturais têm e terão mais recursos do que outros e, por isso, o seu nível de vida será diferente. Ou seja, ão de comer, beber, vestir, andar e viver melhor do que outros que têm pouco ou quase nada!


Um Presidente da Assembleia Nacional, como é o caso de Nandó, pai da noiva, por sinal o único angolano que já ocupou todas as funções de maior relevo no País, faltando a de Presidente da República, não pode realizar um casamento como se de um Vasco da Gama – eu, no caso, Coque Mukuta, nosso colega da VOA, ou Nito Alves, nosso amigo – se tratasse.


Outro dado que não nos podemos esquecer é que embora em tese as funções públicas tenham como fim último a satisfação do interesse público, na prática, um Deputado não é nenhum “escoteiro”, servente do próprio salário, que está no parlamento a trabalhar para no final andar a distribuir o seu rendimento aos que pouco ou nada têm.


Aliás, o salário do Deputado, Ministro ou outro dirigente político qualquer serve, basicamente, para acudir situações da sua vida familiar, já que têm, também, família. O dirigente político não é nenhuma AJAPRAZ, ou Programa Alimentar Mundial, PAM, das Nações Unidas cuja finalidade é a altruísmo.


Dirão, alguns, que o capital acumulado é resultante de desvios ao erário público. Pois é, mas não fomos capazes de impedir e estes acumularam tais recursos pelo que não se pode proibir que os gastem como eles quiserem. É, em nosso entender, uma opinião pública que não pode vincar, pois fica uma ideia de que quem anda de um bom carro, come boa carne deve ser visto como o inimigo do pobre.

Na sociedade quer pobres quer ricos existem e existirão. Não é possível construir uma sociedade em que todos tenham o mesmo nível de vida ou tenham casamentos iguais ou aos “ricos” sejam aplicadas regras de como devem viver...


E mais, não podemos construir uma sociedade em que até o que se come, como vestir, que corte de cabelo fazer tem que depender da vontade popular ou da maioria, mesmo que a moral, o decoro, a ética e a religião sejam chamados.


Devemos promover a cultura de que quem tem deve usufruir da sua riqueza e se há dúvidas sobre a origem desta riqueza devem ser despoletados processos investigativos e de inquérito para se apurar a verdade dos factos. Mas, não podemos, de forma alguma, impor regras de usufruto do suor das pessoas como se a liberdade que defendemos não seja uma realidade aos que têm.

É com esta tese que, efectivamente, defendemos o CASAMENTO DA FILHA DE “NANDÓ” E APRESENTAMOS, AGORA, A NOSSA CENSURA AOS SEUS CRÍTICOS que pululam um pouco pelas redes sociais, pois nada diz que tal casamento foi realizado com dinheiro público colocado à sua guarda..