Lisboa – A luso-guineense Joacine Katar Moreira foi eleita para a Assembleia da República portuguesa, no domingo passado (6), representando o partido Livre. Joacine tem sido apresentada por alguma imprensa como sendo a primeira negra a chegar a deputada neste país europeu, um dado que agora está a ser debatida. De acordo com pesquisas, a primeira negra a se tornar deputada a Assembleia Nacional de Portugal foi, na verdade, uma cidadã angolana Sinclética Soares dos Santos, há mais de 45 anos.

Fonte: Club-k.net

"Defendia que se devia distinguir a toxicomania dos consumos tradicionais"

Natural de Luanda, Sinclética Soares dos Santos Torres foi eleita pela primeira vez em 1965 como representante parlamentar em Lisboa, da então província de Angola. Perdeu a nacionalidade portuguesa em 1975 por não ser branca, conforme determinação de um decreto assinado pelo então ministro do ultramar, Almeida Santos (PS).


Sinclética Santos Torres faleceu em Luanda, aos 10 de Novembro de 2009, aos 81 anos de idade. Era Licenciada em historia pela Universidade do Porto.

 

Uma analise do site “Poligrafo”, assinada por Fernandes Esteves, faz uma analogia lembrando que “É preciso recuar até 24 de Abril de 1974 para encontrar Sinclética Soares Santos, deputada por Angola que se notabilizou pelas suas intervenções sobre o consumo de drogas em Angola – a cronista Helena Matos descreve a sua actividade num ensaio publicado no "Observador" em Junho de 2018”.


“A Sinclética Torres, deputada por Angola, entre 1965 e 1974, se deve muita da atenção à questão da droga naquele território tanto mais que esta deputada defendia que se devia distinguir a toxicomania, enquanto “problema do mundo civilizado” dos consumos tradicionais efectuados pelas populações nativas, segundo escreve o portal Blasfêmias. 


Para além de Sinclética dos Santos Torres havia, em Portugal, um outro deputado negro, pelo circulo colonial de Angola, Joffre Pereira dos Santos Van-Dunem, pai do actual ministro do comercio de Angola, Joffre Van Dunem Júnior.


“É verdade, por outro lado, que Portugal tem uma história ainda mal conhecida, de participação de afro-descendentes na sua vida política e social. Poucos se recordam, por exemplo, dos vários deputados negros e mulatos presentes na Assembleia Nacional do Estado Novo. Assim, de repente, vêem-me à memória os nomes de Sinclética dos Santos Torres e de Joffre Pereira dos Santos Van Dunem (ambos, aliás, familiares próximos de Francisca Van Dunem)”, escreveu o escritor José Eduardo Agualusa, num texto publicado em 2015, intitulado “uma breve historia de diferença”.