Washington - Embora João Lourenço esteja apenas há dois anos no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) governa o país desde a independência de Portugal em 1975. Em entrevista à Voz da América, o activista social e fazedor de opinião Wilson Papo Reto comentou a actual governação do presidente angolano.

Fonte: VOA

Para Papo Reto, que mora e trabalha na Europa, nada mudou e não há pontos positivos, com excepção da liberdade de expressão. Ele sublinhou que o povo angolano viveu 38 anos oprimido pelo antigo presidente, José Eduardo dos Santos, e agora com João Lourenço a opressão continua, e o povo ainda passa dificuldades no que toca à saúde e à geração de empregos.

 

"O presidente João Lourenço havia dito que podia mudar, corrigir o que está mal e melhorar o que está bem, mas eu não vejo nenhuma mudança, porque o mesmo organograma - os mesmos deputados, os mesmos cúmplices do antigo presidente que lapidou o erário público - são os que trabalham com o novo presidente.

 

E continuou a indagar como é se que pode lutar contra o crime se o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó," continua na assembleia. É ele que há tempos fez um casamento milionário, considerado um abuso por muitos angolanos.

 

Segundo a imprensa de Angola, o recente luxuoso matrimônio de três dias de Lizandra Dias dos Santos, a caçula de "Nandó," custou em torno de dois milhões de dólares. O casal presidencial, Ana Dias e João Lourenço, que é padrinho de baptismo de Lizandra, também foi convidado para ser testemunha dela, o que gerou muitas críticas ao presidente.

 

Embora Papo Reto tenha dito durante a entrevista que o presidente actual não entregou a sua declaração de bens, o procurador angolano Hélder Pitta Grós informou que João Lourenço e Bornito de Sousa foram na realidade os primeiros a entregá-las. Em Angola, a declaração de bens é entregue em envelope fechado e ninguém pode abrí-lo, salvo por decisão de um tribunal. Apenas assim a sociedade pode saber que bens o político declarou.

Sobas e a política

Os sobas são figuras importantes e muito respeitadas em Angola, com a própria cultura, costumes, maneiras de vestir, andar e de se comunicar com a população. No entanto, Papo Reto disse que o angolano perdeu a direcção da ancestralidade.

 

"Hoje os sobas são cúmplices do partido MPLA porque o MPLA é um partido de misturas de raças. Lá encontram-se cabo-verdianos, são-tomenses, todos os tipos de raças. Agora os sobas perderam as suas identidades, caíram para o lado da corrupção".

 

Para deixar de ser um soba, Papo Reto explicou que a pessoa precisava chegar ao fim do seu mandato como chefe e depois indicar um sucessor. Agora um soba pode ser colocado hoje e retirado amanhã, se não estiver obedecendo os princípios do MPLA. E Papo Reto concluiu dizendo que os sobas não se ligam aos nossos serviços da ancestralidade em prol da comunidade.