Luanda - A inesperada comunicação do carismático e bem querido dos angolanos, o humorista Gilmário Vemba, sobre a sua saída do aclamado grupo humorístico, os Tunezas, um grupo de sucesso reconhecido, sobretudo, em públicos onde o Português é o veículo de comunicação.

Fonte: Club-k.net

Como já se tornou hábito, entre fakes e não fake news, pelas redes sociais as pessoas vão se informando e desinformando. Foi pelas mesmas redes sociais, que chegou-nos a informação da saída de Gilmário Vemba dos Tunezas. Entre a versão oficial anunciada pelo grupo, segundo a qual, a intenção de seguir uma carreira a solo foi a razão de base para a inesperada notícia, por outro lado, a versão associada a perda de vários patrocinadores do grupo, ou ameaças veladas a integridade física de Gilmário e de sua família, que foram igualmente postas a circular pelos corredores das redes sociais. Confesso que entre verdades e inverdades, a segunda versão deixou ficar uma grande inquietude, por essa razão, marco com a ponta da caneta (ou talvez, a polpa dos dedos sobre o teclado), o meu ponto de vista de cidadão, sob o pano de fundo da segunda versão.


Os grupos na verdade não são eternos, acabam por diluir-se ao longo do tempo por inúmeras razões. Teria sido um evento normal, não fosse o facto, de tal ser associado a uma peça realizada por Gilmário Vemba, amplamente divulgada nas redes sociais, sobre o dito casamento realizado na Baía de Luanda, em que um dos nubentes era a filha do Presidente da Assembleia Nacional de Angola, Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó", que decorreu com toda a pompa e circunstância, num ambiente encenado de castelos medievais europeus e outras extravagâncias e luxúria, numa altura em que no sul de Angola, uma profunda crise marcada pela seca e fome assolam as populações, e um pouco por todo o País, “o Povo heroico e generoso”, mergulha cada vez mais na extrema pobreza. Esse cenário, serviu para ativar a sensibilidade de Gilmário, daí resultando uma sátira, que “viralizou” pelas redes sociais.


A pressão submetida ao jovem Gilmário, leva-nos a questionar, o que somos, onde estamos e para onde vamos. Será que vivemos de facto num Estado de Direito e Democrático? Existe de facto o sentido de respeito pelos direitos fundamentais plasmados na Constituição da República? Ou será que as liberdades fundamentais, apenas servem para agradar os olhos do Ocidente, quando na verdade, os velhos hábitos, cristalizados com os anos de exercício do poder autoritário e monolítico, são a praxis do modelo de pensar e agir, mesmo quando os tempos e as vontades da maioria apontam para outro sentido? Então, a liberdade de expressão é de fachada e continuamos com a censura ao livre pensamento?


Conforme definiu um velho amigo artista, "a arte é o esforço de fixar o instante". Esse esforço de interpretar o instante das vivencias, conduz o artista a retratar o momento, no caso presente, sob o formato de intervenção como expressão do sentimento colectivo. Censurar o artista é a mais clara forma de demonstração da cultura da mordaça e da opressão. Assim, cai a máscara de um sistema travestido de falsa democracia, com falsos defensores de liberdades fundamentais, com a liberdade de expressão gravemente ferida no espírito e na letra.


O Gilmário Vemba, do seu jeito, com o seu talento e arte, levou sob o formato de sátira, uma crítica social que estava estampada aos olhos de todos, comentada por todos, mas que, por ser um rosto visível e mediatizado nos tempos da cultura das redes sociais e das novas tecnologias de informação, esta a ser reprimido, porque afinal, é um cabrito que devia comer onde estava amarrado e de boca fechada (apesar e faze-lo com esforço e trabalho, ao contrário de outros conhecidos cabritos), nem mesmo abrir a boca para colocar o alimento ele tinha direito, aos olhos dos que pela via do tráfico de influência, uso abusivo do poder, se arrogam em criar pressões aponto de serem retirados patrocinadores ao grupo Tunezas, ou mesmo, proferirem graves ameaças, atentatórias à vida do humorista e dos seus familiares.


Entretanto, o cabrito teimou em sair da caverna, e mais ainda, teve o atrevimento de falar, agora esta a ser penalizado de forma exemplar, para que todos vejam, aprendam e jamais se esqueçam do dito corriqueiro pelas nossas bandas, “não brinquem connosco!”, para que na memoria colectiva dos demais, fique impregnada a célebre frase da Vóvó Xica, “Xé menino não fala política”, não estas a ver o que esta a acontecer com o Gilmário.


A ser verdade, os Tunezas devem por solidariedade, abraçar o colega e amigo e levantarem as vozes “contra a razão da força” e “a favor da força da razão”. O sentido do grupo reside na presença de todos os integrantes do grupo, apesar de não serem obrigados a seguir carreira em grupo para todo o sempre, mas se tal tiver que acontecer, ao menos que não seja pela pressão da cobardia, pelas ameaças, ou pela cultura do terror e do medo. Por essa razão, apelo a união e a solidariedade com o colega e amigo deve ser sentido da vossa parte.


Afinal, o sucesso e a fama arrastam consigo a responsabilidade de participação pública nas transformações sociais do País, do Continente e porque não, do Mundo, sob a pena de se construir uma sociedade com o escárnio de uns poucos sobre todos os demais. Façam a vossa parte, que da sociedade, sem dúvida, o carinho solidário também se fará presente.


Locutus sum.