Luanda - Em reacção à notícia publicada por este jornal na semana passada, que dava conta da abertura de um processo criminal jun- to da Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP), e tal como já o tinha feito aquando da denúncia de Carlos Saturnino, a empresária Isabel dos Santos voltou esta semana a negar ter ordenado a transferência de 38 milhões de dólares, um dia após a sua exoneração, a favor da empresa Matter Business Solutions, com sede no Dubai.

*Nok Nogueira
Fonte: NJ

Informações cruzadas pelo Novo Jornal através de uma figura próxima do dossier, que acompanhou o processo quando este ainda estava em fase de inquérito, apontam que, “consultadas as fontes testemunhais e documentais”, a investigação desencadeada pela Direcção Nacional de Prevenção e Combate à Corrupção (DNPCC) concluiu haver indícios suficientes que apontam para uma direcção contrária àquela que a empresária ora apresenta como argumentos em sua defesa.


A fonte deste jornal sustenta que foram estes mesmos indicadores de alegada prática de ilícitos criminais que levaram em Setembro deste ano o procurador-geral da Re- pública, Hélder Pitta Grós, a remeter o pro- cesso à DNIAP, ordenando a instauração de um processo-crime contra a ex-presidente do Conselho de Administração da Sonangol.


De acordo com a fonte do Novo Jornal, com a instauração do processo-crime, Isa- bel dos Santos deverá enfrentar pelo me- nos três acusações, avançando, para já, duas: a de participação em negócios e de branqueamento de capitais.


Em causa estaria a alegada venda de petróleo, que teria sido ordenada pela ex-PCA da Sonangol. O negócio, afirma a fonte, te- ria ocorrido com a venda, a um valor reduzido, de uma quantidade de petróleo a uma das empresas afectas a Isabel dos Santos, e essa empresa, por sua vez, teria ido revender o produto no mercado inter- nacional a um valor mais alto.


A Procuradoria-Geral da República continua sem se pronunciar sobre o assunto, e mesmo na reacção à agência Bloomberg a empresária Isabel dos Santos não dá indicações de ter sido já notificada pelo Ministério Público sobre o assunto ou se terá sido já informada de que foi constituída arguida no caso.


Em todo o caso, a empresária insiste que as acusações são falsas. “Dizer que transferência foi pedida depois da exoneração é simplesmente falso”, disse Isabel dos San- tos, citada pela Bloomberg, esta semana. “A luta contra a corrupção não pode ser usada para alimentar uma agenda de perseguição ou uma caça às bruxas”, insinuou a empresária.


Entretanto, Isabel dos Santos não fica por aí e contra-ataca alegando que, se a PGR quisesse combater a corrupção, deve- ria investigar a dívida de 20 milhões de dó- lares existente na Sonangol no final de 2015, antes de ela chegar ao cargo.


A empresária já havia, numa outra ocasião, abordado o assunto da transferência, alegando serem valores ligados a “trabalhos de consultoria encomendados no âmbito da reestruturação da Sonangol”.


“A transferência não foi efectuada de- pois de eu ter saído da Sonangol de for- ma alguma, e, sobretudo, eram sobre trabalhos que tinham sido feitos, que estavam realizados e sobre facturas que eram facturas antigas. Facturas do mês de Setembro, do mês de Outubro e facturas do mês de Agosto. Isto nem sequer se- ria possível, eu nem fisicamente tinha acesso aos edifícios, aos computadores”, assegurou Isabel dos Santos.


A 14 de Outubro de 2018, Isabel dos Santos afirmou que aceitou liderar a petrolífera porque era “preciso salvar” a Sonangol, tendo-se queixado, na ocasião, de “um aproveitamento e má-fé por parte do su- cessor [Carlos Saturnino]”, que, segundo ela, “quis em algum momento, por razões muito próprias, criar um clima de desconfiança sobre a anterior gestão”.


Em Março de 2018, a PGR de Angola abriu um inquérito para investigar a denúncia da administração da petrolífera quanto às transferências alegadamente irregulares, após as acusações do seu sucessor, Carlos Saturnino — que foi em Maio deste ano demitido pelo Presidente angolano, João Lourenço.
Saturnino tinha sido demitido, em Dezembro de 2016, do cargo de presidente da comissão executiva da Sonangol Pesquisa & Produção pela administração de Isabel dos Santos.