Luanda - O ano "91" é histórico para Angola por restabelecer a paz perdida em 1975, um efeito imediato que devolveu alegria as famílias, entretanto perturbada nos anos que se seguiram. Em 1991 encontravam-nos no Lubango. Íamos no princípio do curso de economia, 2º ano.

Fonte: Club-k.net

Veia de prospecção de Talentos do fundador da UNITA

Trabalhava na emissora local vindo da cidade do Huambo, ex-Nova Lisboa, na sequencia duma impiedosa perseguição que me levara ao Cuemba na provincial do Bié. Queriam-me ver nas FAPLA. Conseguiram-no em parte.

 

Um dia destes raptaram-me e entregaram-me o uniforme, em seguida, despachado para o Cuemba num helicóptero M-8. Não era militar, não tinha treinado se quer ou jurado bandeira, actos “sagrados” de formação do soldado.

 

A razão aparente desta brutal perseguição é que tinha graduado para-médico em 1985/86 e queriam-me ver militar a todo custo ainda que para tal fossem atropeladas regras e procedimentos administrativos de recrutamento. Estava com adiamento militar em dia (os recrutamentos eram em março e setembro) mas insistiam. Eu recusava-me consentir tamanha injustiça, enamorado pelo jornalismo radiofónico que iniciamos em 1984 sob a mestria do professor Carlos Pereira.

 

Ora, fechados os caminhos para continuar o exercício do jornalismo na terra que me viu nascer, decidi empreender a jornada para o desconhecido Lubango, onde me viria a fixar.


Pela primeira, deixei o “doce” berço dos pais e pelos próprios pés, passei a flanquear o "mundo". Encontrei conforto, mas nada igual a casa dos meus pais.


Em “91” éramos estudantes com capacidade de observação e bom sentido critico sobre os fenómenos que ocorriam! Éramos "irrequietos" num bom sentido. De modo que olhando para a ordem política de então (partido único) a cerimónia de assinatura do Protocolo de Bicesse, acto transmitido em directo pela TPA reforçou-nos a percepção de que alguém tinha capitulado no seu ideal. Numa só palavra, a causa de luta de Jonas Savimbi tinha triunfado. Angola não mais seria a mesma. E na verdade, pelo menos passamos a ter multipartidarismo.


Em “91” decidi dar outro rumo a vida: abracei a política. Foi uma experiencia e meia. Já em 1975 nutria uma incomum simpatia pelo homem da história de Angola. Haviam razões mais assessorias do do que de essência política: por exemplo, o modo distinto como trajava (uniforme militar) e o estilo como falava o Dr. Savimbi.


Em 1975 éramos uns miúdos e seguimos os pais que se desdobravam em comícios, primeiro em Benguela (estádio de S. Filipe) e depois no Huambo (estádio das Cacilhas). Com os pais percorríamos 180 Km de carro (Caimbambo) para assistir ao comício do presidente da UNITA ainda assim, não contabilizaria militância partidária a partir de 1975, se tivesse de fazê-lo!


Mas foi em 1991 dezembro, creio que tive o privilégio de finalmente estar “face to face” com o homem da história. A primeira vez na conferencia de quadros havida em Luanda no hotel presidente Meridien, depois foi na audiência que concedeu aos quadros vindos da Huíla, na sua residência no Miramar.


Foi um encontro realizado pela madrugada, como de resto era um perdido do dia em que ele mais usava trabalhar. Palavras de encorajamento do “mais velho” com forças para os desafios que perfilhavam no horizonte.

No Lubango tive o privilegio de privar com ele nas madrugadas das viagens que efectuou a terra que ele bem conhecia. Jonas Savimbi foi aluno do liceu Diogo Cão.


As nossas conversas “privadas” tinham lugar à madrugada, invariavelmente presenciadas pela mana Aninhas Sachiambo.


Um dia destes estavamos na discoteca “Xadrez” para conviver um pouco, estafante tinha sido a jornada! Foi aí que conheci os dotes de “bailarino” do gen. Samuel Chiwale. O “mais velho” dança bem o “Tango”. Sim o “Tango” da Argentina. É que dançar o “Tango” exterioriza um certo status social. Era ele e o gen. Kulunga, uma dupla imbatível, quando vi o oficial de campo do “velho” Jonas chamar-me e seguimos para a Huila-pão, local de hospedagem do “homem da história”…


Em pelo menos quarto ocasiões conversei com ele. O que notei do Dr. Savimbi era a capacidade prospectiva de talentos. Quando identificasse alguém com quem se simpatizasse, o homem abria-se, e falava de tudo. Lembro-me da história que contou sobre a motorizada que recebeu dos pais quando concluíu o 5º ano.

Disse-me que quando acelerava, a estrada ficava bem “piquenininha” …risos!


A primeira vez que segurei um telefone satellite, foi do “velho” Jonas. Falei para America como jornalista a descrever o ambiente politico.

Mas também tivemos momentos de drama quando tentaram impedir que ele(Savimbi) prosseguisse viagem. O próximo destino dele era o Namibe, depois de ter estado no Lubango. Acontece que lá se encontrava já o candidato do partido no poder e havia o receio de que a saída dum e a chegada do outro não seria pacífica por causas dos dois exércitos e o acirrado dos ânimos (estavamos) na etapa derradeira da campanha eleitoral. Estava por perto e seguia as trocas de mensagens. O “velho” a dizer que ia ao Namibe, custe o que custasse.


Sinceramente, fiquei assustado. Era “miúdo” e não estava avisado de jeito nenhum que a "política não era um mar de rosas" ...

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