Luanda - Um país faz-se com homens capazes. Homens que lutam e dão o melhor de si para uma causa justa. Os dotes políticos de Agostinho Neto e dos seus principais colaboradores no MPLA persuadiram indubitavelmente o mundo, contrariando o que Portugal com pujança reprimira 14 anos antes, pelo facto de aquele país europeu ter erigido ao povo angolano o condicionamento social operante.

Fonte: Club-k.net

"Proclamo perante a África e o mundo a Independência de Angola", referira Neto com íntegro espectro de apurado entusiasmo e sentimento do dever cumprido. O anúncio emocionou a assistência e a aclamação dos milhares de adeptos de Neto no Largo Primeiro de Maio (Largo da Independência) não se fez esperar. A verdade veio ao de cima e jogou a favor dos angolanos, desacreditando, a cada dia por inteiro, a propalada "Independência da República Popular e Democrática de Angola" proclamada no Ambriz por Holden Roberto e a "ensaiada" por Jonas Savimbi, na então Nova Lisboa (Huambo).

 

A guerra civil assolou o país. Ainda assim, o povo angolano nunca perdeu a confiança em Neto nem este no povo. Era o arremessar de mais uma oportunidade para fazer valer a sua grandeza de líder inerente à libertação nacional e que já teria de lutar para alcançar a paz. Por força das circunstâncias, preferiu apelar ao apoio de Cuba, reforçando a estratégia de guerra em parceria com as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) para combater o, que considerava, inimigo.

NETO TRIUNFOU SERIAMENTE AO PROCLAMAR A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

Otelo Saraiva de Carvalho, citado no livro "25 de Abril - Roteiro da Revolução", alegou que chegou a dizer uma vez a Agostinho Neto: "se não tivessem sido vocês... o Movimento dos Capitães (que no 25 de Abril aparece já com a designação de Movimento das Forças Armadas) não teria existido"... A luta dos movimentos de libertação em África, a partir de 1961 em Angola e depois de 1963 e 1964 na Guiné e em Moçambique, foi uma base sólida para a criação das circunstâncias que tornaram possível a constituição do Movimento dos Capitães. No prolongamento exagerado da Guerra Colonial, os militares tiveram a noção de que não estavam ali numa guerra de conservação do território... mas que "estávamos" numa guerra perfeitamente injusta contra elementos que se tinham organizado para lutar pela Independência dos seus países. Agostinho Neto era tido quase sempre como figura de maior consenso e referência político- ideológica, na liderança da luta de libertação para a conquista da Independência em Angola e não só.

 

De forma a terminar todas as injustiças sociais existentes, sublevou-se o sacrifício consentido pelo povo heróico de África, que sentia na pele a estatura de uma opressão que ao fim de década e meia (ou bem perto disso) tomava-se como intolerável. Neto, por Angola, desempenhou um papel extraordinário em todo o processo de luta de libertação, interrompendo quase que em absoluto todas as brechas de o país continuar a ser negligenciado.

HISTÓRIA DA INDEPENDÊNCIA

A história da Independência de Angola é, em boa medida, a narração do percurso político e revolucionário de Agostinho Neto. A sua influência nos movimentos de libertação em África, nos países - colónias de Portugal -, como Moçambique, São Tomé, Guiné e Cabo Verde, o poder da sua escrita e oratória, o seu discurso mobilizador e electrizante, a sua grandeza demonstrada nos momentos das grandes decisões, ajudaram o país a alcançar a sua maior manifestação pela liberdade alguma vez antes conhecida.

 

O 11 de Novembro de 1975 proporcionou a Agostinho Neto o dote de um estadista cujo perfil delineado atingiu o seu ponto mais alto. O povo reconhece-o e ainda hoje festeja com vigor a merecida aclamação. Não podia ser diferente.

 

A Independência de Angola em 11 de Novembro de 1975 talvez devesse ser considerado o mais distinto e retumbante acontecimento do país desde a chegada dos portugueses, em 1482 ou 1483, ao território que hoje é a República de Angola.

LUÍS PAULO
(jornalista, jurista, ensaísta, especialista em comunicação)