Luanda - Ainda é recorrente ouvirem-se lamentações sobre o estado ou qualidade do jornalismo que se pratica em Angola. É com razão que isso ocorre, um pouco fruto do contexto político que imperou no período entre 1975 a 1991, quando vigorou em Angola o regime monopartidário que tudo dominava, inclusive as consciências dos cidadãos e exercia o controlo total dos meios de informação. Nessa altura só escrevia para um único jornal, para TPA, RNA e ANGOP quem fosse da família política dominante.

Fonte: Club-k.net


Quando o contexto político mudou com instauração do Multipartidarismo, ocorreu o surgimento de vários jornais privados e algumas rádios. Vivia-se uma espécie de afirmação da classe jornalística angolana da era pós-independência em que, com ressalva para aqueles profissionais de alto gabarito que já o eram desde antes da independência de Angola, na ausência do melhor, a profissão era exercida por gente sem formação sólida e específica no ramo.


Pela ausência de formação, como condição para o exercício dessa tão nobre profissão, alguns dos agentes de comunicação social prestaram-se, involuntariamente, a serviços que não eram jornalismo. Tornaram-se auxiliares de outros sectores, principalmente de segurança de estado, para catalogar pessoas com opiniões desfavoráveis ao governo e exercer pressão psicológica sobre pessoas tidas como detentoras de outras visões. Nesse exercício, alguns tornaram-se agentes provocadores e fomentadores de intrigas e calúnias.


O surgimento de Universidades e de instituições como CEFOJOR e outras com cursos vocacionados à formação de jornalistas foi visto como lufada de novo ar, quiça advento de uma nova era com expectativa de melhoria na qualidade do jornalismo angolano. Em muitos casos, felizmente, podemos constatar melhorias, mas em outros, lamentavelmente, continuamos a verificar o mesmo cenário de insuficiências que se exprime pela forma como se escreve e se fala e pela maneira leviana e irresponsável como se faz abordagem de fenómenos da nossa sociedade.


Nesse quadro, o jornalista nem sempre se apresenta como agente intermediário entre os factos que ocorrem, os seus protagonistas e a sociedade que precisa ser bem informada. Muitas vezes o jornalista e o órgão para o qual trabalha são utilizados como veículo para atingir a honra e o bom nome de pessoas e de instituições. Neste perfil parece enquadrar-se o director do Jornal Hora H, um períodico recente da nossa praça jornalística que se prestou ao mau serviço de fomentar e veicular intriga, boato e calúnia pelos factos que abaixo se descrevem.

No dia 5 de Outubro de 2019, em carta dirigida ao Presidente da UNITA, Sr. Isaías Henrique Ngola Samakuva, Escrivão José, director do Jornal acima mencionado, solicitou o contraditório sobre “alegados envenenamentos de alguns membros e militantes do Partido”. Continuando, acrescentou que “uma vez que a fonte acusa directamente o senhor presidente da UNITA, preferimos não identificar as vítimas e gostaríamos que nos recebesse para podermos ouví-lo em contraditório e consequentemente esclarece-lo mais sobre o assunto”, escreveu Escrivão José.


Vinte e quatro horas depois da carta ter dado entrada no Gabinete do Presidente Isaías Samakuva, este disponibilizou-se a receber o Director do Jornal Hora H, Escrivão José que apareceu acompanhado por um fotógrafo para o solicitado contraditório e esclarecimento prometido.


Como a agenda do dia do presidente continha entrevistas com outros jornalistas e não apenas a recepção dos fazedores do Jornal Hora H, chegados às instalações onde funciona a Presidência da UNITA, os dois jornalistas tiveram que aguardar alguns momentos, até terminar a entrevista dos primeiros a ser recebidos, ao que Escrivão José e seu fotógrafo reagiram negativamente.


Reconhecida a razão da sua reacção mas não aceite pela forma nada ética como a manifestaram, os dois foram conduzidos ao Gabinete do Presidente Samakuva e, chegado o momento do encontro com o Presidente, as perguntas sucederam-se uma atrás da outra, mas em forma de insinuações escandalosas e inverdades inadmissíveis.


Escrivão José dirigiu-se ao presidente da UNITA com questões sobre um suposto envenenamento de Helda Santos, supostamente quando esta era sua secretária. Segundo Escrivão José, tal envenenamento da Helda pelo Presidente Isaías Samakuva tinha ocorrido numa altura em que este tinha problemas com a sua legítima esposa.


Perante tamanha barbaridade e insulto à sua honra e seu bom nome, o Presidente da UNITA respondeu às perguntas com firmeza e classe, mas não deixou de advertir os dois visitantes de que estavam a fazer acusações gravíssimas passíveis de processo- crime. Sobre o seu ambiente familiar, o líder da UNITA fez questão de exprimir o seu sentimento de felicidade pela família que tem. Lamentou tamanha irresponsabilidade jornalística manifestada e manifestou a sua estupefação pela péssima qualidade de jornalismo que estava a presenciar. Continuou exortando os dois jornalistas a serem mais sérios no tratamento de questões. Como entretanto Escrivão José continuava com perguntas estranhas e esquisitas envolvendo nomes de outras pessoas, o Presidente da UNITA aconselhou Escrivão José e seu companheiro a irem questionar essas outras pessoas, que o próprio Jornal Hora H dizia dominarem melhor o assunto, uma vez que no que respeita ao suposto envenenamento de Helda, ou de Chivukuvuku e Sakaita, também citados por Escrivão José, Isaías Samakuva não era, certamente, a pessoa indicada.


Helda Santos é militante da UNITA com percurso pela JURA, onde chegou a concorrer para o cargo de secretária geral dessa organização juvenil e é actualmente secretária do Partido para o Ambiente. Nunca foi secretária pessoal do Presidente da UNITA.

 

O seu suposto envenenamento pelo Presidente Isaías Samakuva além de estranho, só pode ser pura intriga que vem dos laboratórios especializados na criação da confusão e interessados em manchar o seu bom nome e a sua honra e, por via disso, denegrir a imagem da UNITA que se prepara para o seu XIII Congresso Ordinário.


Depois que lhes foi dito que estava claro que o trabalho que estavam a fazer era mais de agentes provocadores e não tinha nada haver com jornalismo, Escrivão José e seu companheiro foram convidados a suspender a dita entrevista e a abandonar o gabinete do líder da UNITA, surpreendido pela pequenez de jornalismo exercido por aquele órgão ao serviço de interesses inconfessos.


Ainda bem que se fala agora, depois de muitos anos, da Carteira de Ética do Jornalista, em que acreditamos que somente pessoas com comprovada capacidade profissional e idoneidade moral serão agentes de comunicação social.


Lourenço Bento
Secretário da Comunicação e Imagem do Gabinete do Presidente da UNITA