Luanda - O nosso Continente, além de ser grande, é belo e rico. Belo, pela sua harmonia na diversidade e por sermos abençoados pela mãe natureza. Temos diferentes tribos, povos, hábitos, línguas com diferentes variedades, sotaques, e somos ricos sobretudo pelo povo que somos ou seja, pela nossa Própria Identidade. Porém, quando lembramos Dele, em termos de Estatísticas, muitas das vezes, ficamos tristes. Entretanto, tudo piora, quando às ignoramos (as Estatísticas) ou às desconhecemos (as Estatísticas).

Fonte: Club-k.net

 Um Olhar Comparativo à nossa Realidade Angolana

No entanto, dentro de algum tempo, “vai chegar o 18 de Novembro”. Considerada, data em que se comemora o dia AFRICANO DA ESTATÍSTICA.


É dentro deste contexto, que se propõem em se partilhar – “aqui, através deste espaço” – algumas ideias sobre a questão das Estatísticas no nosso continente “e no nosso país”, presentes na CARTA AFRICANA DE ESTATÍSTICA – que é o instrumento jurídico de regulação da actividade Estatística no continente, e que serve de meio de advocacia para o desenvolvimento da Estatística em África – confrontando-as obviamente, com alguns dados sobre a questão da formação neste ramo do conhecimento.


Segundo esta Carta, “o processo de integração do Continente iniciado, há alguns anos, pelos Estados membros, recomenda, para o acompanhamento da sua implementação tendo em vista alcançar os seus objectivos e avaliar os resultados conseguidos, a utilização de dados Estatísticos harmonizados e fiáveis em todos os domínios de actividades da vida política, socioeconómica e cultural”.


À nosso ver, a utilização de dados Estatísticos harmonizados e fiáveis em todos os domínios de actividades da vida política, socioeconómica e cultural, depende de um “Ponto de partida Concreto”: “aposta séria na formação, neste ramo do conhecimento”.


Por conseguinte, a aposta séria do país na formação em Estatística, pode ser medida pela percepção que se tem dos “níveis de Investimentos que são realizados nesta área”.


Por isso, nos questionamos: que tipos de Investimentos de formação em Estatística, o país, está a fazer, em comparação com Outros países africanos?


Ora, em termos de criação de Instituições de produção e difusão de dados estatísticos oficiais, percebe-se que Angola, assim como os Outros países africanos, têm um Instituto Nacional de Estatística ou uma Agência equivalente. Porém, além desta grande Instituição, temos outras, que também, vão produzindo algum dado Estatístico importante, como os Bancos Centrais, os Departamentos Ministeriais, Instituições ou órgãos ligados à organização das Nações Unidas, à União Europeia, e outras Instituições, e até mesmo ONGs que vão fazendo algum esforço, no âmbito de seu campo de acção.


Todavia, a produção de dados Estatísticos efectuadas pelas Instituições e Organizações acima referidas, “só será Sustentável” se Investirmos Seriamente na formação. Não se está aqui, ignorar-se os “milhões” que os governos vão atribuindo através dos seus orçamentos, aos Institutos Nacionais de Estatísticas dos nossos países africanos a fim de aprimorar-se suas acções de Recenseamentos, e outras actividades. É apenas uma forma de “olhar objectivo” à nossa realidade.

E este Investimento sério na formação, passa não só pela “capacitação contínua de pessoal já existente que trabalha na área de produção e organização das Estatísticas, nas diferentes Instituições e Organizações dos nossos países africanos”, mas também, passa pela Criação de Nossas Próprias Instituições que tenham simplesmente por Vocação, a formação de especialistas em Estatísticas.


Neste caso, alguns países estão muito mais avançados em relação à Angola. À título de exemplo temos a Costa do Marfim: com a Escola Nacional Superior de Estatística e de Economia aplicada, que funciona desde 1969, e que já formou muitos especialistas Marfinenses e não só; o Senegal: com a Escola Nacional de Estatística e de Análise Económica, que no fundo começou a funcionar desde 1966 num outro formato, e que igualmente formou muitos especialistas Senegaleses e de outros países do nosso continente.


Ainda, à título de exemplo, temos os Camarões com um Instituto de Formação e de Pesquisa Demográfica, criado em 1971, que forma Mestres e Doutores em Demografia, e que chegou de receber como forma de reconhecimento, o Prémio de Excelência das Nações Unidas pela população, em 2011. Este Instituto tem um carácter intergovernamental, composto por Vinte e Seis (26) Estados Membros, “onde Angola não faz parte”. E este Instituto está academicamente vinculado à Universidade de Yaounde II, desde 1992.


Igualmente, temos o Centro de Treinamento e Desenvolvimento que pertence ao Instituto Nacional de Estatística do Níger; a Escola Nacional de Economia e Gestão Aplicada do Beni; a Escola Nacional de Serviços Financeiros; o Instituto Superior de Ciências da População da Universidade de Ouagadougou em Burkina Faso; o Instituto Nacional de Formação Administrativa do Madagáscar; o Instituto Superior de Estatística de Kinshasa, na República Democrática do Congo; o Instituto Superior de Estatística e Novas Tecnologias de Goma, também na República Democrática do Congo; o Instituto Superior de Estatística de Lubumbashi, igualmente na República Democrática do Congo; o Instituto Universitário Tecnológico, e Departamento de Estatística e Processamento de Dados Informático, do Djibuti; o Instituto de Estatística e Economia Aplicada, da Universidade Makerere, no Uganda; e o Centro de Treinamento Estatístico da África Oriental, localizado na Tanzânia.


Todas estas Instituições acima referidas, são Vocacionadas à formação em Estatística. Sem esquecermos àquelas do norte de África com a mesma Vocação, como o Instituto Nacional de Estatística e Economia Aplicada, do Reino de Marrocos, criada em 1961, e que presta formação de doutoramento em Demografia e em sistemas de Informação e sistemas inteligentes, desde 2017; a Escola Superior de Estatística e de Análise de Informações, da Tunísia, fundada em 2001, anexa à Universidade de Carthage; e a Escola Nacional Superior de Estatística e Economia Aplicada de Alger-Argélia, criada em 1970.


Por agora, Moçambique tem uma Escola Nacional de Estatística que oferece o Curso Médio de Estatísticas Oficiais.


Contudo, “nós Angola”, como estamos? Quando teremos uma Instituição de nível base, médio ou superior, simplesmente Vocacionada ao ensino Técnico-Profissional de Estatística? Que proveito temos feito dos nossos técnicos médios saídos dos cursos de “Estatística e Planeamento”, que algumas pouquíssimas Instituições do nosso país, ministram? O que actualmente estamos a fazer para que num futuro de médio ou longo prazo, tenhamos Instituições de ensino, simplesmente com esta Vocação? Que projectos de abertura desta especialidade, têm as nossas Instituições de Ensino Superior Públicas ou Privadas?


“Vale sempre lembrar”, que ano passado, isto é, 2018, a presidente da Comissão da União Africana (UA) para a Estatística, a senhora Yandiswa Morudu, em visita à Angola, recomendou às autoridades angolanas para formarem mais quadros especializados em matéria de Estatística. E a mesma foi recebida pelos deputados da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, que prometeram fazer advocacia junto do poder Executivo, a fim de se melhorar este aspecto, e de Angola assinar a Carta Africana de Estatística. Pois, pelo que se sabe, o país ainda não a assinou.


Num momento em que se discute o Orçamento Geral do Estado para o ano 2020, seria altura da Assembleia Nacional da República de Angola, fazer advocacia junto ao Executivo, afim do referido Orçamento, consagrar uma parte significativa para o “Investimento Sustentável às Estatísticas”, que à nosso ponto de vista, passa pela Criação de Instituições de Ensino desta área, tal como fazem e continuam a fazer muitos países africanos acima citados.


Razão pela qual, propõem-se que se crie muito mais parcerias com diferentes países e Instituições, não só de Outros Continentes, mas também do Nosso Continente, e que ao negociarmos essas parcerias, que sejamos mais perspicazes a fim de beneficiarmos de acções que possam-nos ser rentáveis em termos quantitativo e qualitativo.


Para isso, é necessário que nas próximas negociações que Angola vai tendo com Instituições, como União Europeia, o Banco Mundial e não só, que se negocie por exemplo um auxílio, para a criação de Instituições de ensino de tal Vocação, como têm os Outros países africanos, através de uma gestão previsional de quadros, enviando-os inicialmente para a formação nos diferentes países e Instituições, incluindo, obviamente, o “pacote língua”.


Se assim acontecer, o país terá muitos e bons técnicos médios e superiores de Estatística, Engenheiros de trabalhos Estatísticos, Engenheiros de Estatísticas Económicas e não só, Analistas de Informação Estatística, e demonstraremos ao mundo que somos realmente um país que está à tentar ter uma cultura estatística. Pois, poderemos produzir melhor os nossos dados Estatísticos, e mesmo, os nossos conhecimentos científicos baseados nos métodos estatísticos adaptados à nossa realidade. “Aí sim”, poder-se-ia acreditar ou pensar de forma optimista da Agenda 2063 de Desenvolvimento Sustentável para Angola ou para África.


Paz e Bem*