Luanda - Gostaríamos de debicar à nossa singela homenagem, aquele que em nosso entendimento, terá sido seguramente, o mais dedicado estudioso da nossa literatura na cidade de paris, Michel Laban, que completa um ano desde o dia em que o seu precioso coração deixou de funcionar. 


Fonte: Club-k.net


A notícia caiu, como uma bomba! 


Naquela sexta feira dia 28 de Novembro de 2008, pelas 12 horas, estávamos nós acabar de chegar à Biblioteca Municipal de Luanda, onde habitualmente fazemos e com muito prazer as nossas leituras higiénicas, quando fomos interpelados pelo amigo, Beléco dos Santos, sabendo da relação de simpatia e respeito que nutríamos pelo Michel Laban, que vaidosamente dizíamos, que, éramos dos poucos angolanos que entrevistamos da forma aberta tanto quanto possível, sem receios. Eis que naquele instante surgiu nos de rompante o Kamba Beléco, questionando-nos da sua maneira peculiar dizia:

 

Epa o Michel Laban morreu?

 

A primeira reacção que tivemos, foi a de ficarmos por alguns segundos inactivos, logo de seguida, pedimos-lhe o jornal de Angola, não é que era verdade, a inacreditável noticia, que tinha o seguinte lide “ Morreu o catedrático Michel Laban, estudioso da literatura lusófona”. Ficamos a saber pelo mesmo jornal, que o Michel Laban, havia partida para eternidade, na terça, 25 de Novembro de 2008. 

 

Na verdade, já nós sabíamos que o seu estado de saúde dele, inspirava cuidados acima do normal, de resto uma informação que nos tinha sido dada pelo Bonavena, que de resto teve uma relação de proximidade tanto com a Christine Messiant, que por vias de circunstâncias já não faz parte deste mundo, que legou o seu espolio académico e intelectual, ao Nelson Pestana “ Bonavena” (A christine sempre foi considerada como a maior especialista das questões ligadas a historia politica de Angola) assim como, o Michel Laban, foi em nosso entendimento, dos mais honesto e dedicados estudiosos da nossa literatura, que sempre emprestou o seu rigor cientifico, sem paixões.


Curiosidade do percurso académico dos dois


Estudaram o percurso político e cultural do nacionalista angolano Mário Pinto de Andrade, ambos estiveram pela última vez em Angola, aquando do lançamento do livro em homenagem ao nacionalista angolano Viriato Clemente da Cruz, no ano de 2004, cuja o titulo é: “Cartas de Pequim” em companhia da Monique que foi (a depositária fiel) das “Cartas de Pequim”.


A história de vida de cada homem, é uma carta que Deus escreve para cada um de nós, por isso gostaríamos de sublinhar que, as circunstâncias que marcaram as nossas conversas e entrevistas, foram as seguintes:


O primeiro contacto que tivemos com Michel Laban, foi em Dezembro de 1997, por altura do primeiro encontro internacional da literatura Angolana no palácio dos congressos, numa conferência que contou com a industriosa participação de uma plêiade de especialistas de alto quilate da literatura Africana, realizado sobre a chancela da União dos Escritores Angolanos (UEA), para comemorar o 22º aniversário da mais expressiva agremiação literária angolana cultural.


Voltamos a vê-lo seis anos mais tarde, isto é em Abril de 2003, na Biblioteca Nacional, na jornada do livro infantil, numa realização da Biblioteca Nacional de Angola, onde o Michel Laban, desertou um tema sobre o papel do Ambaquista, que a resultar  em interpretações diagonais sobretudo pelo facto de muitas das pessoas contestarias da sua intervenção, estarem a ver mais o lado da emoção, em detrimento do rigor cientifico que a circunstância pedia, na medida em que não apresentavam argumentos de força cientifica para justificar a sua discordância. 


Uma conferência, cujo propósito presidente, foi dentre outros motivos, o de incentivar a produção da literatura infantil em Angola cuja produção a par da critica literária é altamente deficitária, segundo alguns “monstros sagrados” da docência literária africana de expressão portuguesa, nomes como os dos professores Pires Laranjeira, Salvato Trigo, Tânia Macedo, Laura Padilha, dentre outros, logo autoridade académicas e insuspeitas nesta matéria.


Antes da conferência, lá Biblioteca Nacional, interpelamos – no, para um conversa em torno dalgumas imprecisões em torno da polémica que havia surgido, sobre autoria, do slogan “ Vamos Descobrir Angola!” saída em parte da grande entrevista feita por ao intelectual angolano de incontestável quilate que sem duvidas o Mário Coelho Pinto de Andrade, feitas em dez sessões, tendo sido projectada para serem feitas em doze, mais quis o senhor que as portas do campo santo se abrissem para o Mário de Andrade, que em 1990, deixou-nos, aquelas sessões duraram três anos isto é de 1984 até 1987, foi numa daquelas vigorosas sessões que o Mário de Andrade que o autor deste slogan foi o Viriato da Cruz, e que eles tinham uma relação de cumplicidade, dai o facto de em determinada altura ele ter assumido autoria do slogan, ainda nestes depoimentos o intelectual angolano nascido no Kwanza Norte, o Michel Laban, conseguiu obter dentre outras informações, dados e factos muito importantes, como em relação ao lendário poema “Reenúncia Impossível” que lhe havia sido dado Mário Pinto de Andrade pelo próprio Agostinho Neto, no sentido deste fazer a devida revisão, sendo esta uma das inclinações do Mário de Andrade, este poema foi lançado a titulo póstumo de forma incompleta em Luanda a titulo póstumo, pela UEA, ou seja depois da morte do pai da “ Sagrada Esperança”, só que infelizmente foi feita a publicação de forma “ anquilosada” isto é fragmentada, porque o poema original dava um pouco mais de catorze paginas, o original dava pelo menos umas vinte paginas, e foi publicado de forma integral pelo Michel Laban, no livro de homenagem aos dez anos da morte de Mário Pinto de Andrade, numa iniciativa da professora Inocência da Mata, que de resto confessa que tinha uma relação de amizade com o Mário facto que a motivou a seguir em frente com aquele tributo ao Mário, mais termos hoje a oportunidade de ler na integra este lendário poema, deveu-se a capacidade visionaria do já nosso Michel Laban que havia feito uma copia daquele importante poema de Agostinho Neto.


O terceiro encontro foi já em 2004, por altura do lançamento do livro ” Cartas de Pequim.” Conversamos longa e aturadamente sobre o percurso político e intelectual de Viriato Clemente da Cruz, manifestou a sua admiração pelo que pelo Viriato da Cruz, isto em função do que ele tinha ouvido falar do autor do slogan “Vamos Descobrir Angola!” mesmo apesar de nunca o ter podido conhecer pessoalmente, mas em função do contacto com a sua obra, foi-lhe suficiente para chegar esta conclusão, o facto dele já ter ouvido falar bastas vezes do Viriato com a plêiade de escritores angolanos com quem havia entrevistado e partilhado opiniões, dentre eles o Próprio Mário Coelho Pinto de Andrade, que lhe falava do Viriato com Muita vénia, a própria Monique na entrevista feita pelo Michel Laban e a Christine Messiant, a propósito das “Cartas de Pequim” cuja, a coordenação foi feita pelo Michel Laban, naquela entrevista à Monique, apresentou elementos de sobra, para dar consistência à ideia de Laban, em relação ao Viriato da Cruz, o Michel Laban dizia me que gostaria de ter podido entrevistar tal como o fez com o Mário também gostaria de fazer com o Viriato, desejo que se aguçou mais, depois de ter lido os cadernos sobre o marxismo da autoria do Viriato, isto é segundo a interpretação do cidadão angolano nascido na província do Kwanza Sul, ou seja aquele cidadão do mundo, sobre o marxismo, e o facto da própria Monique, afirmar categoricamente que o Viriato foi o maior professor, que ela já terá conhecido, e que a ensinou, a ter uma visão mais holística sobre o mundo.             


O Michel Laban, é autor do livro “ Angola: Encontro com Escritores” uma obra-literária das mais ricas neste domínio, e que já é seguramente uma referências da história da nossa literatura, em que se consubstancia em entrevistas com os mais expressivos escritores da nossa praça.


Curiosamente o académico francês Michel Laban, sempre que viesse á Luanda, visitava a Igreja da nossa senhora do Carmo, muito por influência do Luandino Vieira, na obra “ Nós os do Makulusso” que de resto foi a obra literária de Luandino Vieira que lhe serviu de pretexto para a sua tese de doutoramento, passando logo depois a leccionar a cadeira de literatura africana pela Sobornne, onde acabou por dirigir, o departamento de português, e fazia questão que essa obra de Luandino Vieira, fosse de leitura obrigatória aos seus estudantes, dizia ele que os estudantes reclamavam, do facto da obra ser muito pesada, e de difícil descodificação, mas logo depois dos estudantes dominarem aquela obra literária, usando as técnicas de interpretação literárias, todas outras tornavam-se mais fáceis de se interpretar, outras das suas influências para visitar religiosamente o Carmo foram as obras do Arnaldo Santos, o também conhecido escritor do Kinaxixi, sem deixar de lado a referencia também acerca da Igreja do Carmo que lhe foi feita pelo próprio Mário Pinto de Andrade, onde na longa entrevista quando o Michel Laban o questionavam sobre as suas melhores recordações em termos de locais o tinham marcado de Luanda, ele dizia que a Biblioteca Municipal de Luanda, e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo eram-lhe as mais belas recordações de Luanda, de resto aquele intelectual angolano ficava muitas vezes sentado nas escadas da Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

 

O Michel Laban, foi um académico que se distinguiu como tradutor, facto que foi de resto sem duvidas uma mais valia, aquando da negociação com a Monique, por causa do diferendo que existia entre ela que foi a” depositaria” e a editora Chá de Caxinde, a propósito da publicação das “ Cartas de Pequim”, pelo que, sem a autorização da Monique, não seria possível materializar este projecto literário, mais uma vez, foi o Michel Laban, quem fez a “ponte” como ele próprio dizia para materializar aquele desiderato, tudo isto porque à Monique, já o conhecia pelas traduções que fazia das obras literárias africanas logo era uma figura cujo rigor cientifico e verticalidade e honestidade académica era um marco de referencia no pais da torre Eiffel.


O seu interesse pela literatura angolana, fez com que se interessa-se pelas variantes do português que se fala em Angola, o seus códigos, o regionalismo, os desvios de linguagem utilizadas na literatura angolana que segundo ele, havia de lhe consumir algum labor à mais para terminar aquele dicionário.


  Há um filosofo do século XX, que dizia que os homens nasceram para morte, enquanto cristão digo que a morte não é um fim em si, mais um meio, e socorrendo-me das teorias de Lavoisier, na Natureza nada se perde de resto tudo se transforma, pelo que julgo que o Michel Laban, e a Christine Messiant, representavam seguramente a geração de europeus, que começaram por “descobrir” um outro lado da África Lusófona, em pleno combate da libertação do domínio colonial, numa espécie de idealismo “ caloiro” logo não os perdemos, porque as suas obras e feitos hão de permanecer terrena mente entre nós, e o Laban, foi seguramente o mais intrépido arauto da literatura africana de expressão portuguesa na Cidade Luz na terra da torre Eiffel, sendo assim, auguramos que o seu nome se perpetue na nossa memória colectiva. 


Até  sempre amigo Laban! 


 Cláudio Ramos Fortuna 


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