Luanda - Já aconteceu com quase todos os homens: depois de um longo dia de trabalho, você se deita no sofá, pega o smartphone para ler o conteúdo das redes sociais que você adora. De repente, você vê um daqueles anúncios apelativos da venda de uma jóia. Lembra-se de que a sua amada namorada vai fazer aniversário e que ela fica ainda mais linda e iluminada quando usa uma jóia, semi-jóias ou até mesmo uma bijuteria! As mulheres amam esses acessórios e, pelo menos nesse aniversário, tudo o que você precisa fazer é comprar. Você clica no anúncio. Entra no feed da loja online e diz que pode comprar aquela jóia sem sair de casa, pela internet. Dá uma olhada na hashtag do produto no Instagram da loja e vê que outras mulheres postaram elogios ao produto. Isso planta uma semente de esperança na sua mente de que dessa vez você vai alegrar a namorada.

Fonte: Club-k.net


Acto continuo, você volta ao marketplace e adiciona o produto no carrinho da loja online. No checkout da loja online, eles prometem enviar o produto até Angola. Você preenche os dados pessoais, o endereço e, apesar de uma quantidade infinita de bancos comerciais em Angola, não tens cartão de crédito para comprar.


Como chegamos a esse atraso civilizacional?

Os bancos comerciais (O descaso do banco Sol)

Essa semana, eu também tive esse problema. Como cidadão angolano, que pago os meus impostos, decidi fazer algo a respeito: escrever textos que reflectem e denunciam os actos que levam o nosso governo a “brincar com a nossa cara”. Porque, o mal triunfa quando as pessoas de bem se calam!


Como muitos devem saber, vários países comemoram a Black Friday (data em que as lojas oferecem descontos imperdíveis nos preços das mercadorias). O evento ocorre nas últimas Sexta-Feiras do mês de Novembro.


Como cidadão que queria comprar algumas coisas durante a Black Friday, procurei os bancos comerciais onde tenho contas bancárias e, todos eles “desconseguiram” de me dar um Visa ou Mastercard. Não entendo a razão dos bancos existirem em Angola!


Contudo, fui à sede do banco Sol três vezes na semana passada (dias 18, 19 e 20 de Novembro), para carregar o cartão KUMBU Oferta. Além da arrogância no atendimento, a funcionária disse que não valia a pena, porque o carregamento do cartão KUMBU Oferta agora leva meses. Pode demorar até três meses, para ter o valor disponível! Fiquei atónito! Três meses?! É de admirar! Perguntei por alternativas e a funcionária me disse que a opção mais fácil seria comprar os dólares na rua e voltar ao banco para carregar o cartão Pré-Pago da Rede Visa. Meu Deus! Mas então, não são os bancos que têm de vender dólar aos clientes. Ou, nós é que temos de trazer divisas para o banco? E eu não queria muitos dólares, precisava de apenas duas notas. E com elas, eu não poderia financiar o terrorismo, tão pouco praticar o crime de branqueamento de capitais, crime praticado pelos “endinheirados”.

Na sexta-feira, 22 de Novembro, fui ao Bairro Mártires do Kifangondo, acompanhado de um irmão jornalista angolano de referância, cujo nome vou omitir. A nota de 100 dólares custa 64 mil Kwanzas. É só lamentar! É só orar! Fazer o quê? Compramos duas notas.


Cansados e a resmungar, regressamos na sede do banco Sol, onde entregamos as duas notas de dólar para recarregar o cartão Pré-Pago da Rede Visa. Assinamos pápeis e mais pápeis, para seguir a Lei de Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo. Entregaram-nos o cartão e voltei para casa.


Ontem, quinta-feira, 28 de Novembro, voltei ao banco, porque o cartão cartão Pré- Pago da Rede Visa, não funciona. Na sede do Banco Sol, fui atendendido por uma senhora amargurada de espírito, que não deveria atender o público. Ela comunicou- me que a culpa é do Banco Nacional de Angola (BNA). O BNA demora vários meses para carregar o cartão Pré-Pago da Rede Visa, se você apresentar o bilhete de passagens. Demora algumas semanas para carregar o mesmo cartão, se o cliente comprar os próprios dólares nas kinquilas e levar ao banco. E, pasmem, até hoje, uma semana depois, sexta-feira, 29/11, já no fim Black Friday, o BNA ainda não activou o meu cartão Visa. Uaué!


Como conseguiram transformar bancos comerciais em kinguilas oficiais? Onde esses senhores estão levar o país?

O Banco Nacional de Angola (BNA)

Sabemos que o País está a ser assolado por uma crise, sem precedente histórico. As razões para isso são basicamente três: A corrupção, a incompetência e a baixa do preço do petróleo.


Isso leva-nos ao BNA, que, na sua essência, é o nosso Banco Central. Em países sérios, não comunistas, o BNA seria uma entidade independente, que desempenha as actividades relacionadas à administração do dinheiro do País, como: a política económica (garantir a estabilidade dos preços e o poder de compra do Kwanza), a regulamentação de instituições financeiras (bancos comerciais) e do sistema financeiro como um todo, assim como definir as políticas monetárias (taxa de juros e câmbio, controlo da inflação, etc).


O câmbio está ligado à compra da moeda estrangeira, que deveria ser gerida com muito cuidado. Como o câmbio é flexível (flutuante), o Banco Central age apenas quando há problemas de liquidez ou para atenuar movimentos fora do padrão. Assim, o BNA intervêm no mercado cambial, fazendo leilões periódicos, quer dizer que o órgão vende ou compra moeda estrangeira no mercado à vista, ou seja, no mercado que opera as cotações de envio e recebimento de valores por empresas ou instituições financeiras.


Na prática, os bancos comerciais adquirem divisas no BNA, através das sessões de leilões e, por sua vez, os bancos vendem ao público. Mas, não é o que acontece em Angola. Quando vamos ao banco comercial já lá não há dólares, porque eles desviam as divisas para as kinguilas. O BNA deveria estar atento a isso, porque o dólar

influencia na vida quotidiana dos angolanos. Afinal, as matérias-primas como trigo, gasolina e da cesta básica são importadas! Portanto, os produtos derivados ficam mais caros e interferem directamente no cotidiano da população e das empresas. Mas, os bancos comerciais brincam com o “BNA do Massano”, por duas razões: ou o Massano faz parte do esquema ou é incompetente!


Países africanos visionários, como a África do Sul, Nigéria, Quénia e Ruanda, destacam-se em África por aproveitarem um mercado de consumidores com cerca de 1 bilhão de pessoas. Os governos desses países estão a investir em startups financeiras (Fintechs). Os cidadãos não dependem exclusivamente dos bancos tradicionais. Pelo contário, os governos permitem que empreendedores criem novas soluções todos os dias, para facilitar a vida das pessoas. Este é o mindset que levou Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, em 2016, a visitar a África, pela primeira vez, e comprar uma startup baseada na Nigéria, por um investimento de US $ 24 milhões.


Enquanto esses países progridem e aceleram nos seus esforços de trazer a felicidades aos cidadãos, Angola parece ser um dos países mais “ignorantes” do continente. Para começar uma fintech, o empreendedor precisa de ter um absurdo capital social e manter fundos próprios regulamentares no valor mínimo de Kz 70.000.000,00 (setenta milhões de Kwanzas). É um sacrilégio, se comparado com as práticas de outros países africanos. Além disso, a Lei do Sistema de Pagamentos de Angola remonta o longínquo ano de 2005. E foi necessário o governo ser desafiado pela SADC, para começar a dar tímidos passos no sentido de fazer alguma coisa à respeito. Tudo, porque, há indivíduos no governo com a mentalidade presa no século XIX, que querem constantemente adiar o País. Têm medo da tecnologia e dos benefícios disruptivos que ela pode trazer para melhorar a vida dos angolanos.


Mas, é lendo o Maka Angola, que nos deveria tirar o sono. Angola está no abismo e para sair dele é necessário argúcia e inteligência, que José de Lima Massano não tem. Chegamos a essa conclusão, lendo artigos como: “Governador Massano é Sócio do BPC”, “Massano ‘Fuma’ dois mil milhões de Dólares no Económico”, “Os Dólares, Massano, Lobistas e Feiticeiros (Parte I)”, “Massano e os Prejuízos Bombásticos no BNA”, “Massano: O Museu da Pilhagem no BNA”, “Lima Massano Cúmplice na Pilhagem do BESA (e noutras)”, “Inconsistência Cambial: A Política do Ziguezague, Plano Macroeconómico ou Feitiçaria Cambial?”


Pelos vistos, José de Lima Massano perde mais tempo a roubar, do que cuidar dos objectivos da existência do BNA. O governador do banco é também accionista em bancos comerciais. Portanto, o governador do BNA não é sério. Ele come com os que roubam o País. Ele tem o “rabo” de palha e, por isso, não consegue dar ordens aos bancos comerciais.


Noutros países, o governador do Banco Central é uma autoridade, porque dirige a Autoridade Monetária do país. As declarações de um governador tem o poder de movimentar o mercado. Mas, não tenhamos ilusões, o Massano não tem autoridade moral para se impor e fazer cumprir as leis que ele assina.

Um país atrasado pela incompetência


Nunca vi Angola tão “avacalhada” como hoje. Perdoem a palavra grosseira, mas não há outra para o descrever. Já vi muito caos no País, desde o assassinato de religiosos no Monte Sumé, porque o seu líder era mais popular que o José Eduardo dos Santos. Vi também as mentiras do João Lourenço no discuso da Nação e a fuga do nosso “Arquitecto da Corrupção”, depois de espalhar a lei do roubo das coisas do Estado. Vi, ainda, o País entregue ao Nandó, amante dos deputados; o fracasso da Operação Resgate; o escândalo do governo de JLO, como uma maquete suja que defende os criminosos; a inflação a 70% num só mês e coisas que sempre nos deram a sensação fatalista de que somos um Povo que não tem valor para o MPLA e de que Angola “sempre” seria um país adiado. Eu sinto que a mentalidade dos nossos políticos sofre de um mórbido atraso, localizado no século XVIII. Parecemos uns defuntos sem enterro ou um terremoto ignorado. Porque será? É claro que não é apenas o “vagabundo governo do MPLA”, mas também a doutrina que ele espalha, o veneno de uma política de fingimento inédito no País que nem atam nem desatam.


Agora, as coisas vão muito além da tradicional incompetência do nosso corrupto-mor, JES, que sempre tivemos: sem rodeios, a vigorosa e velha incompetência das instituições públicas de sempre. Dá até saudades. A incompetência de agora é perigosa, “fingida”, em teia destrutiva, um enxame de erros óbvios que eu nunca tinha visto.

 

No dia-a-dia, só vemos fracassos, mediatecas que não terminam, presidente-turista, maquiagem de números, protecção dos gatunos do Partido; o adiamento de tudo por causa dos “dinossauros” do MPLA. Tudo vai explodir em 2020, o ano da verdade feia de ver. O mal que essa gente faz ao País, talvez demore muitos anos pra se reverter, mas vamos destapar as carecas deles, assim que perderem as eleições autárquicas.


Tudo está entrelaçado: a burocracia, a corrupção, o clientelismo e outras mazelas, que o MPLA colocou nas nossas cabeças.


Como psicanalista que sou, interessa-me trilhar o mapa do inconsciente dos camaradas. Interessa analisar a incompetência dessa gente que conheço desde que nasci.
Depois de 38 anos de roubos, a incompetência foi reinaugurada. A incompetência actual é competente como nunca. O homem “bom” do partido não precisa estudar nem nada, apenas bajular e mentir o Povo. Administrar bem não é com eles, dá trabalho e é chato.


Para eles, o que é do Estado é o do partido. Logo, o dinheiro público, a empresa pública e a de comunicação sociail pública são deles.


Os do MPLA se sentem “bons”. Eles são o “Bem” e o resto é o Povo indigente. Ser o “Bem” te absolve; te dá a chance de conquistar coisas. Eles, contudo, conseguem o que querem, basta mostrar o cartão do partido, é irresistível para o Povo entrar num Partido assim. É prato feito para os que querem ganhar uma pasta no governo – é pior para quem não faz parte do partido do “bem”, que não possuem um cartão partidário para ter acesso às benesses do compadrio.

 

Assim, o ID do MPLA é composto pela burrice, a estupidez, a negação de qualquer felicidade do povo angolano, a adopção da política de “fatigar” os apartidários.
Daí, a desconfiança dos investidores, a nossa baixíssima classificação no Doing Business, porque os camaradas “boicotam” os empreendedores e são contra todos os que trabalham incansavelmente para empreender no País mais difícil para se fazer negócio. Os camaradas do MPLA se acham os únicos donos de Angola e se sentem parte de uma dinastia desde Stalin - as palavras e conceitos comunistas norteam o seu DNA.


Essas são algumas das doenças mentais que estão a arrastar Angola para um pântano da miséria. Temos de nos salvar desse comunismo suicida.

O autor

Ribeiro Tenguna é escritor, membro da Brigada Jovem de Literatura de Angola e do Grupo Experimental da Academia de Letras do Brasil. É Empreendedor Digital, Web developer. Tem pós-graduação em Engenharia, Especialista em Resolução de Conflitos e MBA-Master in Business Administration pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).