Lisboa - A Fundação Dr. António Agostinho Neto realizou no dia 7 de Novembro do corrente ano, a Conferência “A conquista da Independência”, a qual tive o previlégio de integrar o Grupo de Prelectores com a temática “Os Acordos de Alvor, a Internacionalização do conflito e a independência de Angola” (vidê Publicação no Club-k).

Fonte: Club-k.net

A Conferência proporcionou não apenas um espaço de convivio entre novas e velhas gerações, mas também o reviver de momentos históricos do processo político angolano, particularmente os ocorridos no limiar da proclamação da Independência Nacional, em vertentes como a luta política, a luta de guerrilha, a influência externa versus laços com as grandes potências e finalmente a estruturação juridica e institucional assente na designada primeira Lei Constitucional de Angola.

Uma abordagem acadêmica


De forma particular chamou-me a atenção, a prelecção do General e Deputado da Bancada do MPLA, Sr. Roberto Leal Monteiro “Ngongo”, com a temática A RESISTÊNCIA ARMADA À OCUPAÇÃO COLONIAL DO SÉC. XV-XX “TODOS PARA O INTERIOR: A GUERRILHA COMO LUTA POLÍTICA COM ARMAS”


Pelo que pude depreender desta temática, em determinado periodo do processo de luta anti colonial, impôs-se ao MPLA a tomada de decisões importantes, como (i) lutar apenas politicamente, opcionalmente no exterior de Angola, fazendo ouvir a sua vôz nos fóruns internacionais, (ii) desencadear acções de guerrilha ao longo da fronteira angolana, mas com basificação nos países limítrofes e ou , (iii) decidir-se por enfrentar o poder colonial dentro do território de Angola.


Esta terceira opção, por sinal a escolhida pelo MPLA liderado por Agostinho Neto, era a mais arrojada face a superioridade do poder colonial com a visão geo-estratégica de militarização das “províncias do ultramar”.

Mas foi também essa terceira opção, resultante de uma directiva do MPLA historicamente designada por “TODOS PARA O INTERIOR”, que mobilizou cada vez mais angolanos na luta anti colonial e de guerrilha, até ao 25 de Abril e concomitantemente a chegada a independência no dia 11 de Novembro de 1975.


Todavia e como referi anteriormente, chamou-me a atenção, a prelecção do General e Deputado da Bancada do MPLA, Sr. Roberto Leal Monteiro “Ngongo”, sobre essa temática, não apenas pela cronologia histórica dos acontecimentos, mas porque, de forma singular (ou de maturidade de mais velho), remeteu reiteradamente (i) a vanglorização dessa decisão politica de Agostinho Neto enquanto lider do MPLA, (ii) a vanglorização desse feito pelo seu MPLA enquanto movimento de libertação, (iii) a vanglorização dos guerrilheiros do MPLA pela coragem de enfrentarem um inimigo melhor apetrechado com meios bélicos, a uma condição de ser e de estar dos angolanos passadas de geração a geração, cujas marcas se assentam na “RESISTÊNCIA ARMADA À OCUPAÇÃO COLONIAL DO SÉC. XV- XX”.

 

Portanto, “TODOS PARA O INTERIOR”, corporiza o conhecimento da nossa realidade historica de resistência a acupação colonial, como espelhou o General Ngongo “o povo angolano tem a cultura de resistência à ocupação, o que caracteriza a nossa heróica luta pela independência. Partindo da chegada dos primeiros navegadores europeus,em 1482-83, à foz do rio Kongo, durante o reinado de Dom João I "Nzinga a Nkuvu", passando pela governação de Dom Afonso I. "Mvemba Nzinga",em 1614, seguindo-lhe Dom António I, com a célebre Batalha de Ambwíla, em 1665 e, é com a derrota militar nesta Batalha que se vê enfraquecida a resistência armada no Reino do Kongo. No Reino do Ndongo devemos destacar que a ocupação colonial encontrou uma feroz resistência do nosso povo, onde devemos destacar a Soberana Njinga Mbandi, no séc. XVII, com a Grande Batalha de Ngoleme-a-Kitambo, em 1590. Nos Reinos do Planalto Central, Sul, Sudeste e Sudoeste, devemos destacar a resistência de Ndunduma, no Bié, em 1890, e de Ekwikwi, em 1902, no Bailundo e Huambo. Em 1917, o Grande soberano Mandume, em Ochiwambo, enfrentou o exército sul- africano numa feroz batalha, terminando com a sua morte. No Leste e Nordeste, a Grande Batalha de Kalendende, em 1918, no Lóvua, Lunda- Norte.


No fundo (e interpretando o General Ngongo), foi o conhecimento da nossa realidade historica de resistência a acupação colonial, sempre dentro do nosso territorio, que encorajaram a tomada de decisão e a directiva política “TODOS PARA O INTERIOR”.


Lições de vida tiradas da temática “TODOS PARA O INTERIOR”


Para o momento político que o país atravessa “TODOS PARA O INTERIOR” contrasta com o comportamento e atitude de muitos irmãos nossos, que tomaram a decisão pessoal e ou familiar da procura no exterior, da “melhor qualidade de vida”, mas lá instalados e aproveitando-se das novas tecnologias (voluntária ou involuntariamente), tomam atitudes de incitamento interno;


Para o momento político que o país atravessa “TODOS PARA O INTERIOR” contrasta com o comportamento e atitude de muitos até então “Dirigentes angolanos proeminentes nos mandatos anteriores”, que tomaram a decisão pessoal e ou familiar de rumarem para o exterior e, voluntária ou involuntariamente, dão azo a observações de alguns sectores ocidentais, segundo as quais, “...as elites políticas africanas depois de empobrecerem os respectivos paises, cobardemente se refugiam no ocidente, usufruindo dos recursos financeiros obtidos, vezes sem conta obtidos de forma fraudulenta;

Para o momento político que o país atravessa “TODOS PARA O INTERIOR” deve encorajar centenas de bolseiros angolanos no exterior a regressarem ao país, contribuindo com o novo saber, no desenvolvimento do país, ao invêz de um sub aproveitamento acadêmico que lhes prorroga a estadia pelas “europas...”a custa do Estado e ou das famílias, âvidas de darem melhor formação aos seus vindouros;


Para o momento político que o país atravessa “TODOS PARA O INTERIOR” deve encorajar o Estado angolano a continuar o aprimoramento dos mecanismos de participação do cidadão, nos vários niveis de governabilidade, não apenas como meros actos de consulta pública, mas como factores de alterações de políticas públicas e ou de legislação, ali onde os argumentos de razão são mais inovadores;


Para o momento político que o país atravessa “TODOS PARA O INTERIOR” significa que este aprimorar dos mecanismos de participação do cidadão nos varios níveis de governabilidade, seja extensiva a diáspora angolana, (maioritariamente fisicamente por lá, mas com espírito e alma sempre ligados ao cordão umbilical – Angola), augurando-se da parte destes irmãos também um aprimoramento do seu associativismo e representatividade, capaz de se lhes poderem proporcionar visitas periódicas ao país e tomarem in loco contacto com a realidade nua e crua, isenta de especulações baratas de círculos inconfessos.

No fundo (e interpretando o General Ngongo), “TODOS PARA O INTERIOR” significa que o presente só é válido se reconhecermos o passado e, que os assuntos internos devem ser resolvidos internamente.

Em guisa de conclusão, “TODOS PARA O INTERIOR” contrasta com a lamentação de estar a esfumar-se para a academia angolana (e não só), a possibilidade de estar frente a frente com o segundo Estadista de Angola – Engenheiro José Eduardo dos Santos e, podermos (nas diversas províncias) abordar em analise SWOT, os pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades, dos 37 anos de Governação, num ambiente de se corrigir o que correu mal, para a melhoria dos feitos alcançados na altura e actualmente válidos (em observância ao princípio da assumpção e continuidade dos actos de governação), tal como aconteceu e acontece, com os Estadistas de Moçambique (Joaquim Chissano), Cabo Verde (Pedro Pires), Namíbia (Sam Nujoma), para citar alguns.


Concluindo, “TODOS PARA O INTERIOR”, para as gerações mais jovens, deverá constituir-se um “caso de estudo”, a atitude da proeminente militante partidária da estirpe de Chizé dos Santos, (a quem considerava “súbdita de Njinga Mbandi” por ter herdado a veia política do seu pai), em abdicar dos principais espaços de debate político no interior do país (Assembleia Nacional e reuniões do seu Partido), optando por debates em espaços periféricos e ou do exterior do país, geralmente com o uso das novas tecnologias, cujas justificações (saúde, perseguições...) em hipótese académica, repito, em hipótese acadêmica,... dificilmente encontram lugar no bom senso do cidadão comum.


Bem haja General Ngongo.