Luanda - Quais são os sinais na actual conjuntura política, social e económica que nos vêm da juventude? São de uma profundo anciedade generalizada e misto de incerteza causada pela desestruturação da economia, no sentido de que  a nova governação do Presidente João Lourenço traga a solução rápida para  os seus problemas existenciais. Tarefa difícil de concretizar, sem uma filosofia programática consistente que permita a sua inserção no processo de renovação social e económica em curso no país, livre dos vícios do passado.

Fonte: Club-k.net

Ao assumir os compromissos do país e os erros da gestão anterior, a actuação do Presidente João Lourenço tem sido censurada por integrar pessoas identificadas com o passado e o ambiente envolvente da corrupção, que minou os alicerces da economia e a colocou numa situação difícil.


Fala-se em termos numéricos que essas entidades são responsáveis por terem participado no descaminho para o exterior, dos lucros do petróleo avaliados em mais de 60 biliões de dólares americanos, num ardiloso conluio internacional, envolvendo uma elite de empresários e homens de negócios, que dominam a máquina financeira doméstica e internacional, em benefício dos seus interesses egoístas e de grupo.


 Ao iniciar a sua campanha o Presidente João Lourenço prometeu combater o nepotismo, a corrupção e amiguismos e surpreendeu a opinião pública, ao materializar a ruptura do sistema montado, responsabilizando os culpados de terem tornado o país rico em recursos, numa coutada de indivíduos, e o que é mais grave, afectos ao partido que o conduziu, por via de eleições, ao poder. Uma série de processos estão a ser investigados e indiciados pela Justiça, ela própria forçada a preparar-se para julgá-los com a urgência e rigor requeridos.


O país entrou em euforia desmedida ao sentir o peso demolidor das medidas avançadas pelo novo Chefe de Estado, ao indiciar para a justiça, figuras de relevo da nomenclatura vigente, tornando o dia a dia dos angolanos marcado por episódios novelísticos dignos de nota, que incluíam acusações públicas de familiares do anterior Presidente da República, José Eduardo dos Santos e seus acólitos.


A pressão dos acontecimentos, rápidos e cirúrgicos, incluía a exigência da devolução dos recursos desviados, alguns deles, fora do controlo do banco central, num esquema que permitiu aos grupos económicos estrangeiros, drenar dinheiro para fora do país, longe do controlo das autoridades nacionais.


Do lado social, o país descambou para a mais completa indigência, com os jovens entregues à sorte, em bairros de lata, sem emprego, sem alternativas seguras de sobrevivência, na rua da amargura, onde procuram, através da venda ambulante, garantir uma margem de subsistência perto dos 2 dólares por dia.


O jovem angolano é o retrato do sofrimento, da angústia social e a ele recaem uma série de preocupações de carácter social e económico, que qualquer organização política que se preze, não deve ignorar.


Na sua obra “Ser Jovem em Angola”, a socióloga Elizabeth de Ceita Vera Cruz explica o seguinte: “Do conceito de juventude à sociologia da juventude, este é um trabalho que tem como mote os “valores e as identidades dos jovens em Angola”. Angola, que viveu décadas de guerra e cuja esperança de vida está estimada nos 60 anos, tem na sua juventude a reserva demográfica do país. Dir-se-ia que o mesmo se encontra refém da juventude, categoria em que se deposita a esperança e o futuro mas que é, simultaneamente, tida como sendo a origem dos problemas com que se confronta o país de que a criminalidade, o consumo de álcool e droga integram a lista de práticas e comportamentos que mais afligem a sociedade angolana”.

E mais adiante acrescenta: Se estes são alguns dos problemas da juventude identificados pela sociedade e pelo governo angolano, os jovens elegem o desemprego como sendo o seu calcanhar-de-aquiles. Não é pois, de estranhar, que esta categoria seja um “grupo-alvo” no quadro das políticas a serem implementadas pelo executivo angolano visando o combate aos comportamentos “desviantes” e, muito naturalmente, à melhoria das condições de vida desta categoria.


Falar-se-á de acção dos jovens ou antes de acção sobre os jovens? Ou, ainda, de ambas? Mas as políticas dirigidas à juventude devem igualmente ser entendidas no âmbito das campanhas políticas e ideológicas, entenda-se, dos aproveitamentos políticos de que esta juventude é alvo.


Entre o período da guerra e do pós-guerra (...), a sociedade angolana sofreu rupturas, colapsos de vária ordem, sendo voz corrente e muito particularmente do poder político, da urgência do que chamam “resgate dos valores”, uma caracterização que, em termos sociológicos deve, sim, traduzir-se por ANOMIA.


Sobre o assunto pretendemos num outro fórum aflorar os aspectos que conformam esta tendência que acompanha a nossa juventude actualmente. A esta tendência resultante da ausência de leis ou de organização adequadas, devemos dedicar a nossa atenção a fim de não permitirmos que a anarquia se instale no país.


ANDRÉ PINTO