Luanda - Porque é que os governos, os políticos e pessoas ligadas aos vários poderes institucionais perderam o sono por conta das redes sociais?

Fonte: Club-k.net


A proliferação de notícias de carácter especulativo, algumas a raiar o obsceno, a prostituição on line, os grupos de pressão política e "politiquices" caseiras, produzem incómodos, danos morais e de consciência, que levam alguns sectores do nosso país a promover algumas vezes sentimento de repulsa e de desencanto.


A meu ver, Angola deve preocupar-se com os excessos e a par disso desenvolver dinâmicas pedagógicas, povoar o espectro web com iniciativas que levem os jovens a trocar experiências e aprimorar o conhecimento, a promover o negócio on line, em conexão com a banca e os Correios, enfim, tornar o espectro cibernético num instrumento útil de combate à pobreza material e espiritual que se apossou de muitos dos nossos jovens. E porque é da Juventude que se fala, num país, em que a maioria pertence a esse escalão social, a preocupação das autoridades deve centrar-se na assumpção de medidas destinadas a combater de forma veemente a iliteracia que fez morada na nossa sociedade. É necessário um olhar mais utilitário aos meios de comunicação digitais pois é neste campo, onde se disputa o futuro, que permite às pessoas estarem em conexão permanente com os quatro cantos do mundo.


Hoje a electrónica de consumo atenta à maximização do lucro, colocou nos plasmas a tecnologia SmartTV, ou seja com Internet acoplada, que permite o manuseamento do comando para teclar e programar conteúdos on line, em simultâneo, com o sistema de Tv Cabo instalado em casa. Em Angola é a febre do momento a fazer concorrência ao Smartphone.


Com estes dispositivos domésticos o comum dos angolanos tem, a partir de casa aquilo que se chama, o mundo nas mãos. Na rua, com o smartphone carregado com um saldo de dados, mínimo de dois mil kwanzas o cidadão avisado, inteligente e devidamente casado com as novas tecnologias de informação consome o seu tempo, com a ideia projectada no futuro. O futuro aqui traduzido na satisfação das necessidades, que podem ser de natureza profissional, políticas, sentimentais e lúdicas. Isto seria o normal.


Infelizmente, devido às insuficiências do nosso sistema de comunicação tradicional muito centrado no institucional, o cidadão comum procura nas redes sociais uma válvula de escape contra a rotina dos comunicados oficiais e as iniciativas que não alimentam o seu ego. Quer no que diz respeito às actividades sociais e políticas e económicas, das quais é obrigado a comentar em conversas ocasionais de bairro, ou nos corredores do silêncio, em monólogos, depois de olhar para o lado, enquanto o lobo não vem. O lobo aqui traduzido no fiscal da vida alheia, muito atreito a fiscalizar, o que se diz em voz corrente, sobre os problemas do nosso quotidiano.


E é assim que as fake news ganham terreno, justamente pela repressão psicológica, a que estivemos sujeitos, durante muitos anos, de apenas olhar e responder com o silêncio, à prepotência, aos erros de conduta social dos nossos políticos, aos desvios à norma, e à inexistência de outros meios de comunicação, livres da tutela política e ideológica do poder instituído ou a não aceitação ou existência de canais de comunicação, onde o cidadão possa livremente exprimir as suas preocupações sociais.
Em Angola, onde a comunicação social, dá os primeiros passos para a sua expansão completa e emancipação dos preconceitos ideológicos e políticos, as redes sociais vieram substituir os mídias tradicionais e conquistaram o seu lugar na sociedade angolana espaço este que promove a existência de uma grande pressão sobre a modernização das mídias para competir com as redes sociais, justamente porque se julga ser um foco de tensões sociais e desestabilização política.

 

Os nossos políticos sentem-se melindrados com a onda verborreica que grassa nas redes sociais. Acabar com as redes sociais significa limitar serviços das empresas, dos agentes e utentes, que usam esse meio de comunicação para descarregar emoções, ou caírem na tentação de práticas anti-sociais, que dum modo geral, podem ser controladas.
Olhando para o cenário tecnológico e capacidade de difusão, as redes sociais, pela sua fragilidade não constituem ainda uma séria ameaça ao poder político instalado antes de tudo, deve ser aproveitado para as campanhas de mobilização social, campanhas políticas e de promoção de valores para influenciar o que quer que seja, em termos de manifestações de massas ou de carácter eleitoral.


Fazendo bem as contas e olhando o perfil tecnológico do país e às estatísticas, não são apreciáveis os números de utentes a navegar nas redes sociais, nem a dominar a técnica que elas oferecem, pois não são muitos os angolanos, com capacidade financeira, para adquirir a pronto pagamento um simples smartphone, na casa dos 70 ou 100 mil kwanzas.

A venda a prestações ainda é uma miragem num país em que os níveis de confiança comercial não existem. As redes sociais podem ser encaradas como um veículo de comunicação e um pólo de desenvolvimento do empreendedorismo, da formação profissional e escolar, do ensino on line, numa frente de difusão de sabedoria e de trocas comerciais no domínio da Informática.


As fake news com campo aberto nas redes sociais, podem de facto constituir preocupação, se não obedecerem aos padrões de sanidade comportamental típicos do ser humano. A ruptura que provoca nas normas sociais, coloca as fake news na condição de praga social, que deve ser banida do nosso meio, com medidas de saneamento e de oferta de informação útil e normas de conduta, baseadas no respeito ao próximo e à dignidade humana.


As fake news têm tratamento cirúrgico, com a oferta de informação credível, que leve os destinatários a estabelecerem a destrinça entre o que é bom e o que é mau.
Portanto, o Governo deve ter cautela, para não deixar os seus créditos em mãos alheias.


ANDRÉ PINTO