Luanda - Durante muitos anos trabalhei em campos de reassentamento servindo famílias angolanas que viviam em situação de pobreza extrema, em vários pontos do país, coordenando operações humanitárias e, em muitas situações, sentia-me impotente e sem fôlego perante tanta miséria.

Fonte: Club-k.net


Durante esta caminhada afeiçoei-me a muitas delas, fazendo algumas amizades que frequentemente privavam comigo as dificuldades que atravessavam. O sentimento que esta situação gerava em mim era de tamanha repugnância, mas, não obstante a isso, cumpria a minha missão com tanta alegria e zelo, que até hoje tenho memórias daqueles momentos difíceis.


Na Província do Bié, lembro-me ter visitado uma cabana onde vivia um ancião que havia perdido a sua família durante o conflito armado, ele perguntou-me se eu tinha um colchão em casa e como era dormir num colchão?


Não me lembro da resposta que dei no momento, mas não esperava uma pergunta daquela vinda de um cidadão de idade tão respeitável como a daquele ancião, o qual, na minha assunção, teria já vivido toda uma vida sem nunca se ter aproximado de um colchão.


Contudo, eu vinha construindo um sonho que um dia todos angolanos, sem excepção, teriam, pelo menos, direito à um colchão.


A minha maior alegria deu-se quando em 2002 foram assinados os acordos de paz em Luena, eu disse para comigo mesmo, é agora.


Ao ouvir esta semana pela televisão (fonte: INE) que 41% dos angolanos vive abaixo da linha da pobreza, isto entristeceu-me, pensando que apesar de todo esforço então consentido, a pobreza e a exclusão social continuam a perseguir-nos como se fossem nossas aliadas.

Simão Pedro, Me

Jurista&Politólogo