Luanda - No trecho do meu livro, tratando da lembrança das crianças de Angola, que a política da independência acabaria sendo o seu pesadelo, ao receber esta foto da minha prima de é filha de "Bock", as memórias voltaram de um angolano filho parte do nosso sangue e família extensa que desapareceu da família, por volta de 1976 e muito antes do infame 27 de maio de 1977.

Fonte: Facebook

Teodoro, cursava o sétimo ano do ensino médio, um dos poucos angolanos com esse nível de educação na independência. Ele era um seminarista e disse ter sido colegas de escola de quadros do MPLA como General Zé Maria e Marcolino Moco etc. Ele era multilíngue em idiomas europeus (português, francês e inglês).


O irmão mais velho de Teodoro, casou na família Chingunji, e, na nossa tradição, seria considerado sobrinho do veterano da independência Eduardo Jonatão Chingunji. Essa conexão seria a que o levaria a ingressar na UNITA em 1974/75, o que na época era motivo suficiente para muitas pessoas e, especialmente os jovens do sul de Angola, ingressarem no movimento logo após o colapso do regime colonial.

Pouco antes da independência, a liderança da UNITA negociou com vários governos da África e da Europa, acordos para treinar o novo grupo de guarda-costas de Savimbi, liderado pelo novo jovem chamado Pedro Ngueve Jonatão Chingunji "Tito".


Tendo vindo da guerra de guerrilha, era importante que os guarda-costas do presidente fossem treinados profissionalmente, em preparação para a possibilidade de Savimbi, como outros líderes dos movimentos, se tornar o Presidente nacional após a independência.


A necessidade da UNITA seria bem-vinda pela América, Grã-Bretanha, França e Marrocos. Por isso, algum tempo antes da independência de Angola, já consumida pela guerra civil entre os movimentos; Teodoro, Tito e Bock e, possivelmente alguns outros, foram enviados a Londres para um rápido curso de segurança presidencial.


Eles tiveram sucesso no curso e, no regresso, permaneceram principalmente no Bié com Savimbi, onde lideram o treinamento de mais jovens para seu grupo.


Em Fevereiro de 1976, a UNITA seria derrotada no Huambo e Bié e, forçada a fugir para o mato. Tito e Bock recuaram para os matos de Bié e Huambo, com Savimbi. No entanto, Teodoro acabaria decidindo não ir mais longe no mato com o resto e ficaria para trás.


No recuo de 1976, o Teodoro regressou e ficou no Chinguar. Movimentava-se entre a Missão do Dondi, Katchiungo, Chinguar e arredores. Nessa altura, até o meu ex-Director do Gabinete - Eng.º Capamba quando fui Ministro entre 2004 e 2008, que chegou mesmo de ter a sua ajuda em encontrar o seu registo de nascimento para tratar a carta de condução e outros documentos.


A dado momento, o Teodoro decidiu entregar-se às autoridades porque dizia que as funções que desempenhara no cordão Presidencial do Savimbi, achou que seria melhor esclarecer tudo ao Governo do MPLA para puder ficar em paz, e eliminar as acusações e perseguições dos oportunistas.


Só que a DISA entendeu de outra maneira, qualificou-o de muito “perigoso”, transferiu-lo para a prisão de São Paulo em Luanda.


A prisão de São Paulo foi a desgraça final do Teodoro. O jovem posteriormente foi eliminado sem nunca dar as informações aos nossos familiares sobre o fim e paradeiro dele, até essa data.


Infelizmente, durante os assassinatos do 27 de Maio, aproveitaram, acabar com o jovem.


Os três primos (Tito-Pedro, Teodoro e Altino-Bock, especialistas em Segurança Presidencial acabaram por ter um fim comum trágico e, sem as famílias saberem onde estão enterrados os corpos.


Deles deixaram para a história essa lembrança através dessa foto, da sua passagem na terra, do curso de segurança presidencial que fizeram em Londres, terra da Rainha Isabel II.

Que as suas almas descansem em Paz!

*Sikuete*, em Umbundu significa, "Não tenho"!