Luanda - Por todo o país assistimos de um tempo a esta parte, a acções de carácter humanitário, em resposta ao apelo do Chefe de Estado ao drama da seca, que assolou e agora em menor grau, os nossos compatriotas, de várias regiões do país. Fenómeno cíclico que afecta o Leste e o extremo sul de Angola, foi prontamente contrariado, em parte,  por uma vibrante e espontânea onda de solidariedade de vários quadrantes da sociedade angolana, incluindo as comunidades diplomáticas, empresariais, religiosas, desportivas e outras, num cordão humanitário impressionante, que há muito não se via no país.

Fonte: Club-k.net
 
Com estas acções, o sofrimento das populações, acreditamos, foi minimizado, a julgar pelo número de doacções. Até agora, apesar de satisfeitos, com a onda humanitária, que se estendeu à quadra festiva com outros actos de solidariedade, incluindo os que foram promovidos pela família presidencial, no âmbito da quadra festiva, com incidência para os mais pequenos de várias origens e instituições de acolhimento, num momento especial de ternura e carinho.  


 
Até agora, dizíamos, a onda de solidariedade continua a fazer-se sentir e é bom que a sociedade reaja pela positiva, com acções que impeçam, por exemplo,  que a comida pronta das grandes superfícies comerciais, vá todos os dias para o lixo e tenham como destino, o estômago vazio, daqueles que nos semáforos das nossas avenidas estendem a mão à caridade, pedindo uma gorjeta em nome da fome.

 
O efeito boomerang que se fez sentir em várias instituições, que seguiram o mesmo gesto, oferecendo aos mais carenciados, bens de primeira necessidade faz parte de uma vigorosa campanha, que mobilizou o país inteiro, merece realce de primeira página, pois, todos os angolanos e não só, estiveram unidos por uma causa comum, que permitiu pôr a funcionar o altruísmo, que mora nos nossos corações.

 
Precisamos para maior tranquilidade, de certificar agora a forma como as toneladas de bens foram distribuídas, e para quem, de modo a permitir a análise  e procedimentos futuros, com tempo e precisão adequados. É bom que se tenha uma percepção de como futuras ajudas podem e devem ser canalizadas aos beneficiários e, igualmente, a sua distribuição.
 
Para o efeito, não ficaria mal a constituição de uma ou mais entidades, com atribuições diversas, na prestação de assistência às populações carenciadas, tal como se verifica noutros países. Uma instituição que, a par da função humanitária congregasse igualmente o controlo  e assistência permanente às populações vulneráveis, com técnicas de reversão das carências, motivadas pelas alterações climáticas e outros desaires da natureza.


Para o efeito devem ser reforçadas as acções de assistência social permanente, formação de agentes com a missão de incutir o espírito empreendedor no seio das comunidades. Há uma iniciativa louvável ensaiada há tempos atrás pelo então Ministério da Reinserção Social, que é a Bolsa de Solidariedade Social, cujo impacto foi amplamente reconhecido pelos beneficiários, que tinham nela uma resposta para as suas necessidades básicas. É uma solução não suficientemente aplicada, que possui o condão de ter sido bem concebida, com base em pressupostos analíticos que respondiam às necessidades dos destinatários.
 
É necessário por exemplo, que se criem núcleos de pessoas com preparação, para  garantirem a assistência técnica às moto cisternas oferecidas pela Presidência da República, e se promovam acções de formação de agentes comunitários, com capacidade de resposta local dos problemas.
 
No fundo trata-se de conferir às populações conhecimentos de autogestão comunitária, capazes de oferecer soluções para as calamidades naturais, com bases técnicas e sustentáveis que diversifiquem o seu modus vivendi e operandi.
 
Trata-se de um apelo à criatividade, baseada no princípio elementar, que aconselha o recurso a meios próprios, que possam gerar trabalho e riqueza. A autossustentabilidade é chamada neste caso, a desenvolver papel fundamental.
 
 As comunidades rurais têm de se adaptar a conceitos sociais modernos,  que permitam desenvolver aptidões profissionais. O Estado na qualidade de gestor principal da coisa pública pode elaborar políticas que promovam a autosuficiência alimentar e outros meios de sobrevivência, sem alterar os usos e costumes das populações.
 
Mais  do que a onda de solidariedade dirigida aos desprotegidos da sorte são necessárias soluções, que levem as populações a participarem com o seu esforço e sabedoria, a contrariar os efeitos perniciosos da seca, cumprindo instruções e práticas para evitar o pior. Onde haja seca declarada, que se mobilizem meios para retenção de águas, para servir as vítimas e acomodá-las em zonas mais amenas.
A par disso as autoridades devem desdobrar-se em acções educativas e direccionadas aos centros de acolhimento preparados para uma assistência multidisciplinar  e de prevenção a sinistros como a seca e a outras depressões climáticas. Infelizmente a falta de programas específicos para prevenir cataclismos tem levado as populações a enfrentarem sozinhas as contrariedades do tempo.
 
Só quando a crise se acentua, é que se apela ao socorrismo, como forma de pressão às estruturas centrais do poder político, a lançarem mão de recursos financeiros extraordinários, que muitas vezes não são suficientes.


Vamos pensar como Lavoisier dizendo que na natureza nada se perde. Tudo se transforma!


ANDRÉ PINTO