Lisboa - Em Angola, o tempo já não vai voltar para trás. A família dos Santos acha que sim e só terá a perder com isso. Os últimos acontecimentos são a prova disso mesmo.

Fonte: Negocios

A decisão do Tribunal Provincial de Luanda de arrestar os bens e as contas bancárias de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, é mais um prego no caixão onde vão sendo enterradas as possibilidades de um entendimento entre as partes. Tal como a situação se a?gura parece óbvio que o próximo passo do Estado angolano será o de assumir o controlo das empresas e das participações detidas por Isabel dos Santos no país, configurando uma nacionalização das mesmas. Esta posição de força é claramente uma resposta a movimentos que foram entendidos pelo Governo como provocações, entre os quais o anúncio de Sindika Dokolo de que iria processar o Estado imputando a este responsabilidades pela situação da joalharia de luci De Grisogono, ou a declaração de Isabel dos Santos de que existe uma caça às bruxas, uma perseguição política à família dos Santos em Angola.


Chegou-se a este ponto de rutura devido a um equívoco que começou durante o período de transição política e culminou com a eleição de João Lourenço como presidente do país. A família dos Santos e os indefetíveis do ex-presidente presumiram que João Lourenço iria ser uma marionete, conivente com o passado e mantendo o status quo e este surpreendeu-os, a?rmando a sua autonomia política através da demissão de Isabel dos Santos da presidência da Sonangol.

 

De então para cá é o que se sabe. O julgamento de Filomeno dos Santos, a retirada do cargo de deputada a Tchizé dos Santos e o exílio não forçado de José Eduardo dos Santos em Espanha.

 

Dos Santos e os seus próximos cometeram um erro de avaliação de João Lourenço, sentem-se traídos por este e todas as suas ações têm sido motivadas por um sentimento quase pueril de vingança.

 

O atual presidente está respaldado no seu poder e no apoio da comunidade internacional que aplaude todas as decisões que visem tornar transparente a gestão da coisa pública em Angola. Neste jogo e nas atuais circunstâncias João Lourenço tem tudo a seu favor.

 

Isabel dos Santos irá certamente responder de forma dura ao Tribunal Provincial de Luanda, mantendo acesa a chama da guerra. É entendível que o faça, mas não devia ser esse o caminho, porque tem muito mais a perder do que a ganhar.

 

A única forma de encontrar uma saída para este conflito será a de José Eduardo dos Santos tentar estabelecer uma ponte com o seu sucessor, abrindo as portas para um diálogo. Esta é mesmo a solução derradeira e o ex-presidente ganharia em todos os sentidos se saísse do pedestal e desse este passo de enorme alcance diplomático. Em Angola, o tempo já não vai voltar para trás. A família dos Santos acha que sim e só terá a perder com isso. Os últimos acontecimentos são a prova disso mesmo.


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