Luanda - Caros amigos, desejo-vos um fantástico Vinte Vinte (2020). Estamos todos tomados pela euforia de um novo começo no ciclo dos meses e com ele renovamos a esperança de que os próximos tempos serão melhores. Porém isto não passará de uma mera ilusão se nós continuarmos os mesmos. Se ignorarmos os factos e os acontecimentos bons ou maus que ocorreram na nossa vida, na nossa história. Para que o ano seja realmente novo e próspero é preciso que o exame de consciência tenha sido profundo e o desejo de mudar seja fortemente acompanhado por acções práticas e concretas no sentido da mudança.

Fonte: Club-k.net


Um ano não é assim tanto e nós também não... e é bom lembrar que grandeza não se constrói a partir de pensamentos e ideias megalómanas, que se autodestroem. Os grandes feitos ou as mais relevantes realizações foram, e são, maioritariamente o resultado de pequenos, mas corajosos passos. Entre nós, há quem teime em mostrar grandeza, quem viva a fingir grandeza, quando na realidade são reles anões de ideias ou de feitos pouco mais do que miseráveis.

 

Aquilo que precisa de ser novo, renovado ou mudado é o nosso ‘eu’, o nosso carácter, a nossa atitude e mentalidade, e despojarmo-nos da ideia de que é grande quem tem poder ou faz demonstração de sinais exteriores de riqueza, desde o lugar onde vive à viatura em que se faz transportar... ledo engano.


A história mundial e regional está cheia de exemplos de grandes homens avaliados pela sua dimensão do conhecimento, da ponderação, da serenidade e da sensatez com que agiram ou tomaram decisões em situações difíceis. Vale ter sempre isto em conta na hora de agir, de programar a vida, quer seja um investimento ou qualquer plano para o futuro. Assegura-te apenas que és o que fazes, ou melhor, assegura-te que és bom no que fazes, com um propósito finalisticamente dirigido para o bem. Ama o que fazes, não saltes de galho em galho, confundindo dispersão com sucesso. Profissionaliza-te, concentra-te, não sigas quem vai a lugar nenhum, nem te iludas com o aparente sucesso ou felicidade alheias. Há gente fingindo-se feliz e com sucesso quando na verdade são de felicidade oca e esqueléticos de sucesso, verdadeiros cavaleiros das trevas que induzem inúmeros em erro e na perdição.


Falando em cavaleiros das trevas ameaçadores e manipuladores que induzem outros em erro, Angola tem estado a viver momentos de imensa euforia, para não dizermos mesmo de histeria, entre os que mandavam e os que mandam, com adeptos em profissões radiofónicas, televisivas ou de redes sociais apregoando e vaticinando coisas. A verdade é única a este passo, daremos uma volta de 12 meses para depois descobrirmos que a virtude está no meio e que a humildade e a gratidão são queridas a Deus, e os Cristãos bem sabem disso, e que têm de ser recuperadas a tempo no caminho.


Hoje por hoje, há claramente falta de humildade. E chega até a ser ridículo que alguém que sendo filho ou próximo do ciclo dos que mandavam, venha dizer que «não se beneficiou ou nunca fora favorecido em negócios». É importante não subestimar a inteligência alheia. É importante não humilhar nem o povo, nem classe empresarial, que com suor, vontade indómita e nervos de aço tem vindo a tentar manter a actividade com todos os entraves possíveis e imagináveis para ter acesso a determinadas áreas de negócio ou para manter níveis aceitáveis de rendimento com o que fazem.


A olhos nus, vê-se e percebe-se que no passado as políticas públicas estruturais eram quase inexistentes e quando existiam era a favorecer descaradamente os mesmos de sempre – a tal acumulação selvagem de capitais. Entretanto é importante que os de hoje não sejam uma versão dos de ontem, com uma agenda, mais ou menos clara, mais ou menos subtil, de favorecer novos grupos e para tal justificar todas as atrocidades e erros na ocupada tarefa de corrigir as falhas sistémicas do passado. Não obstante a bondade e a honestidade de quem manda hoje, como imensas vezes afirmei em conversas com diplomatas em Angola e no exterior, é preciso altruísmo, ponderação elevada e consciência de se estar a corrigir definitivamente as graves deturpações político-económicas e socio-culturais assinaladas desde a independência do País.


Ninguém se deve alegrar com a «desgraça alheia» nem se vangloriar com a «sorte» dos outros. As elites são e serão sempre necessárias, indispensáveis. Mas o maior castigo que uma ‘elite’ forjada em cima da desgraça alheia poderá ter - e terá se ainda formos a tempo - é a de ser obrigada a devolver as oportunidades roubadas às comunidades menos favorecidas ou de ver os dividendos congelados, entre outras soluções - com a obrigação de sob sua conta e risco se erguerem infraestruturas básicas inexistentes e fiscalizadas com rigor - permitindo deste modo um processo de ‘reciclagem social’ da sua fortuna servindo, finalmente, os proprietários do erário público: o povo.


Creio que destruir ou perturbar investimentos que já existem é um recuo de anos no difícil trajecto para o desenvolvimento. Um Estado, um povo ou uma comunidade é tanto mais elevada, quando mais perspicaz e sensata for na resolução dos problemas que são produto da sua história e cultura. É que a intenção, a honestidade e a boa vontade podem sair goradas se escolhermos pessoas, caminhos e procedimentos errados. E para corrigir tudo isto exige-se alguma humildade e pragmatismo, também para que não se tropece nas próprias teias como está a acontecer com os que mandavam ontem.


Em relação à forma como se procede e à atitude que se toma quando se é eleito, indicado ou ungido, lembro-me sempre da história de Nabucodonosor, rei da Babilónia, retratada na Bíblia no Livro de Jeremias (JER 43, 8-13). Deus enviara Nabucodonosor para destruir o Faraó por causa do clamor do seu povo (e em Jeremias 50), entretanto volvido algum tempo Deus ordenou a queda da Babilónia: porque o rei se tinha tornado arrogante para com IAHWEH e por isso quer o rei, quer o império foram banidos para sempre da Terra.


Logo, onde quer que estejamos colocados, no nosso ambiente ou na posição que ocuparmos, a preocupação deve ser se de facto estamos a ser arrogantes ou se estamos a servir com humildade. É necessário perceber se as causas da desgraça do povo foram efectivamente demovidas ou se ao demovemos pessoas as causas continuam e com isso corremos o risco de assistir ao desprezível espectáculo de novos donos a erguerem-se da arrogância, qual fénix nascida das cinzas pelas piores razões. Façamos o nosso melhor e façamos as coisas com grandiosidade d’alma e isto tornar-nos-á grandes na história – a do mundo, a nacional ou a pessoal, na comunidade onde estamos inseridos.


Juntos por um 2020 melhor para Angola