Luanda - Nesta Sexta-feira, 10 janeiro, o Angola Fala Só teve ao microfone Bela Malaquias, jornalista e advogada, antiga militante da UNITA, autora de "Heroínas da Dignidade I - Memórias de Guerra"​, que partilhou experiências vividas por ela na Jamba, espelhadas ao pormenor no seu livro de memórias.

Fonte: VOA

"Na Jamba ninguém defendia ninguém"

A publicação do livro de Bela Malaquias por esta altura levantou muitas questões dos ouvintes e internautas do programa, que questionaram a vericidade dos relatos da autora.

 

Afastada da UNITA e das lides políticas, Bela Malaquias explicou que o livro é "narrativa de episódios vivenciados" durante o tempos que esteve nas matas e disse não ter que provar nada: "Quem não esteve lá comigo pode dizer o que lhe apetecer".

 

Sobre a possibilidade de escrever um outro livro sobre o percurso de José Eduardo dos Santos, como sugeriu ao telefone o ouvinte Celestino Mayamba, Bela Malaquias diz que o livro é o testemunho da sua vida, "o que vi, vivi", refutando a ideia de escrever sobre José Eduardos dos Santos: "Aqueles que viveram com José Eduardo dos Santos têm a responsabilidade de fazer esses relatos".

 

Durante a conversa com ouvintes e internautas, a convidada disse várias vezes que esta não é uma obra histórica, mas um livro de memórias cuja elaboração foi decidida no dia da "queima das bruxas".

 

Entre críticas sobre as motivações da publicação de "Heroínas da Dignidade I - Memórias de Guerra", Bela Malaquias foi questionada por um internauta se está entre as "mulheres violadas por Jonas Savimbi", ao que respondeu: "Felizmente não cheguei a ser, daí as agruras que passei".

 

Malaquias disse que o impacto da UNITA na sua família foi bastante pernicioso e descreveu Jonas Savimbi como "tirano" e "psicopata". E quando questionada se o seu marido, Eugénio Manuvacola, não a protegia dos avanços de Savimbi, Malaquias respondeu sem hesitações: "Na Jamba ninguém defendia ninguém".

Queima das bruxas foi "ajuste de contas"

"Eu decidi escrever um livro no momento em que assisti à queima das bruxas", disse Malaquias, que descreveu esse evento de 7 de Setembro na Jamba com detalhes e nomes: "A Jamba era o quartel-general. Nesse dia chamaram as pessoas para a parada e antes dessa chamada Savimbi e a sua direcção, os seus colegas, tiveram uma reunião prévia, para definirem ou para ele anunciar o que se havia na parada..." Bela Malaquias, falou pausadamente, num exercício de regresso a um passado doloroso.

 

Na parada, continuou a autora do livro, "como era de costume, as mulheres cantavam e dançavam", em recepção a Jonas Savimbi.

 

"Quando Savimbi chega à parada começa a chamar as pessoas para o centro da parada (...) as pessoas que iam ser queimadas recolheram a lenha (...) atearam o fogo", em que elas iam ser queimadas.

 

Entre as vítimas, Malaquias cita "Judite Bonga, Vitória Chipati e o seu bebé, Clara Miguel (conseguiu desfazer-se do seu bebé), Maria Piedade, João Caetangui, esposa e a filha" e diz que a queima das bruxas foi "um acto de intimidação, um ajuste de contas, porque "Savimbi tinha actividade sexualmente promíscua, esta foi uma lição às mulheres que não se vergaram".


Morte de Tito Chingunji

Em 1991, Tito Chingunji, que na década de 1980 tinha sido o representante da UNITA em Washington DC, foi assassinado por ordem do então líder do seu partido.

 

Bela Malaquias diz que a morte de Chingunji foi resultado de "uma perseguição à família", com o objectivo de "dizimar a família toda" e continua explicando que Savimbi começou por matar o pai e a mãe de Tito Chingunji e depois os filhos.

 

A jornalista que iniciou carreira na Vorgan, menciona que Jonas Savimbi costumava dizer: "Quando se mata uma pessoa tem que se matar toda a família para não haver risco de vingança".

"Perdão não é esponja" no passado

Bela Malaquias descreve a sua chegada às matas como algo "muito estranho".

 

A autora de "Heroínas da Dignidade I - Memórias de Guerra", livro que na sua opinião pode "sarar feridas", acredita na reconciliação através da verdade e que tem que haver uma justiça de transição.

 

Para ela, a reconciliação "faz-se assente no perdão, mas o perdão não significa passar uma esponja no passado".

 

Mas e perdoar Jonas Savimbi?

 

"Jonas Savimbi eu não perdoo e não perdoarei", respondeu peremptória.