Luanda - Está posição da maior força política na oposição foi revelada pelo Dr. Raúl Danda, 1° Ministro do Governo Sombra durante a Conferência de imprensa ocorrida este sábado em Luanda.

Fonte: UNITA

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DO GOVERNO SOMBRA

(sobre a necessidade de se tomarem medidas mais vigorosas face à ameaça do novo Coronavírus)

A UNITA tem vindo a acompanhar, com bastante atenção e apreensão, tudo o que se vem passando relativamente ao surto epidémico atribuído ao novo coronavírus (2019-nCoV), situação que brotou na cidade de Wuhan, na China, e que assumiu contornos alarmantes, dada a extensa e rápida disseminação que tem conhecido, com um crescente número de novas infecções e de óbitos. Os últimos dados indicam estarem já contabilizados, só na China, acima de 10 mil casos dos quais resultaram cerca de 300 mortes, a crer nos resultados oficiais disponíveis, pois a situação pode ser bem pior.


Há também notificações de casos em mais de duas dezenas de países, não só na Ásia, mas também na Europa e na América do Norte, nomeadamente nos EUA e no Canadá.


O facto de o epicentro do surto situar-se numa das regiões mais populosas do planeta é, em si só, um factor complicador, pois isso favorece uma rápida propagação da doença à escala global. Por esta razão, a Organização Mundial da Saúde – OMS – decretou EMERGÊNCIA GLOBAL que, segundo o seu Director-Geral “não é tanto pelo que se passa na China, mas sobretudo pelo que pode ocorrer em outros países, sobretudo aqueles cujos sistemas de saúde são mais fracos”.


Um desses países é seguramente Angola, que está bastante exposta ao risco de ver circular o novo coronavírus (2019 –nCOV),fundamentalmente por três razões:

1. A vasta cooperação com a China, que faz com que haja hoje um fluxo bidirecional considerável de pessoas e bens entre a China e Angola, albergando o nosso país uma comunidade chinesa extensa. A China, por seu turno, alberga actualmente um número importante de estudantes angolanos e constitui o destino de muitos outros que viajam em negócios, e por outros motivos, entre os quais se inclui o turismo.


2. São bem conhecidas as muitas fragilidades do nosso sistema de saúde e, de certo modo, ainda mal nos recuperamos do surto epidémico da febre amarela e de outras febres hemorrágicas combinadas, que, como estaremos todos lembrados, ceifou milhares de vidas, em 2016.


3. A OMS considera Angola um dos países “com maior risco de contágio em África, pelo novo coronavírus”. Isso mesmo foi dito pelo Director do Programa de Operações de Emergência da Organização Mundial de Saúde, que considera o nosso país como tendo um sistema de saúde fraco e mal preparado para lidar com o novo coronavírus. Julgo que, sobre isso, estaremos todos de acordo com ele.


Assim, surpreende-nos a forma ligeira e de algum modo simplista como o Executivo do Presidente João Lourenço tem estado a abordar o fenómeno, numa altura em que países com maiores e mais eficientes capacidades organizacionais e de resposta a pandemias, se mostram preocupados, assumindo medidas que vão desde a retirada dos seus cidadãos da China – como é o caso dos esforços combinados entre a França e Portugal, ou da Inglaterra e da Alemanha, tendentes à retirada de cidadãos europeus de Wuhan – ao encerramento, com o hermetismo possível, das suas fronteiras, a fim de proteger as suas populações de um mal que se anuncia de difícil controlo.

Temos todos vindo a acompanhar os apelos veementes e desesperados lançados por cidadãos angolanos na China, mormente os nossos estudantes que se encontram em Wuhan, que pedem socorro ao Governo Angolano para que sejam retirados daquela que se tornou claramente uma verdadeira “zona de perigo”, a passar forme e com falta de quase tudo. Surpreende que a resposta que recebem do Executivo que os deve proteger seja que os nossos cidadãos vão permanecer mesmo lá em Wuhan porque, cito, “a China não recomenda a retirada desses cidadãos”, como se a responsabilidade de protecção da vida dos angolanos fosse do Governo Chinês e não mais das Autoridades Angolanas.


Surpreende que, numa altura em que as debilidades do nosso sistema de saúde não permitem sequer fazer face à malária, o Ministério da Saúde se fique por declarações demagógicas de “está tudo sob controlo”, quando não temos, no país, condições de o fazer; “estamos a acompanhar as informações sobre o evoluir da situação”, como se isso significasse alguma coisa; “estamos a fazer o rastreio”, quando nenhuma medida digna desse nome se nota nas nossas fronteiras e, sobre o chinês hospitalizado na Clínica Girassol, ficamos uma semana à espera que a África do Sul nos diga qual o resultado dos testes para lá enviamos, visto que nós não temos capacidade técnica no país para fazê-lo.


Ficamos estupefactos, pasmos, boquiabertos quando o Ministério da Saúde vem a público minimizar o problema, chegando a afirmar, como ouvimos todos ontem, que as ligações aéreas de e para a China vão mesmo continuar. Dá para acreditar em tamanha falta de senso?


Esperamos que o dinheiro que a China tem estado a emprestar ao Governo de Angola não seja factor bastante para nos esquecermos de que as vidas dos angolanos não têm preço.


Assim, a UNITA, por intermédio do seu Governo Sombra, vem, de forma veemente, deplorar a ligeireza e tibieza com que as autoridades sanitárias angolanas vêm tratando o caso “Coronavírus”, pois, minimizar o problema, é fruto de uma avaliação equivocada do risco a que está sujeito o país, o que vem na contramão do apelo lançado pela Organização Mundial da Saúde.


A UNITA entende que a posição do Executivo angolano deve ser mais vigorosa e responsável, devendo mobilizar todas as capacidades técnicas, logísticas e humanas para a eventualidade do surto, por coronavírus, atingir o nosso país. É assim que a UNITA reagiria se fosse Governo.


Recomendamos ao Executivo angolano que explore todas as possibilidades que estão ao seu alcance, de modo a repatriar os cidadãos angolanos que estão na China e que o desejem. Estes, uma vez em Angola, deverão ser colocados em quarentena, em locais devidamente preparados para o efeito. É assim que a UNITA faria se fosse hoje Governo, neste país.


Além disso, tendo em atenção a debilidade do nosso sistema de Saúde, a UNITA acha que, a exemplo do que muitos outros países estão a fazer, deve-se parar temporariamente com os voos de Angola para a China e vice-versa, até que a poeira assente e a situação seja debelada, pois é imperioso que Angola e os angolanos sejam protegidos à milésima. É assim que a UNITA faria se fosse Governo neste momento. É assim que a UNITA agirá quando for Governo em Angola.


Embora seja, para já, difícil prever o curso da epidemia, nas próximas semanas, a UNITA considera que é altura ideal para se tomarem medidas preventivas, que estejam ao nosso alcance, encetando, desde logo, uma extensa campanha de informação e comunicação que sensibilize a população para adoptar atitudes apropriadas em caso de epidemia. Não se trata, na verdade, de espalhar o pânico, mas antes, de forma metódica e com realismo, alertar os angolanos para a verdadeira magnitude do risco que efectivamente corremos.


Um apertado sistema de vigilância sanitária deverá ser montado para a detecção precoce de eventuais infecções, e deverão ser preparadas as condições, em unidades sanitárias públicas devidamente selecionadas, para garantir assistência adequada a eventuais cidadãos infectados.


Por fim, a UNITA chama a atenção às autoridades para a necessidade do tratamento destas questões com base na verdade e não de forma dissimulada em jogadas políticas que nada beneficiam o destinatário do serviço público, que é o cidadão angolano. A este propósito, gostaríamos de lembrar que, em 2016, a reacção fraca e tardia das autoridades, fincada exactamente nestas jogatinas políticas de muito mau gosto, permitiu que a situação assumisse contornos alarmantes e, infelizmente, milhares de vidas que poderiam ter sido poupadas, sobretudo de crianças e jovens, terminaram em óbito.


Numa altura em que, como é corrente dizer-se, “inaugurou-se um novo paradigma”, não seria bom que este cenário de triste memória voltasse a repetir-se.


É MELHOR PREVENIR DO QUE REMEDIAR, diz a sabedoria popular!

Muito obrigado pela vossa atenção.

Luanda, 1 de Fevereiro de 2020

O Governo Sombra.