Luanda - O ex-Presidente pondera divulgar a forma como alguns atuais dirigentes enriqueceram no seu reinado. João Lourenço admite a possibilidade de Eduardo dos Santos ser investigado

*Gustavo Costa
Fonte: Expreso

O Presidente angolano decidiu dar a primeira entrevista depois da divulgação das investigações do Luanda Leaks. E o principal objetivo foi passar recados à classe política angolana. À Deutche Welle, João Lourenço deixa em aberto a hipótese de a Justiça de Angola vir a seguir outros caminhos, além da investigação a Isabel dos Santos. E não exclui o cenário de o ex-Presidente, José Eduardo dos Santos, vir a ser investigado.

 

O chefe de Estado de Angola assegura que não vai proteger ministros e outras figuras da sociedade e do Governo, se se levantarem suspeitas.

 

Estes recados surgiram dias depois de Eduardo dos Santos, a partir de Barcelona, ter ameaçado divulgar a forma como muitos dos atuais dirigentes angolanos enriqueceram no seu reinado. “Só não abriu a boca porque o general “Kopelipa”, ex-chefe da Casa Civil, foi a correr a Barcelona pedir-lhe que se mantivesse calado, prestando um bom serviço ao país”, revelou ao Expresso fonte próxima do antigo Presidente angolano.

 

Com o regresso a Angola de José Eduardo dos Santos, previsto para março, na abertura do ano judicial, o estabelecimento de uma ponte com João Lourenço é visto como a última oportunidade para fazer baixar a tensão política no país. “Vamos esperar para ver se uma jogada de mestre consegue convencer o Presidente a aceitar a disposição de Isabel dos Santos pagar o que deve e devolver o que transferiu ilegalmente, mas acredito cada vez menos numa solução política”, disse um dirigente do MPLA.

 

À medida que se vai acentuando o divórcio entre o atual poder político e a família do antigo Presidente, cresce o receio de Eduardo dos Santos vir a perder a cabeça. “Se isso acontecer, o MPLA pode ficar reduzido ao PT do Brasil...”, vaticina um antigo funcionário da Presidência.

 

Depois de o PGR de Angola, Hélder Pitta Gróz, ter falado ao Expresso sobre o sinal “ténue” que representava o início das reuniões formais com os advogados de Isabel dos Santos, o Presidente angolano terá sido confrontado nas redes sociais com as palavras proferidas por esta, facto de que não gostou.

 

As últimas declarações de Isabel dos Santos ao sugerir chantagem por parte das autoridades angolanas acabaram por levar o Presidente a endurecer a sua posição, fechando a porta a negociações.

 

Resta saber como agirá a Justiça em relação a alguns funcionários do Estado, como o antigo ministro da Comunicação Social, Manuel Rabelais, e um ex-governador do BNA, envolvidos em esquemas de corrupção, que estão a proceder à devolução de bens e dinheiro. EXPRESSO