Luanda - Com isenção de impostos, começaram por importar do Azerbaijão um galinheiro carregado com uma calculadora especialmente concebida para somar dinheiro ao mealheiro de galáctica chocadeira e ninguém disse nada…

Fonte: Club-k.net


Anos depois, colocaram no galinheiro uma centrifugadora especialmente concebida para subtrair dinheiro ao erário público e ninguém disse nada…


Com um misterioso esquema, pela goela adentro, o galinheiro foi assaltado por uma raposa sedenta de ovos que, depois de raspar o tacho, banqueteou-se com as omeletas e ninguém disse nada…


Domesticadas as babás do jardim infantil, a raposa mobilizou os habitantes do planeta-terra e, com um conto de fados, transformou a venda de ovos na rua no milagre que permitiu gerar em Angola a maior fortuna feminina de África e ninguém disse nada…


Como bons mordomos, de toalhinha no braço, mais tarde, estendemos de bandeja, o lixo produzido em Luanda a uma estrela em pré–lavagem, que o reciclou em emporcalhados bolsos e ninguém disse nada…
Ao ter pretendido fazer concorrência à Madre Teresa de Calcutá, a Rainha D. Isabel José abocanhou a presidência da Cruz Vermelha de Angola, tirou partido financeiro do seu estatuto em matéria fiscal, liquidou a sua imagem e ninguém disse nada…


O germe da cleptocracia ganharia fôlego lá em casa com a entrada em cena, no Fundo Soberano, de um impreparado rapaz cuja única credencial era ser filho do “Pai-Presidente” ido de um mocho, que, disfarçado de banco, era, afinal, controlado e manipulado por um gangster financeiro e ninguém disse nada…


Especializado na gestão de lavandarias, o “príncipe” do mocho, sob excelso patrocínio do pai, lançou âncora sob as reservas do Banco Nacional de Angola e ninguém disse nada…


Fingindo-se avesso à qualquer prática nepotista, contra a oposição de vastos sectores da sociedade civil, “Rei Sol”, ignorando tudo e todos, não resistiu a oferecer à “proprietária de divino aviário” o cesto de ovos que tanto ela ambicionava — a presidência da Sonangol — e ao seu redor ninguém disse nada…


Notável preservador da nossa memória histórica, o chefe do clã não teve pejo algum em caucionar a agressão e a transfiguração da fachada da Fortaleza de S. Miguel como se o nosso passado pudesse ser apagado e ninguém disse nada…


Para cimentar a riqueza em betão armado, emérita filha e marido, através da Ciminvest, negociaram e correram com os portugueses da Cimpor da Cimangola, passaram a deter a maioria do seu capital e chamaram para si o monopólio da importação de clinker, e ninguém disse nada…


Sob sagrada assinatura paternal mergulhada num tinteiro de águas profundas, lavrada a procuração notarial em casa, sem concurso público, o casal apoderou-se do projecto da construção do Porto da Barra do Dande e ninguém disse nada…


A poucos dias de abandonar a Cidade Alta, depois de ter mandado desalojar e despejar para o esgoto da miséria milhares de habitantes da Chicala, dobrado à uma “invulgar veia empreendedora” da filha, “Pai- -Presidente” ofereceu-lhe o projecto da Marginal da Corimba e ninguém disse nada…


Amputando o direito do Parlamento de fiscalizar os actos do Governo como a sua principal razão de ser, “Grande Líder” impôs ao país um dos maiores atentados à democracia e ninguém disse nada…
Numa grosseira violação do direito dos cidadãos a uma informação diversificada e plural, a filha número um do “patrono” mandou ordenar a proibição das emissões do canal televisivo da SIC e ninguém disse nada…


Dos cofres da Sonangol saíram milhões de dólares para financiar a entrada da “menina” na Galp e, ao exigir neste momento o seu retorno, se calhar, agora, ninguém deveria dizer nada…


Dos cofres da UNITEL saíram carradas de milhões de dólares em regime de empréstimo à “dona da empresa” mas, uma vez denunciada a posição de clara vantagem competitiva de que passava a usufruir em relação aos demais accionistas, se calhar, agora, ninguém deveria dizer nada…


Dos cofres da ENDE saíram igualmente remessas de milhões de dólares que serviram para “Madame Dokolo” se converter na sócia maioritária da EFACEC, mas, uma vez descoberto o golpe, se calhar, agora, também ninguém deveria dizer nada…


Transformaram as garantias soberanas em papel higiénico destinado a limpar a porcaria com que, durante anos, a alta corrupção andou a manchar a imagem do nosso país e, destapado uma vez mais o esquema, se calhar, agora, mais uma vez, ninguém deveria dizer nada…


Visto pelo seu antecessor como um mero títere e abraçando a eterna metáfora do criador e da criatura, como escreveu Octávio Ribeiro no Correio da Manhã, João Lourenço deveria comportar-se como um criado que deveria ficar na cozinha e dormir no quarto dos serventes e, se calhar, agora, deveria ficar calado diante da corte…


Quem anda agora a dizer o que não deve são os “amigos da Imperatriz de Portugal” do outro lado do atlântico, que depois de lhe terem estendido o tapete vermelho e de se terem lambuzado com o “El Dourado”, agora lhe viram as costas como se, de repente, ela padecesse de epidemia de sarna de último grau…


Quem, face a tão descarada hipocrisia, deve arrepiar caminho diante de histórias nada edificantes para a imagem de Angola, são muitos dos nossos políticos e governantes que, depois de se terem concubinado em sessões de “striptease” financeiro com alguns advogados e consultores portugueses, desses recebem agora este simpático troco: “se la he visto, no me
acuerdo”…


Quem, por esta e outras razões, não está disposto a inalar o cheiro de dinheiro sujo, são alguns escritórios de advogados angolanos, que recusando participar na defesa da “ filha do soberano” depois de esta os ter ignorado e humilhado a favor de advogados portugueses, preferem manter intacta a sua verticalidade a amancebar-se no esgoto da imoralidade…


Quem não resistiu a sucumbir à inspiração de um amanuense de segunda, foi o pai que, através de uma escrita invertebrada sacada a ferros do infantário, depois de ter posto em causa a gestão de várias administrações da Sonangol por si nomeadas, acabou por protagonizar um verdadeiro salto de canguru quando se tratou de diagnosticar o mandato da filha…


Quem prestou um grande serviço à família foi a “segunda meia irmã” que, perante o confessionário, acabou por destapar o amancebamento da “primeira meia irmã” com remessas de dinheiro ilícito…


Apanhada com a mão (o antebraço, o braço e o pé) na massa, em passo de corrida, Rainha D. Isabel José foi ao “mercado de inverno”, despejou milhões de euros e sacou do Liverpool a mais sonante contratação da época: Joacine!


Desorientada e irritada por ter sido apanhada “em flagrante delícia”, de “vovuzela” na boca, em delirante arrebatamento, pôs-se aos gritos e vomitou a bílis bloquista: M e n t i r a! m e n t i r a! não fui eu! não fui eu!


Apanhada com a boca na botija, a “dona da coroa”, sem argumentos, desceu da poltrona e, com a mão na cintura, recorrendo à arma dos fracos, dos arrogantes e dos derrotados, desatou a hastear a bandeira da perseguição política. E do racismo. E do colonialismo.


Da mesma perseguição política de que foram vítimas alguns jornalistas, activistas políticos e sociais e intelectuais independentes que, no passado, ergueram a voz contra o saque desencadeado a partir do Palácio da Cidade Alta.


Da mesma perseguição política que presidiu à sua nomeação para o cargo de Presidente do Conselho de Administração da Sonangol com a encapotada (e mais tarde abortada) intenção de se posicionar, a prazo, como sucessora do pai…


Da mesma perseguição (política) ao pote que, de tão desenfreada, levou agora a ex-euro-deputada Ana Gomes a colocá-la nos píncaros do estrelado mundial colando à sua diamantífera lapela este simpático epíteto: “ladra”…


Do mesmo racismo que, estabelecida na UNITEL a lua de mel com a PT Ventures e depois o divórcio com a OI, só a sua ganância impediu que, no passado, não se chegasse a acordo para sanar um diferendo cujos custos não ultrapassavam então os 200 milhões de dólares contra os mais de mil milhões de dólares agora pagos aos brasileiros…


Do mesmo colonialismo que depois de a ter rodeado “de homens e mulheres de raça branca que lhe sorriam, abriam alas, bajulavam, quase lhe faziam vénias”, aconselha-a agora a ler o que escreveu Miguel de Sousa Tavares: “Oh Isabel de África e do mundo, o dinheiro não tem raça!”


Por aqui e lá em casa, “oh Isabel de África e do mundo”, o dinheiro só teve um nome: ganância! De ovos. De diamantes. De dólares. De terrenos. De garantias soberanas. E até do ar que respirávamos! Sim, ganância, a doença da Princesa. A doença da família..