Luanda - Ainda sob efeito da overdose do ‘’Luanda Leaks’’, sentado com apenas um pacote de pipocas assisto o "Perfume de Mulher". A cena: Al Pacino, no papel de um tenente-coronel cego, convida a bela Donna, interpretada pela linda Gabrielle Anwar, para uma memorável dança de tango. A trilha sonora de um dos momentos mais reproduzidos na história cinematográfico é também um dos tangos mais famosos da história: "Por Una Cabeza" do francês (ou uruguaio? não sei ao certo) radicado em Buenos Aires, Carlos Gardel.

Fonte: Club-k.net

Já é sabido que a conjuntura do pós-guerra proporcionou a este país magnífico uma oportunidade ímpar.

Não seria exagero colocar o belo tango como trilha sonora para o momento que Angola atravessa. Há uma expectativa enorme com relação às eleições municipais, as autarquias, que deverão ocorrer a qualquer momento. Entre estagnações da situação financeira e crise económica, o povo angolano está diante da difícil encruzilhada: dobrar a aposta, eleger o governo do MPLA, ou lançar novas apostas aos partidos que nunca antes governaram.


O governo de João Lourenço tomou posse no fim de 2017, pondo fim ao período Eduardista, marcado por forte presença estatal na economia e pouca transparência nas contas públicas e dados económicos.


O início do governo visava um objectivo. Fazer com que Angola recuperasse um nível razoável (elevação do rating mundial) para voltar a receber grandes investimentos internacionais. Assim, logo nos primeiros meses, JLo olhou para o "cepo cambial" e começou um aperto fiscal, na tentativa de reverter o quadro deficitário das contas públicas.


No entanto, as mexidas do ‘’cepo cambial’’ levou à desvalorização do Kwanza face ao dólar, acarretando um aumento de preços no país. Evidentemente, o aumento no preço dos produtos da cesta básica e outros serviços públicos trouxe insatisfação à população. De acordo com alguns economistas angolanos, o aumento das taxas era necessário, mas a velocidade da mudança acabou por gerar inflação no país.

Buscando implementar uma mudança na política económica do país e garantir, ao mesmo tempo, crescimento económico, JLo pode ter ido com muita sede ao podium. O facto é que o presidente encontrou inúmeras dificuldades inesperadas para a retoma económica e, em meio de três anos de governação fica cada vez mais difícil pagar as dívidas angolanas – uma vez que grande parte da dívida é externa. Nesse contexto, cresce a insatisfação com o seu governo e as incertezas no mercado.

De 2017 para cá, JLo vem batalhando para atrair os tão sonhados investimentos estrangeiros. A ideia continua a ser combater a corrupção, a inflação e a desvalorização da moeda angolana.


Com a economia em colapso e refém dos investidores internacionais, Angola escolheu um novo presidente em 2017, mas isso não importa: o vencedor serão os angolanos.


Esse cenário económico foi o principal pano de fundo para as discussões em torno das eleições de 2017. JLo na busca pela eleição – sob a promessa de iniciar o seu trabalho de tirar o país da crise.


A acumulação primitiva do capital em angola ocorreu há cerca de duas décadas e nessa altura as suas regras de jogo eram outras. Não é necessário determo-nos na lógica interesseira, tão pouco na incapacidade demonstrada por muitos membros da elite para articular esta justificação para as desigualdades existentes em Angola.

Hoje em dia, há muitos indícios de que as <<riquezas encobertas>> do financiamento assegurado pelo sector do Petróleo e Diamante estão implicados em casos de bajulação, corrupção e no nepotismo angolano.

A política populista moderna prioriza a forma sobre conteúdo, anima a divisão e o ódio e manipula símbolos nacionais como se fossem propriedade pessoal. Porém o mau jornalismo tem sido o melhor amigo do populismo, rendendo-se à subjectividade, rainha e detentora de certas redes sociais.


É necessário compreender que a proliferação de informação sobre a empresária Isabel dos Santos não vai resolver o problema da corrupção e irregularidades em algumas escolas públicas que cobram 100 ou 80 mil kwanzas para matrículas, ou ainda a subida dos preços nas universidades privadas – se não pagar, não estuda. As vias públicas continuam sem iluminação, alguns polícias continuam na rua sem identificação a incomodar o cidadão. Problemas ainda persistem nos hospitais e os preços dos produtos da cesta básica continuam a subir. Estes problemas ‘‘corruptos’’ também são urgentes e precisam de ter uma atenção do bom jornalismo.

Um dos riscos do jornalismo é o de se deixar contagiar pela subjectividade, alienando o seu capital de confiança, junto do público e da sociedade.

Defendo, assim, que sejam divulgadas as leis e todo o conjunto de medidas já existentes sobre os males que arruinaram Angola, pois todas as ambições são legítimas, excepto aquelas que trepam por cima da miséria ou da credulidade das pessoas.


O MPLA deve posicionar-se na linha da frente do combate a todos os males que afectam o povo angolano.


Vou continuar sentado na sala a espera da série, depois do filme. Enquanto isso, observarei o mar e entrarei em sintonia com o oceano. As ondas já começaram a despontar no horizonte. É preciso remar forte para se posicionar e pegar a melhor onda.

A onda perfeita ainda está a caminho...

Entre opinião, crônicas e ensaios esta é a minha visão.

EDGAR LEANDRO