Luanda - Acusados de se terem apossado de mais de mil imóveis arrestados pela Procuradoria Geral da República angolana, os três acionistas do maior conglomerado privado de media de Angola, Media Nova, negam qualquer ligação ao consórcio que construiu os edifícios e, alegando perseguição, ponderam vender o grupo.

*Gustavo Costa
Fonte: Expresso

Os três acionistas do Media Nova são os generais Hélder Dias “Kopelipa” e “Dino” Nascimento (ex-chefe dos serviços de comunicações de Eduardo dos Santos) e o ex-vice-presidente Manuel Vicente. A Procuradoria Geral da República (PGR) acusa-os de ligações ao consórcio que construiu os imóveis, China International Fund (CIF), o que os três negam ao Expresso.

Ao que apurámos, o embaixador chinês em Angola, Gong Tao, reuniu-se com as empresas chinesas envolvidas nas obras, paralisadas após a detenção do ex-patrão do CIF, Sam Pa. Segundo a PGR, Fernando Gomes dos Santos, ex-jurista da Sonangol, e Samora Albino, do Grupo Auchu, subscritores do pacto social do CIF Angola, terão sido testas de ferro de um negócio avaliado em mais de 400 milhões de dólares. A investigação estender-se-á ao braço do CIF em Hong Kong,

“Estamos a ser alvo de muitas inverdades”, disse ao Expresso o general Dino, um dos principais proprietários da TV Zimbo, do jornal “O País” e da Rádio Mais.

Agastado com informações que o associam ao CIF, o general Kopelipa, antigo diretor do Gabinete de Reconstrução Nacional (GRN) refutou em declarações ao Expresso as acusações e garantiu não ter “nenhuma participação social nem no CIF nem em nenhuma outra empresa chinesa”.

O general, na reserva, revela ainda que o GRN limitou-se a conceder os terrenos baldios ao consórcio liderado por Sam Pa, que, diante de Eduardo dos Santos, se comprometera a erguer no Zango um vasto conglomerado habitacional e empresarial.

“Pode ter havido algumas irregularidades na tramitação administrativa ligada à propriedade dos terrenos e outros procedimentos inerentes ao processo de investimento estrangeiro”, reconheceu o general Kopelipa.

Também o general Dino desmente qualquer ligação ao CIF. “Não detenho nenhum interesse no projeto do Zango, nem a minha carteira de negócios contempla qualquer tipo de compromisso com os chineses do CIF”, disse, garantindo que, por isso não foi afetado pelo arresto.

Este antigo quadro da Presidência emitiu mesmo uma nota de protesto contra a Televisão Pública de Angola, depois de esta lhe ter atribuído a titularidade de “edifícios, creches e clubes náuticos” agora apreendidos pelo Serviço Nacional de Recuperação de Ativos da PGR.

Na versão dos três acionistas do Media Nova, os edifícios agora arrestados pertencem ao CIF Limited Hong Kong, que se havia associado à Sonangol no domínio petrolífero e à Endiama na área dos diamantes.