Luanda - Já lá vão alguns bons anos quando escrevi que era necessário ao jornalismo passar para a fase seguinte, pois no caso da corrupção e da má governação já não bastava constatar evidências sem falar delas em pormenor, casuísticamente, para provar que de facto e de jure elas eram mesmo uma realidade preocupante a afectar seriamente o interesse público/nacional e o futuro das gerações vindouras.

Fonte: Club-k.net

Na altura já havia efectivamente muita opinião crítica sobre os dois fenómenos, mas faltavam histórias/matérias sólidas sobre como na prática a corrupção e a má governação estavam a destruir silenciosamente o país, qual mal canceroso em franca progressão antes de ser diagnosticado e tratado.


Todos nos lembramos que na altura o discurso oficial reagia a estes comentários contra-atacando furiosamente os críticos com a maka das provas e com acusações de falta de patriotismo, enquanto a um nível mais informal se iam apelidando as pessoas de invejosas ou frustradas, sendo os jornalistas independentes os alvos preferidos deste tipo de recados.


É neste contexto que nasce o Makangola.com como um projecto jornalistico orientado especificamente para a luta contra a corrupção, fenómeno que curiosamente já havia sido identificado pelo próprio JES como o segundo mal que afectava o país depois da guerra, ainda no tempo da própria "kitota".


Rapidamente o Makaangola entra (e instala-se) na agenda política nacional, transformando-se numa referência internacional pela aposta do seu fundador num jornalismo de cruzada que mantendo a critica directa ao desempenho do Governo através do comentário e da análise, começa a apostar seriamente na investigação como sendo a melhor e mais convincente forma de denunciar a gestão de JES.


Marques estava absolutamente convencido que o país estava a ser saqueado no âmbito de uma ditadura perfeita, isto é, com o melhor batôn deste mundo.
Não há aqui, neste contexto, como separar a denuncia da investigação, pois quanto mais consistente for a matéria do ponto de vista dos factos apurados, maior será o seu impacto, maior será a sua força denunciadora.


A eficácia desta aposta está na essência objectiva do jornalismo que privilegia a informação abrangente, com base na qual depois cada um é livre de construir a sua própria opinião.


Sempre o disse que uma das caracteristicas mais preocupantes do nosso jornalismo era (e continua a ser) exactamente a informação superficial sobre o desempenho da governação, como resultado de vários condicionamentos que têm várias leituras.


A aposta do Makangola/Rafael Marques no jornalismo de investigação constitui-se assim na trave mestra do projecto que investe igualmente na análise com destaque para a jurídica.


É evidente que nem tudo o que o Makangola dá à estampa é jornalismo de investigação, nem é este o seu compromisso público.


O projecto está aberto a todos os géneros jornalísticos, sendo claro que em termos de orientação editorial o Rafael Marques abraçou a ideia segundo a qual o jornalismo não tem que ser necessariamente neutro/apolítico, podendo tomar partido, podendo defender uma causa, desde que a sua narrativa se apoie no levantamento o mais objectivo possível da realidade que se pretende escalpelizar.


Em Angola, note-se, é a própria Lei de Imprensa que incentiva este tipo de orientação editorial ao definir como sendo de interesse público a informação que visa, nomeadamente, promover a boa governação e a administração correcta da coisa pública.


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