Luanda - Se o casamento da filha de 'Nandó' foi uma provocação involuntária, da qual foi cúmplice incauto o Presidente João Lourenço; o casamento da filha do general 'Dino' foi uma provocação assumida, voluntária (também podemos pensar que em ambos os casos não foi uma coisa nem outra, falamos e falámos de dois pais que casam as suas filhas como a dignidade, não tanto com o bom gosto, dos seus cargos e das suas fortunas, só isso). Não, não é nada disso.

Fonte: Facebook

O general 'Dino' não se exilou, não pretende escapar à justiça angolana e até contestou as acusações que lhe foram feitas, recentemente, através de um comunicado do Serviço Nacional de Recuperação de Activos e reproduzidas pela TPA. E casa a filha com pompa e circunstância. E isto é um 'statement' político. É um recado para o poder: vocês dizem que eu devo... acontece que eu não temo.


É por isso essencial que se faça um cordão sanitário em volta do Presidente João Lourenço (e ele deve ser o primeiro a promovê-lo). Hoje, mais do que nunca, o PR tem de ter o apoio de tantos e de quase todos, do partido e fora dele, diria mesmo que, essencialmente, fora dele, na sociedade civil. E é também por isso que partilho, nas maioria das vezes, do que afirma Rafael Marques. E, de certa forma, até posso estar de acordo com esta ideia mais ou menos benevolente que o sistema se auto-regenera.


Mas...

Os partidos só mudam se se sentirem ameaçados. E o MPLA está preso na sua própria armadilha. Quem lidera o partido, algures, teve consciência de que tinha de ser feito um combate sério à corrupção - não no discurso, esse vem de longe -, mas na acção; o contrário implicava a não sobrevivência do partido do (no) poder e a morte lenta do país. Mais ainda, que, e ao mesmo tempo, esse combate enfraqueceria o MPLA.


Por exemplo, quando a vice-presidente do partido afirma: "pensamos que as riquezas que o nosso país tem devem ser divididas por todos os angolanos para melhorarmos, de facto, as condições de vida dos angolanos", temos a melhor das intenções com um problema... transformar o MPLA numa espécie de Robin Hood, tirar aos ricos para dar aos pobres, parece-nos perfeito, a chatice é que nesta versão da história os ricos são do MPLA. São homens como o 'general Dino', tal Sheriff de Nottingham, absolutamente indiferentes à desgraça alheia.

 

E é isso que perturba em mais este episódio de ostensiva decadência moral e exuberante riqueza física.