Luanda  -- O secretário-geral da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), Agostinho Kamuango, acusou hoje a polícia angolana de ter agredido manifestantes e usado força excessiva para travar uma tentativa de protesto em Luanda.

Fonte: Lusa

"A atuação da polícia foi péssima. Mudou-se de condutor e o carro é o mesmo", disse a Lusa o líder do braço juvenil da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), acrescentando que alguns manifestantes foram presos e outros agredidos.

 

"Temos companheiros no hospital, outros detidos", afirmou Agostinho Kamuango, acrescentando que foram "recolhidos telefones, carteiras e documentação".

 

Agostinho Kamuango queixou-se também de "empurrões e ameaças" quando se encontrava junto da Assembleia Nacional e chegou a ser forçado a entrar numa viatura policial, tendo sido libertado logo a seguir.

 

Entre os feridos estarão também jornalistas, segundo indicou.

 

Em declarações à Lusa o jornalista da Palanca TV José Kiabolo disse que ele e o seu colega de imagem foram agredidos por agentes da polícia angolana enquanto cobriam a manifestação.

 

"Eu, particularmente, fui violentamente agredido por vários agentes, estou neste momento com ferimentos nos braços e no pé em consequência da carga policial, o meu colega da imagem também e inclusive danificaram a câmara", contou o jornalista à Lusa, lamentando a situação.

 


O objetivo do protesto convocado pela JURA e pela Juventude de Renovação Social (JURS), afiliada ao Partido de Renovação Social era contestar o novo presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), Manuel Pereira da Silva, que hoje deverá tomar posse na Assembleia Nacional.

 

Agostinho Kamuango adiantou que houve "tumultos" em vários locais nas proximidades da Assembleia Nacional e que, cerca das 13:00, os manifestantes continuavam a ser "escoltados" pela polícia, na Estrada Deolinda Rodrigues em Luanda.

 

Relatou que pelas 07:30 o perímetro policial estava já estabelecido junto à Assembleia Nacional, pelo que foi necessário encontrar alternativas "para concretizar o objetivo" do protesto.

 

O líder da JURA disse que seriam cerca de 1.500 os jovens que tentavam chegar ao parlamento angolano, mas "a repressão começou nos arredores" e a polícia dispersou a manifestação à força, recorrendo a cães e bastões antes de chegar a acontecer.

 

O viaduto Zamba II, na Samba, foi uma das zonas mais críticas, devido ao lançamento de gás lacrimogéneo que terá atingido uma escola e estabelecimentos comerciais nas imediações.

 

A polícia de Luanda não confirmou à Lusa estas informações e disse que se concentravam na Zamba II entre 50 a 60 manifestantes que a polícia dispersou para "manutenção da ordem pública".

 

O líder da juventude partidária reforçou que os manifestantes queriam apenas "fazer um exercício de cidadania" e promete mais ações para breve.

 

"Temos de contribuir para a mudança de regime", frisou, criticando o MPLA por querer "impor um cidadão" à frente da CNE, que suscitou controvérsia por parte da oposição.

 

Manuel Pereira da Silva "Manico" foi eleito pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial, mas a decisão foi alvo de uma providência cautelar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que não foi aceite pelo Tribunal Supremo.

 

A segunda maior força política angolana contesta a escolha de Manuel Pereira da Silva pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial, devido a várias irregularidades registadas no concurso curricular para o provimento dos cargos de presidente da CNE e de presidente das Comissões Provinciais e Municipais Eleitorais.