Lisboa - Entre o ano de 2012 a 2013, a agencia central do Banco Poupança de Credito (BPC) na província de Malanje sofreu um arrombo financeiro de cerca de 497 milhões de kwanzas. Uma equipa da PGR, chefiada pelos procuradores Wanderley Bento Mateus e Manuel Beato Paulo foi despachada a Malanje para investigar o assunto dando lugar a abertura do processo 60/14-DNIAP. Logo a seguir um dos procuradores recebeu o credito de 13 milhões de dólares do banco que andou a investigar. Passados que são seis anos, não se ouviu mas sobre o caso. Mas Fonte do Club-K, garante que o processo “evaporou-se” das gavetas da procuradoria.

Fonte: Club-k.net

A nível bancário na província de Malange, o BPC tinha uma responsável máxima, Ilda Maria Elias Silva “Boneca”, que atendia pelo cargo de diretora para a região norte. Tinha competências para aprovar créditos até Akz 30 000 000 sem a aprovação do Conselho de Administração do Banco em Luanda. Com a saída da então gerente do balcão central de Malanje, Brite de Fatima Pereira Antunes Sherman foi nomeado um outro gerente vindo de Luanda, Valodia Garcia. Nada se fazia na agencia sem a autorização de Ilda Silva.

 

Quando em Fevereiro de 2014, o novo gerente Valodia Garcia começou a exercer as suas funções laborais na agência central de Malanje constatou algumas irregularidades que já eram do conhecimento do Conselho de Administração, em Luanda.

 

Em Julho de 2014, a direção do banco em Luanda despachou para Malanje uma equipa de auditoria com o objetivo de apurar a veracidade sobre a existência de credito mal concedidos sem documentação com valores muito altos. Compulsando os arquivos, os auditores não conseguiram encontrar documentação de suporte.

 

Na altura, a diretora regional Ilda da Silva “Boneca” estava fora da província. Os auditores entraram em contacto com ela por telefone para saber sobre o paradeiro da documentação relacionada aos créditos e esta respondeu que estavam “guardados na direção”.

 

Não obstante, a diretora não ter estado presente para poder dar todos suporte documentais, fonte do Club-K que acompanhou o assunto esclarece que “a verdade é que não existiam documentos nenhum até hoje porque os créditos eram dados por via de esquemas e os beneficiários não apresentavam nenhuma garantia ao banco”.

 

Segundo a fonte, a diretora “concedia também créditos as peixeiras de Malanje sem documentos, ela fazia se de sócia das peixeiras concedendo milhões kwanzas que ela transacionava nas contas destas peixeiras”

 

“Depois desta auditoria na agência fora encontrado também um desfalque na casa forte 497 milhões de kwanza em papéis em facturas falsas dando como saída de dinheiros para pagamentos de serviços”, que no entender da fonte “era o meio mas fácil de sair dinheiro do banco com as assinaturas da directora Ilda da Silva e do ex-subgerente Mauro Fonseca que autorizavam as saídas dos valores”.

FUNCIONÁRIO FICA COM CREDITO DE CLIENTE

Em Agosto daquele mesmo ano apareceram no balcão da agência do BPC em Malanje três clientes agentes da polícia nacional a reclamar sobre o crédito que tinham feito manifestando insatisfação com os valores concedidos. A gerencia do Banco constatou que o funcionário Joaquim da Silva “Pico” foi quem fez o carregamento do credito tendo subtraído para o seu benefício pessoal a quantia do três milhões de kwanzas (3,500.000,00) do empréstimo destinado aos três agentes da Polícia. Com o dinheiro, o  funcionário “Pico” comprou uma viatura de marca “hyunday Azera”.

 

O funcionário Joaquim da Silva “Pico” realizou esta operação quando a antiga gerente Brite de Fatima Pereira Antunes Sherman foi afastada, e a diretora Ilda da Silva “Boneca” indicou-lhe para interinar até a chegada do novo gerente que Luanda estava a enviar. Depois do episodio dos três policias que aparecerem na agencia, já com o novo gerente, o funcionário Joaquim da Silva “Pico” não voltou mais a ser visto no trabalho (balcão em Malanje).

 

“Desde daquela data o Joaquim da Silva ficou foragido da agência e nunca mas apareceu. A tia dele (Boneca)  encobertou-o  todo este tempo até 2016  até ter sido  transferido  para ir trabalhar numa agencia na cidade do Dondo”, conta uma fonte que pediu anonimato lamentando por outro lado que “tanto a auditoria como a Direção jurídica do BPC não tomou nenhuma providência a cerca disto, e ele ficou impune”.

 

Não tardou muito foi enviada de Luanda uma equipa da Procuradoria Geral da República encabeçada pelo procurador Manuel Beato Paulo, para fazer um inquérito na agência para constatar ilicitudes contra aquele banco estatal. Segundo fonte que acompanhou o assunto, os procuradores levaram consigo todas as evidências e provas que haviam para se constatar que de facto ocorreram transações e pagamentos ilícitos que prejudicaram o BPC. Os procuradores levaram também consigo todos os extratos bancários e alguns documentos inerentes ao processos em causa.

NOVO GERENTE SOFRE ATENTADO

Segundo constatação, em menos de 6 meses de trabalho em Malanje, o novo gerente Valodia Garcia que andou a descobrir os desfalques tornou-se numa “pedra no pé de sapato” de mãos invisíveis na banca em Malanje. Numa manha, do dia 11 de Setembro 2014 quando eram precisamente 7h30min, dois elementos encapuzados colocaram bala na câmara apontando a pistola na cabeça do gerente do BPC, Valodia Garcia quando este saia de casa. Fizeram-lhe três disparos atingindo a área do abdômen rasgando o fígado e os pâncreas perfurando duas costelas do lado direito com ferimentos graves. O gerente foi levado ao hospital provincial de Malanje para os primeiro socorros na qual foi operado de emergência. No dia 29 de Setembro 2014, o gerente foi evacuado para clínica girassol, em Luanda. Recuperou e devido ao trauma não voltou mais a Malanje.

 

A tentativa de assassinato do gerente foi sempre vista como uma tentativa de silenciamento visto que dizia-se que “estava a descobrir muitas coisas comprometedoras”. Para dar seguimento ao assunto, o Tribunal Provincial de Malanje, notificou, mais tarde, o ex- funcionário do BPC, Joaquim Silva para esclarecimento. Também conhecido por “Pico”, Joaquim Silva é a pessoa a quem algumas testemunhas alegavam ter visto um dos atiradores a colocaram-se em fuga numa viatura supostamente conduzida por alguém com as suas caracteristas. “Pico” chegou a ser detido mas acabou sendo solto e transferido para a cidade do Dondo, como bancário.

 

O SIC esteve a investigar sobre a tentativa de assassinato ao gestor Valodia Garia e foi aberto o processo 61/14 que fora depois requisitado por Luanda para ser acompanhado por um investigador Caetano Mufuma.

 

Sobre o buraco de 497 milhões de kwanzas – resultado dos créditos concedidos sem garantias - as autoridades confiaram o processo (60/14- DNIAP) a um jovem procurador do DNIAP, Wanderley Bento Mateus, o mesmo que recentemente mandou prender no Cunene, um general sem mandado de detenção. Segundo soube o Club-K, o processo sumiu na sede do DNIAP que agora tem Wanderley Mateus como diretor. Por outro lado, o então coordenador do DNIAP, Manuel Beato Paulo que inicialmente conduziu o grupo de inspeção em malanje

 

Em Setembro daquele mesmo ano foi noticiado que o então procurador que conduziu o grupo de investigação Manuel Beato Paulo, recebeu, um empréstimo de US $13 milhões de dólares o Banco de Poupança e Crédito (BPC). O empréstimo serviu para a construção da sua universidade privada em Viana, Luanda. A administração desse banco, segundo fonte que acompanhou o assunto, mostrou-se entusiasmada em ter o coronel Manuel Beato Paulo como seu "cliente" privilegiado”. Para outras fontes, ficou mal o procurador ter tido o previlegio de receber um empréstimo de um banco que ele investigou e cujo processo das suas apurações desapareceu misteriosamente.

“A PGR disse-nos que estava sem meios para se seguir a investigação”

Em Março de 2016, partes interessada no processo procuraram pedir esclarecimento e foi lhes dito que “O procurador que está com caso é o Dr Wanderlay e o procurador Mendes”.

 

“Depois deste tempo todo sem resposta da procuradoria registava se muito selênio do assunto, fomos a Procuradoria Geral da República ter com o procurador Wanderley para obter informar em que ponto estava o caso simplesmente fomos informado que o caso estava sem meios para se seguir a investigação” disse a fonte lembrando que “até hoje não se resolveu nada”.


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