Luanda - Nações, governos e organismos regionais e mundiais mostram-se cada vez mais perplexos e perturbados com o surgimento e avanço progressivo do surto epidémico COVID-19, que se vai alastrando em quase todos os continentes como um furacão imbatível deixando governos e instituições sem soluções/respostas diante da sua acção implacável. Contam-se até à data cerca de 90 países atingidos pelo vírus mortal.

Fonte: Club-k.net

  O Caso de Economia Angolana

Conforme referi em escritos anteriores, o mundo tornou-se imprevisível – é o novo normal.


Esta imprevisão decorre de um fenómeno recente a que convencionamos tratar por globalização. A globalização consiste na mudança das tendências comerciais para uma economia global mais integrada e interdependente.


A globalização compreende duas componentes fundamentais: a globalização dos mercados e a globalização da produção.


Durante meio século o comércio internacional registou uma expansão muito mais célere do que a própria produção global. Entre 1950 a 1999, o volume do comércio internacional aumentou vinte vezes mais do que o período anterior, enquanto o valor ajustado da inflação do produto interno bruto (PIB) registava um aumento de pouco mais de 6.3.


Finais da década de 90 e princípios da década de 2000, não constituiram excepção à esta tendência de longo-prazo. Nos primeiros nove meses de 2000, o comércio internacional conheceu um incremento na ordem dos 12% na taxa de crescimento anual.


Este grande impulso ao comércio internacional deveu-se a três factores: o primeiro relacionado com o robusto crescimento da maior economia mundial, EUA, resultando numa maior procura pelos EUA por produtos de importação, que cresceu a uma taxa de 20% durante os primeiros nove meses de 2000. Contrariamente a esta tendência, os níveis de exportação registaram um crescimento na ordem dos 14% no período análogo.


O segundo factor é imputável à contínua recuperação dos países asiáticos da crise financeira de 1997-1998, que vem alimentando o crescimento do comércio internacional. O valor das importações e exportações da Ásia registou um incremento na taxa anual de crescimento na ordem dos 27% nos primeiros nove meses de 2000 (excluindo a China e o Japão).


O terceiro factor é atribuido ao rápido e contínuo crescimento económico, o valor do comércio chinês registou um incremento suprior à um terço nos primeiros nove meses de 2000. Esta tendência de crescimento para a China continuou até ao surgimento do COVID-19 em 2019. Durante este período o Japão registou uma expansão no comércio internacional na ordem dos 23%.


Esses desenvolvimentos propiciaram um maior intercâmbio comercial e cultural, maior circulação de pessoas e bens, acesso mais rápido às tecnologias, melhor comunicação, inovação e informação, rompendo fronteiras e barreiras limitrófes, transformando o mundo numa verdadeira

aldeia global. Países abriram as suas fronteiras ao mundo facilitando a saída e entrada de pessoas através da simplificação dos seus procedimentos migratórios.

Porém, o mundo esteve sempre ciente de que a globalização tem os seus benefícios, mas, à semelhança da “rosa e o espinho”, também tem as suas consequências.


Além do desemprego crescente resultante dos avanços tecnológicos e a feroz competividade no mercado económico, a globalização trouxe também consigo a má qualidade na alimentação e doenças, sobretudo em alimentos processados com elementos químicos e artificiais nos seus processos de produção.


Vacas são alimentadas com produtos químicos para produzir mais leite e aumentar o peso para atender a larga produção e as vendas industriais. Como consequência desta prática, o mundo vem registando uma queda na qualidade de vida da população resultante do consumo exagerado de agrotóxicos nos alimentos, responsáveis pela proliferação de doenças cancerígenas.


Agora surge o COVID-19, que ataca a aldeia global em todos os seus flancos e desafia todas as previsões. Com a globalização o COVID-19 encontrou tapete vermelho para desfilar, pondo em causa as economias, os sistemas de saúde e os planos governamentais.


As incertezas quanto ao desfecho do surto aflige nações, governos e povos. O mundo nunca mais será o mesmo, fronteiras ontem escancaradas, hoje procuram precaver-se a todo custo dos ilustres desconhecidos, os hábitos e costumes dos povos sofrem mutações bruscas, todos procuram preteger-se do contágio, escolas fechadas, comércios encerrados, industrias paralisadas, indivíduos e famílias em quarentena social e hospitalar e ruas desérticas, é o cenário que se vive um pouco por todo mundo. Salve-se quem puder.

Angola não está isenta das consequências deste fenómeno epidémico, que vem retraindo cada vez mais a produção industrial na segunda maior economia do mundo, a China, o maior mercado de exportação do petróleo angolano e exportador de bens diversos para a economia angolana, sobretudo nos sectores da construção e industria, com sérias implicações logísticas e na cadeia de suprimentos.

O COVID-19 vem alertar Angola e sua economia de que chegou o momento de levar a sério o processo de diversificação da economia, devendo conferir-lhe maior celeridade olhando para dentro, contemplando as suas potencialidades e explorá-las o máximo possível em busca da autonomia na produção industrial alimentar e não alimentar.

O que é feito das nossas indústrias? Onde está o nosso parque industrial: a Induve, a Panga-Panga, a Paviterra, a Cotonang, a Mabor, a Emproe, a Vidrul, a Cipal, a Vilar, a Combal, a ERT, a Condel, a Frescangol? as texteis: Confex, Sociborda, Fiaco, Imavest, Sovest; a Curbol e outras?

Simão Pedro

Jurista, Politólogo e Especialista em Gestão Internacional de Empresas