Luanda - Mesmo na montanha, tenho acompanhado atentamente tudo o que se passa ai na terra de Nzinga, em especial a telenovela Autarquias. Às vezes dá-me impressão que há uma transferência de sentido e significado dos conceitos, ou seja, existe uma certa adulteração do significante e o significado quando se fala de autarquias. A priori, autarquias significa governo, administração autónoma que processa sem interferência do poder central e, como sabemos é consagrado na nossa Lei Magna (art°. 213...). Quando o executivo defende o gradualismo como princípio, rotulado de máximas económicas, alegando que certas localidades não podem sustentar-se per si mesmos, não está, desta forma, defendendo as autarquias mas sim a autarcia.

Fonte: Club-k.net

Isso mesmo, o executivo é defensor de autarcia em Angola e não de autarquia. E então, o que é autarcia? É uma sociedade economicamente auto-suficiente, que procura produzir tudo o que necessita; governo independente. Ora, a visão autárquica do executivo cinge-se apenas do ponto de vista material, mas esqueceram-se que as autarquias têm também algo de mais importante, que é o aspecto espiritual. Para um país como nosso que tem uma jovem paz, deve optar numa autarquia com condão espiritual, alegar materialidade para a restringir no gradualismo, como faz o executivo, não serve para o nosso pais, pois o material encobre o vazio das coisas, confundi e nos mascara de grandeza. Se Angola é um país maioritariamente jovem, pobre, é necessário retribuir a este povo a paz verdadeira que não é o calar dos gatilhos, é sim dar o direito à liberdade, o poder de escolha, o poder de dicidir a este povo que tanto precisa. A constituição no seu art. 1° apresenta Angola como Res-publica, isto é, coisa do povo, onde reina a igualdade, justiça, liberdade, democracia, paz...


Então, constitui um grande paradoxo atribuir autarquias por sectores, ou seja este tem aquele não tem. Somos uma nação ou não afinal? Quem é o antes e quem é o depois? A se implementar o gradualismo podemos afirmar que seomos um pais onde existe povos com separação de direitos. O direito não se adia, ou é para todos ou para ninguém.


Ao contrário tirem o slogan de Angola, nação una e indivisível onde a luta continua. Só a título de exemplo, o facto de o pequeno camponês lá do tchicalatcholoanga ter o poder, liberdade de escolha e decidir sobre a sua comunidade, isto já constitui uma riqueza sociocultural, ele sente-se motivado, mesmo às vezes faltando pão, isto gera desenvolvimento, porque é a partir da motivação do povo de fazer o quer, de escolher/decidir que contribui para o rápido desenvolvimento do pais gerando riqueza. Algumas vezes, o que o povo precisa não é de matéria, mas de ideias e se tiver um líder da sua comunidade sobre sua escolha onde conversa com ele na alma e no espírito, o material aparece e o pais cresce. O executivo tem e deve perceber que a cidadania é um sentimento de pertença a uma colectividade e se constrói mediante o preço de um esforço de unificação identificadora por parte do estado-nação, transportando os particularismos, ela integra as populações numa comunidade de cidadãos fundada sobre um projecto e instituições políticas comuns. E para isto as autarquias são fundamentais. O gradualismo ofende o direito a igualdade, cria separação, ódios. É urgente o executivo deixar a sua mala de arrogância, ouvir o povo.

 

Esta é a nossa oportunidade de escolhermos o certo no momento certo. Eu, até bem pouco tempo eu defendia o gradualismo, mas hoje entrei num retiro profundo comigo mesmo e trouxe esta conclusão. Não apóio autarcia, não apoio gradualismo, apoio autarquias à nível nacional.

SOBRE O AUTOR

Fernando Sebastião Cafunda, natural de Malanje, poeta, cronista, jurista, ativista social e membro do movimento cultural e literário Lev ́Arte