Luanda - O novo coronavírus chegou e, com ele, vieram o medo, a hesitação e a descoberta dos podres das instituições políticas e sanitárias em cada país.

Fonte: Club-k.net


O Hemisfério Norte está a ser fustigado, estando o Sul ainda em estado de (aparente?) graça.

 

Na Europa, vieram ao de cima a negligência e o à-vontade italianos, com perdas humanas muito acima do expectável.


Seguiu-se a Espanha, mas Portugal está também a dar um ar da sua (des)graça, demonstrando ter um sistema de saúde com gestão inapropriada para a dimensão desta crise virulenta.

 

Quanto a nós, folgo em saber que não estamos tão mal no que ao controlo fronteiriço diz respeito.


A questão é que, ao contrário dos europeus, temos larga experiência nesta matéria, devido aos surtos epidémicos aos quais temos vindo a fazer frente.


Para nosso orgulho, há dias, o Jornal de Angola deu destaque de primeira página ao controlo sanitário fronteiriço do aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, com uma foto exibindo uma paramédica a tirar a temperatura aos viajantes à chegada.


Só que a funcionária sanitária, que se aproximava dos chegados viajantes a menos de um metro de distância, não estava devidamente protegida, sequer com luvas e máscara...


O mais caricato é que, nas redes sociais, algum atento observador deu conta que até havia uma caixa com luvas numa prateleira que a foto também exibia.
Pura negligência do pessoal, portanto.

Se é verdade que a experiência de controlo fronteiriço em aeroportos é, para nós, uma grande valia, o mesmo já não se pode dizer das medidas de prevenção, em relação às quais defendo estar a haver algum atraso.


Estamos à espera que haja casos de doença e morte, para que se implementem sérias medidas restritivas.


Por que razão, por exemplo, à acertada medida de suspensão dos voos de e para o Porto, se seguiu a sua anulação?


O que é mais importante, neste momento? A viabilidade económica da TAAG ou a prevenção em relação a áreas de grande risco, como é o caso do Norte de Portugal?

Concentrações de mais de 200 pessoas

Demos conta da orientação das autoridades sanitárias angolanas, no sentido de se evitarem concentrações de mais de 200 pessoas num mesmo recinto.
Espectáculos de qualquer natureza estão, portanto, fora de hipótese, por ora.


Medida acertada!

Fiquei feliz ao saber que algumas instituições do Estado estão a assumir a necessidade de respeito por esta medida.


O parlamento angolano está na vanguarda, pois a pouco mais de 12 horas do início de mais uma sessão plenária, foi comunicada a decisão de adiamento.

 

Mas, sobre esta matéria, tenho uma dúvida: por que razão se refere a concentração de mais de 200 pessoas e não mais de 250, mais de 150 ou mais de 100 pessoas?
Dá a impressão de haver perigo apenas quando se ultrapassa o "número mágico" de 200 indivíduos, o que não é correcto.


Uma concentração de 100 pessoas, num espaço pequeno como a sala de espectáculos da Liga Africana, será certamente mais fatal (do ponto de vista da disseminação do vírus) que uma concentração de 300 pessoas no estádio dos Coqueiros, por exemplo!

 

E as aulas continuam?

 

Finalmente, pergunto se devemos seguir o exemplo de outros países, no que à paralisação das aulas diz respeito.

 

O que tem sucedido é que se interrompem as aulas, apenas depois de haver casos confirmados e, até, óbitos.

Será que devemos, por cá, seguir este esquema?

Penso que não.

Não, em primeiro lugar, porque não quereremos certamente ser outra Itália ou outro Portugal. Temos de saber aprender com os erros dos outros.

Em segundo lugar, porque a ideia segundo a qual as crianças adoecem em menor grau não colhe.


Adoecem, de facto, em menor grau, mas absorvem e transmitem o vírus com incrível facilidade.

 

Pois, como se sabe, as crianças são normalmente mais despreocupadas que os adultos, de modo que a transmissão a partir delas será maior.

Em terceiro lugar, devemos ter em conta que tudo indica haver já na Europa uma nova mutação do vírus, que atinge adolescentes e crianças em maior grau.

Por último, estamos a descurar um aspecto demasiado importante, que não possibilita a nossa comparação com qualquer caso europeu (mesmo com os casos italiano ou português, que nos são mais próximos).


Refiro-me ao elevado grau de informalidade na sociedade angolana, que certamente fará com que o vírus se propague muito mais rapidamente do que ocorre pelas Europas.

 

Se a isso juntamos elevadíssimos graus de analfabetismo e de desinformação (ou de falta de informação), temos os ingredientes perfeitos para um cocktail de rápida disseminação do vírus.

Portanto, que fechem já as escolas e que as crianças fiquem protegidas em suas casas. E que se propague a devida informação acerca dos riscos que correm as que ficarem a brincar na rua.

Resta perguntar: então não existem, nas escolas, concentrações de acima de 200 pessoas?


A medida de restrição vale para uns casos e não vale para outros?

E já que de aulas falamos, recordo que também há grandes concentrações ao nível do ensino médio e superior, que são frequentados já por jovens e adultos.

Espero, pois, que se apressem as medidas de prevenção.

A terminar, gostaria de adiantar que, pelo facto de o serviço sanitário não ter ainda registado qualquer caso de doença com este novo vírus-corona, isso não ter de significar que não exista ainda nenhum caso desta doença virulenta.


O mais provável é que haja já alguns casos (ou venham a haver muito em breve), incluindo casos em que os lesados nem sequer desconfiem dessa doença.

Paulo de Carvalho
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17/Março/2020