Luanda - Vivemos em um tempo em que a verdade não interessa. Pelas nossas observações empíricas, os angolanos andam tão distraídos com a dureza e os problemas da vida quotidiana que a difícil tarefa de descobrir o que é real e o que é falso não é uma prioridade para muitos cidadãos. Associado à isso está o facto de continuarmos ainda a ter uma grande faixa da nossa população no analfabetismo.

Fonte: Club-k.net

Segundo uma notícia do Jornal de Angola do dia 7 de Setembro de 2019, um em cada quatro cidadãos angolanos não sabe ler e nem escrever e, grande parte daqueles cidadãos escolarizados apresenta fraca produtividade e é incapaz de exercitar o pensamento crítico, ou seja, incapaz de recorrer ao conhecimento e à inteligência para alcançar uma posição razoável e justificada sobre um determinado tema ou assunto.


Um país depende de uma população informada e instruída para que a verdade e a justiça sejam a norma adoptada e não mentiras e falsidades.


Com a popularização dos computadores e smartphones, boa parte da população angolana tem acesso às redes sociais, como Facebook e WhatsApp, o tempo todo e se tornou alvo de uma enormidade de informações falsas disparadas ininterruptamente. Esse é um dos lados perversos da internet, qualquer um pode colocar o que quiser na Net, seja verdade ou mentira. Há locais na Web aonde não há censura, põe-se tudo mais alguma coisa.


Além de receber e acreditar em memes, fotos, vídeos e textos falsos, muita gente também partilha esses arquivos com amigos, familiares e até mesmo em grupos de pessoas desconhecidas, convencidas de que é verdade aquilo que elas estão a partilhar. Afinal, por que é que tanta gente acredita e partilha notícias falsas?


Segundo uma matéria de 26 Outubro de 2018 da BBC News Brasil, "as pessoas que partilham notícias falsas experimentam uma sensação de bem-estar semelhante à de usar drogas." Quando recebemos uma notícia agradável, os mecanismos de recompensa imediata do cérebro são estimulados e dão uma sensação de prazer instantâneo, tal como as drogas. Dá-se uma descarga emocional e gera uma satisfação imediata. Isso impulsiona-nos a transmitir compulsivamente a mesma informação para que o nosso círculo de amizades sinta o mesmo, explica o artigo.

O que é a pós verdade?


Diz a literatura, que a pós verdade é uma circunstância em que a opinião pública e o modo como esta se comporta, fundamenta-se mais em apelos emocionais falaciosos e na afirmação de convicções pessoais avulsas do que em factos objetivos e observáveis.


Nos tempos que correm, parece que as pessoas não querem saber do que realmente se passa. Desvalorizam-se os factos e emitem-se opiniões com base nas nossas convicções pessoais, muitas vezes erradas e, baseadas no senso comum. O pós verdade, é exactamente isso: tempo em que se verifica a desvalorização da verdade

objectiva, atestada pelos factos e colectivamente estabelecida, e toma-se por certo qualquer enunciado contraditório, de origem arbitrária, subjectiva e falaz.


Vejam, por exemplo, as inverdades que se produzem a volta do COVID-19: Os adeptos das teorias da conspiração pro ocidentais acreditam que a China criou o vírus para obter ganhos económicos, já os pro socialismo/comunismo (China, Rússia e Cuba) acreditam que o vírus chinês foi criado pelos americanos para refrear o crescimento económico dos chinocas. Quais são os factos, qual é a verdade?


Hoje, o mundo é uma aldeia global, tornámo-nos cada vez mais interdependentes, o que se faz aqui tem repercussões ali e acolá. Nós respiramos o mesmo ar, caminhamos pelo mesmo tempo e moramos sob o mesmo tecto (céu), o mal que pensas que me estás a causar, é à ti próprio que o estás a infligir.


Estamos o ver o que se está a passar um pouco por todo o lado, a doença já causou, em todo mundo, pelo menos 12.725 mortes e infectou mais de 291 mil pessoas em 165 países e territórios. No mundo de hoje, quem é o psicopata que pensaria em criar um vírus para matar os outros e ele ficar imune? Não sei.


Na verdade, dizem os experts que o pangolim animal é suspeito de ser o hospedeiro intermediário do coronavírus. Como? O morcego voa deixando para trás um rastro de coronavírus nos seus excrementos, que caem na vegetação de uma floresta. Um animal silvestre, o pangolim, à procura de insectos para comer, faz contacto com os excrementos e com o vírus. Portanto, a verdade, o facto é que o COVID-19 não foi criado em laboratório.

Outras inverdades que se produziram a volta do COVID -19: “China já tem a cura para o coronavírus”; “Cuba tem antiviral para tratar coronavírus e pode exportá-lo”; “Vacina cubana curou 1.500 infetados pelo novo coronavírus”; e outras. Se isso fosse verdade, toda a celeuma que se cria a volta de novos casos, novas infecções não se justificaria. O mundo assiste a uma corrida científica sem precedentes para encontrar tratamentos eficazes contra a doença provocada pelo coronavírus. Entre outras drogas, há duas que mais próximo de produzirem resultados positivos: uma é um medicamento genérico já aprovado contra a malária e a outra é um tratamento experimental projetado para combater o ébola. Portanto, a cura para esse vírus ainda não existe, estamos todos expetante.


A verdade já não importa, porque os nossos filtros para medir ou determinar a verdade se degradaram nos últimos tempos. Quando as pessoas discutem sobre determinadas questões, parecem esquecer o “por que?” da discussão em primeiro lugar e, no final, o que fica é uma resposta binária - seja eu ou ninguém. É essa natureza binária das discussões que leva as pessoas a irem além dos seus limites para provar o seu argumento. No final, aquele que for capaz de fazer vincar a sua opinião independentemente do que a verdade é, ganha.


Hoje, até as pessoas alfabetizadas tendem a emitir opiniões, só porque as mídias sociais as fazem sentir importantes, muitas vezes sem antes efectuar nenhuma pesquisa sobre o assunto em questão. Se por acaso, mais alguém estiver alinhado com o seu discurso, independentemente da validade de sua opinião, pronto, pensam já que representam uma multidão significativa por aí afora. Quando alguém se opõe, pensam que, como não estão sozinhos, não podem estar errados e, portanto, devem lutar e tudo fazer (esbatendo argumentos, ainda que deslocados da realidade e da verdade factual) para vencer a discussão. Citam fontes sem verificar a sua veracidade. Desta forma, a averiguação da verdade não está no contexto da argumentação, mas condiciona a fonte que a cita "tem adeptos" ou não. Se um número considerável de pessoas acredita nisso, então essa fonte é verdadeira.


Moral da estória: Nunca subestime o poder de pessoas estúpidas em grande número.


Portanto, cabe a nós entender o problema, examinar todos os aspectos e fazer julgamentos imparciais, caso contrário a Verdade só importaria se a veracidade da verdade deixasse de existir.


Recebemos cada post nas redes sociais e no whatsApp, em particular, que é de bradar aos céus! Amigos, NÃO é só reencaminhar, é preciso atestar a veracidade e origem do post. NÃO partilhem posts atoa.


Temos que ser leitores, ouvintes, espectadores e telespectadores sofisticados. O que é isso, ser leitor sofisticado? É ter uma compreensão do mundo a sua volta e de como ele funciona, para que você não seja enganado facilmente, é ter um entendimento das pessoas e ideias sem fazê-las parecer simples. Um leitor sofisticado entende o significado oculto de um livro, sabe ler nas entrelinhas, é capaz de avaliar a mensagem sem deturpar o seu sentido.


Até antes de Sábado, 21, muitos compatriotas nossos acreditavam piamente que já havia vários casos de coronavírus em Angola, apesar de todos os apelos do ministério da saúde (MINSA) a dizer que não. Agora então, com a confirmação da existência de dois casos positivos ao teste covid-19 em Angola, a situação tornou-se muito delicada.


Há muita gente que não está a levar isso a sério. A doença é real, a OMS já alertou há algumas semanas: ′′Isto não é uma simulação!′′ Há milhares de pessoas a morrer, no mundo inteiro. Na Itália estão a morrer 400-600 pessoas por dia! Temos mesmo que ouvir o governo.


Enquanto umas não levam a sério, outras pessoas estão a exagerar, estão quase que histéricas, carros cheios de compras, bancos, multicaixas e superfícies comerciais (armazéns, super mercados, shoppings e lojas) abarrotados de gente. Ainda não há motivos para tanto. Segundo o JÁ de Sábado, 21 o Ministério do Comércio garante a existência no país de reservas alimentares suficientes para mais três meses sem necessidade de novas importações. “A população deve manter a calma quanto à aquisição de produtos, porquanto caso aconteça muito fluxo de pessoas nos estabelecimentos comerciais poderá haver facilitação da contaminação do coronavírus”, disse o ministro do comércio.

As autoridades estão a apelar à calma e ponderação, então temos que ouvir e seguir as orientações, para o bem de todos nós, não devemos ser teimosos. Se a orientação é para não sair de casa, não saia de casa. Assim diminuímos a possibilidade de propagação da doença em escalas massivas. Evite sair de casa. Saia de casa, só mesmo se for absolutamente necessário.


Não vá à igreja nem á escola, não vá à festa nem passear, muito menos jogar ou praticar qualquer desporto colectivo, ginásio not, shopping not, aquela saida básica com os kambas not, Noite da Quarentena not, praia not, enfim, muitos nots. Fique em casa para o teu bem, da tua família e amigos e de todos os angolanos.


O ser humano é um comunicador por natureza, tem necessidade de comunicar (enviar-receber mensagens) o tempo todo. Todos os órgãos ministeriais comunicam muito mal com o cidadão, deviam aprender com o Chefe do Executivo. Neste quesito JLo é um Às, dá o show. Tem portal e, está em quase todas as redes sociais. A ideia é comunicar, a comunicação ajuda a resolver conflitos, permite que os males entendidos se esclareçam. As informações sobre as instituições públicas não podem ser segredo, devem ser partilhadas com o público, trata-se de um direito que lhe assiste. Se o próprio chefe já entendeu isso, qual é a dificuldade dos outros em seguir o exemplo do chefe?


Ao MINSA, em momentos como este que atravessamos a comunicação permanente com o cidadão é de extrema importância para se evitar o pânico. O Ministério da Saúde deve dar briefings diários, se não mesmo, bi-diários sobre a situação do vírus em Angola. A semelhança do que acontece no mundo inteiro. A ministra tem que vir a público várias vezes durante o dia para dar informações actualizadas sobre os progressos ou regressões em relação á estratégia de combate à essa pandemia, bem como para tranquilizar as populações. As pessoas precisam de ser informadas, se não houver informações oficiais, as pessoas inventam, o angolano é bom nessas coisas de inventar.


Outra dica, não improvisem mais, apliquem a ciência para resolvermos isso, chamem quem sabe, utilizem os cientistas eles têm soluções para muitos dos obstáculos que havemos de enfrentar pelo caminho, o empirismo/ senso comum só vai complicar mais as coisas.