Luanda - A polícia angolana deteve, entre segunda e terça-feira, 46 cidadãos por desobedecerem às regras do estado de emergência, designadamente por desrespeito da proibição de circulação ou encerramento de lojas e igrejas.

Fonte: Lusa

"A nossa maior preocupação está relacionada com a circulação dos cidadãos", destacou o porta-voz do ministério do Interior (MININT), Valdemar José, numa conferência de imprensa em Luanda.


Apesar de hoje não se ter verificado uma circulação tão intensa como a que se registou na segunda-feira, ainda assim a que existiu "é preocupante", considerou, tendo em conta que as projeções do ministério da Saúde apontam para a possibilidade de ter 10 mil casos de infeção por covid-19 até junho.

Entre as 00:00 de segunda-feira e as 00:00 de terça-feira foram detidos por desobediência nove cidadãos nas províncias de Luanda, Benguela, Malanje e Cuanza Sul.

No dia de hoje, foram realizadas 37 detenções por desobediência e 65 cidadãos foram conduzidos às respetivas residências.

Foram também detidos 175 cidadãos que tentaram cruzar as fronteiras, nas províncias do Zaire, Cabinda, Moxico e Lunda Norte e encerrados 26 mercados informais.

Valdemar José acrescentou que os mercados municipais estão a funcionar integralmente, mas os informais "continuam a representar uma grande preocupação para as forças de defesa e segurança".

O porta-voz adiantou, no entanto, que a polícia está em contacto com os administradores dos mercados, no sentido de serem criadas condições sanitárias para abrir esses espaços ao comércio, respeitando as medidas impostas pelo decreto presidencial que define as regras a observar durante o estado de emergência que se vai prolongar até às 23:59 de dia 11 de abril.

Entre estas contam-se restrições à circulação de pessoas nas ruas e proibição de abertura de restaurantes ao público ou de estabelecimentos comerciais que vendam produtos não alimentares.

Entre os detidos está um casal de chineses que tentou subornar os agentes com 30 mil kwanzas para que a sua loja de eletrodomésticos e mobília continuasse a funcionar, bem como pastores de cultos religiosos.

Alguns já tinham sido advertidos, mas ainda assim "por insistência e resistência, os proprietários de algumas igrejas abriram esses estabelecimentos e, para além da medida de encerramento compulsivo, também foram detidos", indicou o responsável do MININT.

Valdemar José lembrou que em Itália houve muitos casos de contaminação em igrejas, sublinhando que não se trata de restringir o direito das confissões religiosas.

A polícia fez também 114 dispersões de aglomerados, alguns com crianças "a altas horas da noite".

Foram igualmente apreendidas 103 viaturas que se dedicam ao serviço de táxi coletivo, porque não cumpriam a lotação máxima de um terço da capacidade, bem como 390 mototáxis nas diversas províncias.

O porta-voz apelou também à responsabilização dos cidadãos no uso da linha de emergência (111), que recebeu 20.227 chamadas, das quais só 1.616 eram válidas.

O responsável do MININT pediu desculpa por eventuais excessos das forças de segurança e desincentivou o uso da coerção, garantindo que são penalizados os efetivos que violam a lei, mas alertou também para o grande volume de informação falsa e para a necessidade dos cidadãos acatarem os pressupostos da lei penal e as disposições previstas no decreto presidencial.

Valdemar José salientou que a capacidade do sistema penitenciário é de pouco mais de 20 mil pessoas, estando neste momento com cerca de 26 mil, apelando aos cidadãos para que cumpram as instruções emanadas pelas autoridades e fiquem em casa.


Angola regista atualmente sete casos confirmados de infeção com o novo coronavírus, dos quais quatro doentes estáveis, um recuperado e dois óbitos.