Luanda - A noticia de erros em manuais do ensino geral, revistas e artigos científicos, ou ainda em teses, dissertações ou trabalhos de fim de curso deve assustar e incomodar qualquer intelectual. Manuais publicados com imprecisões científicas têm o potencial de corromper mentes jovens, impreparadas, que depois é difícil reparar, podem disseminar inverdades que podem eventualmente destruir a habilidade e competência de certos profissionais. Como é que se evita que tal barbaridade aconteça? Para além de precisarmos de plataformas de disseminação de conhecimento apropriadas, temos que implementar a cultura da indexação de revistas cientificas, bem como o processo de revisão por pares ou peer review na academia angolana.

Fonte: Club-k.net

Se o país tivesse uma academia vibrante, com académicos de renome internacional a mistura e tal, é nos tempos que correm que se haveriam de evidenciar, já seria de praxe todos os experts sem excepção criarem comités, júris, ou bancas na sua área de especialização para discutirem e publicarem assuntos da sua especialidade. Com esse Estado de Emergência vigente e quarentena associada, há muitos Mestres e Doutores em casa, a fazer nada! De tanto tempo sem nada fazer, uns até deram-se a tarefa de contar os bagos de arroz existentes em um quilograma de arroz ou paus de massa em um pacote de spaghetti. É tempo desperdiçado, podia ser gasto a ler e ou escrever alguma coisa, para partilhar qualquer coisa daquilo o que estudaram, dando conselhos e dicas à quem de direito para melhor gerir a situação vigente.

Conhecimento é poder, mas conhecimento sem acção é inútil.


Agora que as igrejas fecharam, os kimbadas desapareceram e a medicina alternativa mostra – se impotente, é vez da ciência e dos cientistas (aparentemente, temos muitos Doutores na nossa terra) mostrarem o quanto valem.

O Que É Revisão Por Pares Ou Peer Review?


É difícil para alguém não pertencente ao meio académico compreender a complexidade das etapas envolvidas na publicação científica. Vamos por isso não falar com profundidade do peer review, todo o processo de revisão por pares, tipos de revisão por pares, serviço de transferência de artigos etc. Vamos sim dar apenas uma pinceladazinha no assunto. Em muitos países, já se ganhou consciência da importância de ter acesso à informação certificada e credível para formar opinião e tomar decisões sobre temas do quotidiano incluindo mudanças climáticas, preservação ambiental, tecnologia, saúde, economia, direito e muitos outros. As pessoas são bombardeadas todos os dias com informações e vêm tomando conhecimento sobre ciência por meio da leitura de jornais, livros, artigos na Internet ou não. A pergunta que se levanta é: Quão credível é a informação que estou a ler?


Os revisores desempenham um papel fundamental na publicação académica. O sistema de revisão por pares existe para validar o trabalho académico, ajuda a melhorar a qualidade da pesquisa publicada e aumenta as possibilidades de criação de redes nas comunidades de pesquisa ou networking. Apesar das críticas, a revisão por pares ainda é o único método amplamente aceite para validação de pesquisa e tem sido assim por cerca de 350 anos, com mudanças relativamente pequenas.


A ciência avança tendo como base o manancial de conhecimento acumulado pela humanidade e depende da disseminação dos resultados em periódicos ou outros tipos de publicações. Desde o Século XVII com a criação dos primeiros periódicos científicos, os documentos submetidos para publicação devem ser difundidos e apresentados à avaliação pelos pares (outros cientistas da mesma especialidade, daí o nome pares, significando igual, do mesmo tipo). Assim, a revisão por pares tem sido uma parte formal da comunicação científica desde que os primeiros periódicos científicos surgiram Vários estudos indicam que o peer review é tido como um dos pilares da comunicação científica, senão o mais importante. Existe unanimidade entre os autores ao afirmar que “a confiança implícita que acompanha essa avaliação ajuda a separar o joio do trigo em meio à quantidade sempre crescente de literatura científica disponível, online ou impressa.” Os revisores avaliam o manuscrito e fazem recomendações ao editor do periódico e o artigo é aceite como está, revisado antes da publicação, se for o caso, ou rejeitado. Avaliando itens como qualidade, originalidade e relevância (importância), além de fazer sugestões para aprimoramento.

Qual É A Importância Da Indexação De Revistas Cientificas?


É inquestionável o papel das revistas científicas para comunicar e tornar públicos o debate e os avanços científicos. Estes avanços trazem a ruptura de antigos paradigmas e estabelecem novos, como um ciclo de renovação que é um dos pilares do processo científico. É assim desde que surgiram as primeiras publicações, há mais de 300 anos.


Em termos de publicações, a Medicina, por exemplo, conta hoje com grande número de revistas nas suas mais variadas especialidades, no plano internacional, era bom que assim fosse também no plano nacional. Segundo SciELO (2007), “as publicações periódicas têm o papel de disseminar o conhecimento, conferir a propriedade intelectual ao autor ou a prioridade de autoria, servir de memória e de fonte educacional e histórica do conhecimento produzido, e servir como instituição social, atribuindo prestígio e reconhecimento a autores, instituições, editores e avaliadores, sendo imprescindíveis na definição e legitimação de novos campos do conhecimento.” A publicação de artigos, além disso, passou a ser uma exigência de muitas ordens de profissionais de medicina para obtenção de títulos, bem como condição de reconhecimento da validade de uma pesquisa.

 

Como todos os trabalhos elaborados obedecendo os protocolos científicos com vistas a trazer contribuições originais à comunidade são importantes, as revistas científicas têm o contributo de revisores, que qualificam e credenciam os artigos para publicação em revistas, para as quais contribuem com o seu apoio. Mas, o incremento da produção científica exige a indexação dos periódicos em bases de dados, para que a informação seja visível à comunidade científica rápida e sistematicamente. O principal objectivo da indexação é garantir a recuperação atempada de qualquer documento ou informação no momento em que o usuário a busca dentro de um sistema de informação.


E mais importante ainda, a indexação nas bases de dados significa para uma revista, o reconhecimento de mérito, aval à qualidade dos seus artigos e dos seus autores, significando que estes estão submetidos a processos de mensuração de desempenhos de atividades tanto académicos, como de serviços.


A indexação facilita a visibilidade e acessibilidade. Assim, toda revista para garantir a sua sobrevivência, precisa reunir aquelas duas características. A Internet assegura a pessoas localizadas em diferentes partes do mundo a pesquisa mais rápida e a informação acessível, aumentando ainda mais a importância da indexação dos periódicos em bases de dados conceituadas em cada área de actuação.


A Indexação de Revistas Cientificas e a Revisão Por Pares (Peer Review) Na Academia Angolana.


Já se viu noutras artigos que a questão da qualidade da educação em Angola precisa de ser abordada de várias perspectivas e, essa é claramente mais uma. Melhorando a produção cientifica no país, aumenta-se substancialmente a quantidade de informação valiosa, que serve de base e fundamento para quem de direito no acto da tomada de decisões, que se querem informadas e avisadas.

Esta na hora de o Ministério do Ensino Superior impor a cultura da indexação de revistas científicas e do peer review, estes dois mecanismos contribuem grandemente para a melhoraria da qualidade do sistema de ensino angolano, que muito se quer.


Essa imposição inclui, a semelhança do que acontece noutras paragens, a exigência ao corpo discente e docente de os programas de pós-graduação, as dissertações de mestrado e teses de doutoramento devam ser publicadas em revistas indexadas em bases de dados internacionais, ou, ao menos, em bases nacionais, quando as houver.


As fragilidades da academia são a tal ponto que num momento tão sério que o país e o mundo atravessam, um pseudo médico angolano alega ter descoberto a cura para o covid-19!
Ao tomarmos conhecimento da notícia sobre o tal médico, criou-se um debate nas redes sociais a volta do assunto, fiquei impressionado, pela negativa, pelo número de internautas que o apoiaram. Segundo a sua visão, deviam dá-lo a oportunidade de provar que o seu medicamento é realmente eficaz.


Nós gostaríamos de saber, se algum desses apoiantes aceitaria ser a cobaia desse tal médico, para ver se o remédio funciona ou não?

O homem nem sabia a diferença entre vírus e bactéria, nem conseguia dizer os nomes dos medicamentos que ele próprio alegadamente desenvolveu. Já temos no país laboratórios com microscópios altamente sofisticados para o tal isolamento viral em cultivo celular, onde é que o nosso médico tirou as amostras de COVID-19 para os seus estudos?


O processo de criação, testagem, aprovação e produção de medicamentos é complexo, é um assunto muito sério. Trata-se de vidas humanas, não pode haver incertezas, as incertezas nas ciências médicas podem significar a morte de alguém. Não é por acaso que é a OMS a liderar essa abordagem, com o concurso de todos os estados membros da ONU.


Por outra, os jornalistas, em particular e, órgãos de comunicação social, devem ter o cuidado ao averiguar a origem da noticia. Dar tempo de antena à charlatões e pseudo especialistas é perigoso. Não ajudem a disseminar o empirismo e senso comum, não ajudem indivíduos medíocres parecerem ou fazerem-se passar por génios. Agigantam-se tanto, depois ninguém mais os para. Já tivemos aqui muitos casos. Por isso, vigilância. Todo o cuidado é pouco. Conhecimento novo só é credível, depois de validado pelos pares, não só a nível nacional, como também internacional.