Luanda - No meio de uma crise económica, atingido por uma guerra internacional de preços que fez cair abruptamente o preço do petróleo e deixou sem forma de conseguir rendimentos para pagar os elevados juros da dívida, o Governo de João Lourenço resolveu pedir dinheiro directamente aos cidadãos, abrindo uma conta no banco para o Tesouro Nacional receber as doações.

Fonte: Público

“Ajuda-nos a ajudar. Todos juntos na luta contra a Covid-19. Podes fazer a tua parte contribuindo em kwanzas para o IBAN AO06 005 0000 5197 1631 1019 7 - do Ministério das Finanças - Tesouro Nacional, Governo de Angola”, dizia o SMS enviado pelo Governo angolano, citado pela Lusa.


O apelo mereceu esta quinta-feira, em comunicado, a “indignação” da UNITA, o principal partido da oposição. “Devia ser o contrário, o Governo é que deve ajudar os cidadãos a superar as ingentes necessidades em abastecimento regular de água potável, energia eléctrica e em abastecimento de um pacote mínimo de alimentos básicos, às famílias mais carenciadas dos meios suburbanos e rurais”, refere o comunicado do principal partido da oposição angolana.


“Querer assumir sozinho a organização, mobilização e, pior ainda, arrecadar os apoios monetários e em bens”, como se não existissem “outros entes públicos” mais bem vocacionados para “fazer o exercício da solidariedade e apoio humanitário”.

A UNITA apelou ao Governo para não inviabilizar o surgimento de iniciativas que angariem “apoios monetários e outros” e que depois as entreguem a uma instituição do Estado mais vocacionada para receber estes donativos, mas que não seja “o Tesouro Nacional, para evitar confusões”.


Angola é um dos três países emergentes mais vulneráveis ao impacto económico causado pela pandemia do coronavírus de acordo com a agência de notação financeira Moody's. “A deterioração das perspectivas económicas globais, no seguimento da pandemia do novo coronavírus e a forte queda do preço das matérias-primas está a desencadear uma significativa volatilidade nos mercados financeiros e aversão ao risco, a que poucos países nos mercados emergentes são imunes”, escrevem os analistas, citados pela Lusa.


Para a Moody’s, Angola, Bahrein e Omã são os mais frágeis porque são “países que precisam de aceder aos mercados financeiros para refinanciar a dívida em moeda externa” e “devem encontrar condições proibitivas, pelo menos a curto prazo” para o fazer. Angola tem uma dívida acima de 100% do PIB e “ainda que o acesso a financiamento dos parceiros para o desenvolvimento possa mitigar” o risco, “os recursos são limitados”.


Angola já tem oito casos de covid-19 e duas mortes e o Presidente João Lourenço, numa mensagem divulgada na quarta-feira através da sua conta no Twitter, apelou a “autodisciplina” de todos os angolanos que é “o segredo da vitória da vida, sobre a desgraça”.