Luanda - O analista político angolano Herlander Napoleão desvalorizou hoje o impacto da remodelação governamental, anunciada na segunda-feira pelo Presidente de Angola, na vida do povo e defendeu que a exoneração do chefe da diplomacia vai "beliscar" a imagem externa.

Fonte: Lusa


"Esta pandemia do coronavírus deixa Angola, e não só, todos os Estados mundiais, numa posição de vulnerabilidade. E sempre que o Governo angolano está envolvido em alguma polémica e em alguma contestação social, há sempre que criar medidas circenses para entreter a população", afirmou em declarações à Lusa o também professor universitário Herlander Napoleão, considerando que foi por este motivo que o Presidente angolano apresentou esta semana o novo executivo.

 

Para o analista político, a pandemia mundial provocada pelo covid-19 veio "desmascarar os governos africanos, nomeadamente o angolano", até porque a faixa mais pobre da população não tem condições nem para armazenar comida, "portanto tem de ir para a rua todos os dias".

 

Admitindo que o Governo "tinha de ser diminuído por causa dos gastos", como carros, viagens, salários e secretários, considerou, no entanto, que a remodelação feita, embora tenha alguma "injeção de sangue novo" não faz com que os angolanos sintam que poderá refletir-se "na vida da população".

 

Assim, "penso que são medidas que em boa verdade são pouco úteis", sublinhou.

 

Na opinião do analista político e professor na Universidade Lusíada de Angola, as grandes surpresas da remodelação são a exoneração do ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e a nomeação para ministra de um mega-ministério, que reúne Ambiente, Cultura e Turismo, de Adjany Costa, 30 anos, uma "jovem bióloga" que venceu um prémio das Nações Unidas para os ambientalistas que mais se distinguiram no ano passado.

"O Ministério das Relações Exteriores é um ministério importante, não só para a imagem interna, mas sobretudo para a imagem externa do país (...). É um ministro com bastante sensibilidade", por isso a sua exoneração "de certa forma belisca a imagem externa de Angola, porque mostra que há aqui uma instabilidade muito forte", afirmou.

"Foi uma surpresa muito grande" a substituição do chefe da diplomacia de Angola pelo seu secretário de Estado, porque "é um ministério deveras importante para o país e até por causa da relação que havia entre os dois, e por causa de vários diferendos que o país passou, nomeadamente o Luanda Leaks' e também o caso do engenheiro Manuel Vicente", antigo vice-presidente angolano, reforçou.

Além disso, é um ministério que agora assume ainda maior relevância nas questões relacionadas com a diplomacia económica e a captação de investimento.

Por outro lado, na opinião do analista, "o ministro das Relações Exteriores tem de ser um homem da confiança política do Presidente da República", e Herlander Napoleão duvida que Teta António, o novo ministro, o seja.

"Manuel Augusto imiscuia-se em assuntos dos outros países, de tal forma que às vezes até dava a sensação que ele é que era o Presidente da República", comentou.

Na sua opinião, em termos de diplomacia o ministro agora exonerado não fez "nada de grave". Foram questões internas que levaram à sua exoneração.

Quanto à nova ministra do Ambiente, o que "causa aqui uma certa celeuma (..) é a idade que tem (...)e nas redes sociais tem-se posto muito em causa a sua capacidade."

Na opinião do analista, o Presidente angolano está a apostar muito em executivos mais jovens, porém, para algumas pastas, neste momento que o país atravessa "deveria escolher pessoas com mais experiência".

Para Herlander Napoleão, o Orçamento de Estado de Angola vai ter de sofrer "uma revisão com a queda do barril de petróleo" para ver se "o setor público, maior empregador, consegue sobreviver".

Por isso, defendeu, o novo executivo "terá de fazer uma reforma muito séria".

Mesmo assim, o analista antecipa que "Angola vai atravessar grandes dificuldades, porque não há dinheiro".

O Presidente de Angola fez divulgar esta segunda-feira a lista dos novos membros do executivo, que foi reduzido de 28 para 21 ministérios, destacando-se a saída de Manuel Augusto, das Relações Exteriores, que acabou por ser substituído pelo seu secretário de Estado, Tete António.

Da longa lista de exonerações divulgada pela Casa Civil de João Lourenço constam 17 ministros e 24 secretários de Estado, bem como o secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constitucionais e Parlamentares e o diretor do Gabinete de Ação Psicológica e Informação da Casa de Segurança do Presidente da República