Luanda - Em Dezembro de 2019, apareceu na China, mais concretamente na cidade de Wuhan a considerada até ao momento a pandemia do século “COVID-19” ou ainda novo coronavírus, que viera a pôr o mundo em alerta máxima em função da gravidade que esta crise sanitária trouxe para a saúde pública.

Fonte: Club-k.net

Desde lá a humanidade ganhou contornos diferentes, fazendo com que todos, mas necessariamente todos, empregassem esforços para o controlo de tal pandemia que viera a constituir – se como o principal inimigo do homem, para já nas últimas décadas, devido a sua fatalidade.


Após a China, até então tido como epicentro da doença, verificou-se a sua propagação pelo mundo fora, causando pânico e confinamento obrigatório a população mundial, que outrora tinha consigo a liberdade de movimento e tantas outras liberdades no seu exercício, mas, que devido a fatalidade de tal pandemia, serviram-se os governos a restringir certos direitos de forma a tornar-nos a todos agentes de saúde pública.


Mas afinal o que é a Covid-19? Como surge e com que propósito surge? Que preparação o “primeiro mundo” tinha ou tem para o combate da mesma pandemia? Que estratégias de saúde pública os países não desenvolvidos, como é o caso de Angola e outros países africanos, adoptaram para o seu combate?


Juntam-se a estas questões, especulações e premonições religiosas que defendiam e defendem a aproximação do final do mundo, considerando a pandemia como sendo o “sinal” da insatisfação de Deus, fruto de comportamentos não altruístas que caracterizam a humanidade nos últimos séculos. Ainda bem, especulações.


Todavia, tratando-se de “fim do mundo” ou não, a pandemia constitui-se como calcanhar de Aquiles para a humanidade, fazendo com que os países que a constituem, mudassem de paradigma relativamente a actuação sanitária para com os seus cidadãos, e em países mais atentos essas medidas atingiram até a gastronomia, dando um conjunto de restrições alimentares para o melhor combate ao vírus.


Outrossim, a pandemia Covid-19, afectou todas as esferas sociais, com maior ênfase na economia mundial, fazendo com que os países infectados e afectados pelo tal vírus reformulassem suas medidas económicas de contenção, com vista ao maior e melhor controlo da doença, evitando desde já o acelerar da propagação da mesma, que para muitos chega a ser a principal medida para o combate a pandemia.


Desta realidade, o mundo desportivo não ficou de fora. Os clubes ressentiram- se das repercussões económicas deste vírus, levando-lhes a tomar medidas de cortes em ordenamentos dos atletas, para alguns, e para outros assistiram-se medidas mais severas como a rescisão contratual de certos atletas, isto não em Angola, mas pelo mundo fora.


Medidas de higiene e saúde a nível mundial também foram tomadas para o combate da pandemia, sendo as mais comuns, o lavar das mãos de forma constante com água e sabão caso não se tenha condições para o álcool gel, evitar conglomerados, ficar a um (1) metro de distanciamento social mínima entre pessoas, quer infectadas ou não, evitar tocar com as mãos na face mais concretamente nos olhos, nariz e boca, bem como evitar abraços, beijos ou outros tipos de contactos.
Mesmo com a implementação de tais medidas, assistiu-se a uma propagação tão alvoroçada da Covid-19, principalmente em países tidos como modelos em matérias ligadas a higiene e saúde, como é caso de países europeus, o que de alguma maneira contrasta com a imagem ou com o reflexo subjectivo que temos destes países.


Importa realçar que até a primeira quinzena do mês de Março de 2020, Angola limitava-se a assistir e a ouvir pelos media o desenrolar e o agravar da pandemia em outros países, não só europeus, asiáticos, americanos, como também africanos, chegando até a disseminar-se aos países fronteiriços como é o caso da República Democrática do Congo, a Namíbia e a Zâmbia.

Até a esta altura, os cidadãos angolanos residentes em Angola, ou os que até a esta altura encontravam-se em Angola, ou ainda para sermos mais profundos, aqueles que não terão passado em países em que se manifestava tal pandemia, não estavam infectados, embora que de alguma maneira estivessem afectados.
Verificando-se a disseminação deste vírus, as autoridades angolanas estabeleceram certas medidas preventivas para o controlo da pandemia no território angolano, embora para muitos consideraram e consideram-nas tardias e/ou levianas, em função de sua aproximação no território nacional.


Destas medidas destacam-se a paralisação das aulas nos estabelecimentos de ensino públicos e privados em todo território nacional, num período equivalente a quinze (15) dias prorrogáveis, cumprindo desde já com uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) que é o evitar de conglomerados.


Apesar de o país ter conhecimento de áreas críticas relativamente a infecção pelo novo coronavírus, importa realçar que até a dada altura, em nenhum momento houve pronunciamentos quanto às precauções a serem tomadas em portos, aeroportos e fronteiras, medidas essas que segundo a opinião pública, permitiriam o controlo principalmente de entradas de passageiros provenientes de países de “risco” e não só, o que levou a muitos a dedução de que o país estava totalmente vulnerável.


Desta vulnerabilidade, a 21 de Março, o país registou os dois (2) primeiros casos da COVID-19, e que só depois desta data, intensificaram-se as medidas de prevenção e controlo, declarando-se de imediato a quarentena obrigatória de passageiros que viessem de países considerados de risco.


É interessante o dado: até 29 de Março, Angola só tinha casos importados desta pandemia, o que significa que até a esta altura não haviam no território nacional casos de contágios comunitários.


Acção – reacção; proactividade – reactividade; causa – efeito, são alguns dos conceitos que no nosso entender não devem passar despercebidos aos

servidores públicos, principalmente em situações de fatalidade e de emergência como é o caso em que encontrava e se encontra o mundo actual.
Estaríamos a ser exagerados e prematuros se considerássemos de fracasso e intempestivas as medidas tomadas pelo Executivo relativamente ao momento? Momento no sentido de que deveriam ser tomadas medidas muito mais cedo, ao invés de assistir a varanda, visto que a realidade pedia a quem de direito acção e não reacção, agir e não reagir, proactividade e não reactividade.


Na nossa humilde, objectiva, mas não totalista ou conclusiva apreciação, houve falta de antecipação ao problema e uma tardia actuação do Executivo na luta contra o contágio da pandemia e sua consequente proliferação em território nacional. Apenas apreciação, não mais do que isso. Como também podíamos estar errados. Será? Ou estaríamos a ser humildes demais.


Fruto do aparecimento e crescimento de casos em Angola, a 27 de Março por via de um decreto presidencial, o titular do poder Executivo, no caso o Presidente da República, decretou Estado de Emergência em todo território nacional, num período de quinze (15) dias e prorrogável com igual período, com vista ao maior controlo e diminuição dos riscos de infecção da Covid-19.


O estado de emergência trouxe consigo várias transformações e restrições não incomuns, como em outras latitudes em que se verifica a mesma realidade. Todavia, este estado tem como principal característica o “isolamento social”, ou seja, deixando de se verificar a azáfama habitual de pessoas nas ruas em todas as cidades. Reiterámos, nada incomum como em outras latitudes.


Mas, importa referir que em outras latitudes, com excepção a grande maioria de países africanos, sempre com o cuidado de evitarmos generalizações, a realidade social é incomparável, nem de longe e nem de perto. Ou seja, existem países preparados para viverem o chamado “isolamento social”, tudo por força das condições sociais que os seus governos trataram de resolver desde cedo. O “desde cedo” referenciado, não é no sentido de que prepararam-se meses antes da propagação da pandemia, mas sim é um problema que já foi resolvido a séculos, se não estivermos a ser muito contundentes.

Comparar-se a nós, somente nós. De um lado, o isolamento social não deveria constituir motivos de alaridos a população angolana, uma vez que grande número de pessoas em Angola vive isolado, desde o isolamento social a isolamento espacial. Do outro, deveria constituir motivos de alaridos em função das características económicas da grande maioria da população angolana, que não sabe o que é rendimento mensal ou simplesmente salário, cujos rendimentos são diários, resumindo-se em vendas informais. Outrossim, há aqueles com casos mais críticos que o seu ganha-pão é fruto de biscatos.


Permitiu-se simplesmente a venda de bens essenciais. O decreto especificou como bens essenciais os alimentos e fármacos. Qual será a fonte de rendimento àquele que não está dentro destes critérios? Ou seja, que não vende alimentos e nem fármacos. Apenas para reflexão.


Voltamos a reiterar, comparar-se a nós, somente nós. Ou seja, comparar-se a Angola, somente Angola.


17 e 18 de Março de 2020, são as datas que os angolanos mais atentos já mais se esquecerão. Por via desta realidade, entendemos nós que deveria ser efeméride, por serem as datas de “importação legal” dos casos da COVID-19 no território nacional. Os mais atentos também sabem que pela mesma via, dias apriorísticos àqueles que entendemos que deveriam ser efeméride, os portos, aeroportos e fronteiras estavam a céu aberto, podendo entrar pelo país cidadãos nacionais e estrangeiros, sem restrição nenhuma, mesmo com os alertas que recebíamos de países “invadidos” pelo mesmo vírus.


Aprende-se com os erros. Há quem já fartou-se de ouvir tal ditado, porque o erro é o que mais caracteriza a realidade angolana pelo menos até dado momento. Há ainda quem diga que o erro é natural, mas a insistência no erro cremos nós que tem outro nome.


Poderíamos buscar consolo na teoria do condicionamento operante de Skinner: Ensaio-Erro. Será que basta? Ou poderíamos ainda nos refugiar na teoria do condicionamento clássico de Pavlov: Estímulo-Resposta. Mas para o presente panorama e fruto do pânico instalado nas populações, poderíamos igualmente apegarmo-nos na famosa e mais importante lei de aprendizagem de Edward

Thorndike “a lei do efeito”. Mas as nossas esperanças estariam decadentes se nos lembrarmos da essência da corrente pragmatista e subsidiadas das ideias maquiavélicas de que os “fins justificam os meios” e que só é verdadeiro aquilo que funciona.


Todavia, este é o país de aquele que dizem ser o pai da nação angolana arquitectou para os angolanos. Porque afinal de contas, ele é lembrado e relembrado a cada passo que o país dá, significante ou insignificante, o que demonstra que o plano de governo deste imenso país desencadeia-se nos ideais do fundador da nação.


Entretanto, para o controlo desta pandemia é recomendável que tenhamos condições mínimas como hospitais devidamente equipados que em outras latitudes não constituem luxúria, profissionais de saúde qualitativos e em abundância, bem como cidadãos que cumpram com as orientações sanitárias que estão a ser dadas aos profissionais de saúde. Estes sim, “profissionais de saúde”, que até ao momento são os nossos heróis.


Verdade seja dita, actualmente a angolanidade já não constitui orgulho para muitos. Mas, de um tempo a esta parte o slogan que não se calava era: “eu tenho orgulho de ser angolano”. Deste orgulho, muitos angolanos tatuavam em seu corpo a roda dentada, a catana, a estrela e os mais acelerados tatuavam a bandeira nacional na sua íntegra como manifestação de sua angolanidade. A questão que se remete é: o porquê que muitos não têm mais aquele orgulho de serem angolanos?


Poderíamos recorrer ao famoso Princípio do Equilíbrio de Fritz Heider: “tratando-se de duas pessoas, se os sentimentos recíprocos entre as mesmas são idênticos, haverá uma situação harmoniosa. Em caso contrário, isto é, se P gosta de A, mas o A não gosta de P, a situação será desequilibrada e gerará tensão, caso não seja modificada através de um processo chamado mudança de atitude ou de reorganização cognitiva”. Será que este princípio encaixa-se na actual relação que o angolano tem com o seu país?


Até antes da confirmação de casos da COVID-19 no nosso país, admirou-nos o conforto emocional ou a almofada em que o Estado angolano submeteu-se, mesmo sabendo que estudos indicavam que a tendência do vírus é propagar- se para o mundo, sem perspectivas de excessão deste ou daquele país.
Talvez existiram razões de tal conforto. Tem-se a ideia de que o Estado angolano terá se apegado no famoso ditado: “ver pra crer”. Será?!...


São nesses momentos em que nos lembramos de grandes pensadores e líderes africanos, tudo devido as suas formas de actuação prévia ante determinados problemas, e as precauções que tomavam antes do problema chegar a acontecer. Pareciam videntes. Mas é bem verdade, que lembrar só deles não basta.


Desta breve incursão, só existe uma única verdade: ACÇÃO. Só com a participação de todos angolanos, de Cabinda ao Cunene e de Benguela ao Luau, cabendo a cada um fazer a sua parte é que veremos esse problema ultrapassado. Ou seja, “precisamos de uma actuação em redes”.


Não nos esqueçamos da palavra de ordem: FICA EM CASA. Evite saídas desnecessárias.


Por: Kuvitawako Venâncio Coxe