Luanda - Com a vinda do contingente de médicos cubanos recentemente chegados ao país para ajudar-nos com o corona vírus, muita gente pergunta: “Onde é que andam os médicos angolanos formados em Cuba?” Essa pergunta é extensiva à todos os outros profissionais das mais variadas áreas do saber, que o país já formou até agora. Seja cá ou no estrangeiro.

Fonte: Club-k.net

Onde é que anda esse pessoal? O país gasta somas avultadas com formação, já é hora de começar a ser compensado pelo investimento que tem feito nessa área. Tem muita gente que se formou com dinheiro do Estado em vários países, outros formaram-se mesmo no país, onde é que andam essas pessoas? Não é por acaso que se faz esse esforço se de formar os cidadãos, dotá-los de conhecimentos para que desempenhem as suas tarefas adequadamente. É que, o conhecimento é o recurso mais valioso dos dias de hoje!


Tal como as empresas privadas que querem bater a concorrência, o tempo todo, o Estado precisa de fazer uma gestão estratégica dos seus recursos humanos para que o país se mantenha competitivo e se desenvolva. Os recursos humanos são o recurso mais valioso de um país, mas estes RHs só são realmente valiosos se tiverem conhecimentos, se forem competentes e profissionais. Sem desprimor, da capacidade de estar ao corrente do que se passa na indústria para a qual trabalham.


Certos sectores tradicionais como sapatarias, oficinas, alfaiatarias, etc, muitos deles com fim anunciado, mas que ao apostarem na inovação de produtos e processos, conseguiram reinventar-se e vingar no mercado. Mas o mercado exige que se inove e se esteja a par da tecnologia, por isso, os RHs têm que fazer o mesmo. Dai que, o papel da formação e o acompanhamento das novas tendências é essencial na vida de todos nós.


Gestão de Recursos Humanos

A melhor maneira de entender a gestão estratégica de recursos humanos (GERH) é comparando-a com a gestão de recursos humanos. A gestão de recursos humanos (GRH) centra-se essencialmente no recrutamento e contratação dos melhores quadros e em oferecer-lhes a remuneração, benefícios, formação e progressão na carreira necessários para o sucesso de uma organização. No entanto, a gestão estratégica de RHs vai mais além, alinhando-as às metas de outros departamentos e às metas da organização no geral. Aqueles departamentos de RHs que fazem uma gestão estratégica, garantem que todos os seus objectivos estão alinhados com a missão, visão, valores e metas da organização da qual fazem parte.


Gestão Estratégica de Recursos Humanos

A gestão estratégica de recursos humanos consiste na prática de atrair, desenvolver (assegurar a progressão na carreira), recompensar e reter funcionários para o benefício de ambos, do funcionário como indivíduo e da organização como um todo. Departamentos de RHs que praticam uma GERH não funcionam independentemente dentro de um silo, como compartimentos estanques; eles interagem com outros departamentos da empresa de formas a entender os seus objectivos e, em seguida, criarem estratégias alinhadas àqueles objectivos bem como aos objectivos da organização. Como resultado, os objectivos do departamento de RHs reflectem e auxiliam os objetivos do resto da organização inteira. A gestão estratégica de RHs é vista como parceira no sucesso organizacional e, não apenas por imperativos legais ou compensação. A gestão estratégica RHs utiliza o talento e a oportunidade dentro do departamento de RHs para tornar outros departamentos mais fortes e eficazes.

Importância da Gestão Estratégica de Recursos Humanos (GERH)


Quando um DRH desenvolve estrategicamente os seus planos de recrutamento, formação e remuneração (com base nos objectivos da organização), garante maiores chances de sucesso organizacional. Vamos aplicar esta abordagem em relação à uma equipa de futebol, onde o Jogador A é o departamento GERH e os Jogadores B, C,D, até M são os outros departamentos da organização. Toda a equipa quer vencer o jogo, e todos eles podem ser grandes jogadores individualmente, mas um grande jogador nem sempre ganha o jogo. Se já assistiu a algumas partidas, entenderá que onze grandes jogadores não ganham o jogo se cada um deles estiver focado em ser o melhor da partida. Veja o caso dos “Galácticos”, equipa do Real Madrid na qual pontificavam nomes como Zinédine Zidane, Ronaldo, Raúl González, Roberto Carlos, Luís Figo e David Beckham. Era suposto ganharem tudo, mas não foi bem assim.


Uma equipa vence quando todos os seus membros se apoiam mutuamente e trabalham em conjunto para um objectivo comum. O jogador A, o nosso DRH, deve trabalhar com os jogadores B, C, D, ... e M, os outros diferentes departamentos. Devem executar jogadas planeadas com antecedência, ajudar o outro jogador a atingir a baliza adversária e compensar as suas fraquezas quando for necessário, para que se crie uma equipa mais forte como um todo. Quando uma equipa trabalha em conjunto para atingir esse objectivo comum, só assim a equipa pode ser bem-sucedida verdadeiramente.


Pode-se também comparar a GERHs com o capitão ou treinador da equipa, já que as suas responsabilidades são diferentes das dos outros jogadores. Os DRHs são responsáveis por analisar as mudanças que precisam ser feitas com cada 'jogador' ou departamento e ajudá-los a superar eventuais fraquezas. Portanto, a GERHs é o processo pelo qual se utilizam as técnicas de RHs, tais como formação, recrutamento, remuneração e relações entre e com funcionários, para criar uma organização mais forte, um funcionário por vez.


Um Casting Nacional Precisa-se

Muitas das questões levantadas inicialmente seriam facilmente respondidas se o país tivesse uma base de dados nacional de onde se pudessem retirar informações sempre que necessário. Não estando disponível tal base de dados, torna-se urgente e necessária a realização de um casting nacional para sabermos quantos quadros os país tem, em que áreas estão formados, onde estão e o que andam a fazer? Agora com as ferramentas digitais isso deve ser uma tarefa fácil e materializável em pouco tempo. O país fez a coisa de três, quatro anos o cadastramento da função pública, que ajudou a detetar milhares de trabalhadores “fantasmas”, e há sensivelmente seis anos, fez o censo populacional, Acredito que essa informação ainda está disponível e pode ser utilizada, carecendo apenas de algumas actualizações pontuais e, se estes dados recolhidos por essa altura já não estiverem disponíveis, pode-se voltar a fazê-lo, desta vez com enfoque nos dados académicos dos cidadãos. É muito importante se faça esse casting. A tal GERHs é zero se não se tem estes dados básicos.

Não sei se a Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros na sua qualidade de órgão de apoio técnico especializado na análise, programação, gestão e avaliação de projectos de formação e capacitação de quadros tem noção da relevância que representa para o desenvolvimento deste país? Espero bem que tenha consciência disso.


Pela magnitude que esse casting representa para o país e pela proximidade que a Unidade Técnica de Gestão do Plano Nacional de Formação de Quadros tem ao centro do poder (presidência da república), é essa Unidade Técnica que devia liderar esse processo. Uma vez que o Plano Nacional de Formação de Quadros, é destinado a prestar apoio técnico aos Departamentos Ministeriais, bem como estruturar e organizar o sistema de informação e as diferentes bases de dados que o suportam, por maioria de razão, essa tarefa pertence mesmo àquela Unidade Técnica. Apesar dessa Unidade Técnica ser relativamente nova, ela deve ir buscar e incluir na sua base de dados todos os quadros nacionais vivos formados desde a independência. A parceria com o sector privado para o efeito também consegue-se com facilidade. Acredito que em matéria de GRHs o sector privado deve estar melhor servido.


Quem Quiser Governar Bem Tem que Ter os Dados Disponíveis

As informações estatísticas e as bases de dados servem para ajudar o governo a governar melhor. O futuro está no acesso aos dados para quem quiser governar bem. Tal como as empresas privadas, o sector público agora deve também cruzar informações e estatísticas para se antecipar a demandas da população. Como há muito que se fazer e os recursos escasseiam cada vez mais, é preciso investigar os dados para se estabelecer prioridades.


Os dados tornam possível a polícia chegar à um beco perigoso antes de ter sido chamada pela vítima de assalto. Um usuário de transporte colectivo pode receber uma notificação para informa-lo sobre quantos minutos o seu autocarro levará até chegar à paragem. O cartão de vacinas da infância, os dados fornecidos para a emissão do BI, carta de condução e passaporte, bem como a declaração de impostos de renda são fontes de conhecimento do perfil, do histórico e dos hábitos do cidadão. O cruzamento de informações de bancos de dados sobre as diferentes camadas etárias da população pode ajudar a planear melhorias no sistema de saúde e de educação. Para além, claro, de permitir a melhor alocação de quadros aonde são realmente necessários.


Graças aos dados, os governos servem-se do conhecimento arquivado sobre os indivíduos e o que se passa com eles para desenvolver produtos que os satisfaçam. Do mesmo modo que operam as empresas privadas, os produtos dos governos são os serviços públicos, os seus clientes são os cidadãos e o lucro pode vir a ser o bom resultado nas eleições. Hoje, os governantes não precisam mais de ta-tear- no escuro para adivinhar o que a população quer. Os dados permitem isso.


Não se trata de apenas entupir as repartições públicas com computadores para que eles sirvam para armazenar pilhas de estatísticas. Ter computadores disponíveis não necessariamente torna uma instituição mais eficiente. O que deve ser feito é dar o passo evolutivo, ou seja, o uso prático e inteligente dessas informações.

Ainda por causa da vinda dos médicos cubanos, há vozes que se levantaram para dizer o seguinte: “Pelo que os números indicam, ficaria mais em conta Angola mandar vir médicos do Senegal ao invés de Cuba. Repare, Senegal tem 265 casos positivos e conseguiu recuperar 137. Enquanto que Cuba tem 515 e até ao momento só recuperou 28 pacientes. No que diz respeito as mortes Senegal tem 2 e Cuba 15. Será que o Ministério da Saúde não levou em conta estes números ou o africano (igual) não garante muita confiança? Será que a cooperação histórica de Angola e Cuba falou mais alto? “

As estatísticas do COVID-19 para Cuba e Senegal acima mencionadas são referentes ao dia 10 de Abril.


O uso prático e inteligente de informações evita que se tomem más decisões. Com um casting nacional concluído, perguntas do tipo: “Quantos médicos o país tem, em que especialidades, era mesmo necessário trazer os cubanos?”, seriam facilmente respondidas, bastando apenas um click para o efeito.

Vamos aos números.


De acordo com o index mundi (2019), o Sistema Nacional de Saúde cubano encontra-se num ponto cimeiro, integrando 485 mil profissionais da saúde e mais de 100 mil médicos, entre outros profissionais de saúde. Isso dá uma densidade de 8 médicos / 1.000 habitantes. Já o Senegal tal como Angola tem zero médicos por mil habitantes.


Cuba "exporta" médicos para outros países, Angola não é o único, a exportação de serviços médicos tornou-se crucial para a economia da ilha.


Segundo a BBC Mundo “O contingente de profissionais de saúde cubanos fora da ilha incluem actualmente 15 mil médicos, 2,3 mil oftalmologistas, 5 mil técnicos de saúde e 800 prestadores de serviço trabalhando em 60 países e gerando lucros milionários ao regime - as cifras mais optimistas falam em até US$ 5 bilhões ao ano.”


Por exemplo, o serviço dos médicos cubanos na Venezuela, permite a Cuba receber 100 mil barris de petróleo dia. E também há profissionais em outros países da região, cerca de 4 mil em África, mais de 500 na Ásia e na Oceania e 40 na Europa.


Normalmente, os países pagam esses serviços por consulta e a mais barata custa entre 6 a 8 dólares (USD). Para muitos países em desenvolvimento, a vantagem dos médicos cubanos é que eles estão dispostos a trabalhar em lugares que os locais evitam, como bairros periféricos ou zonas rurais de difícil acesso - onde moram pessoas de baixíssimo poder aquisitivo. Além disso, em geral eles também recebem remunerações mais baixas, já que outra parte da massa vai para o pais (Governo Cubano).


Agora se sairmos de Cuba e quisermos fazer o mesmo exercício de busca de dados sobre os nossos profissionais, seguramente que, teríamos dificuldades de achar essa informação de forma atempada. Dai que, reitero a necessidade da realização de um casting a nível nacional para a criação de uma base de dados de todos os quadros, absolutamente todos. Aí saberíamos quem somos, onde nos formamos, em que nos formamos, quantos somos, onde estamos e o que andamos a fazer.