Luanda - Já o velho adágio dizia que quem não conhece de onde vem, dificilmente saberá para onde vai. Assim neste texto, pretendemos trazer à tona, depoimentos e dados que refletirão aquilo que aconteceu no continente berço no limiar deste Milênio em relação a estratégia Chinesa por cá. Provocativamente aos valores e rigor econômico, a asserção por enquanto não ainda fundamentada, dir-se-a, é que a África já é o segundo continente da China. Hoje milhões de migrantes Chinos estão construindo um novo império aqui.

Fonte: Club-k.net

Mas a China, como não deixaria de ser, nega veementemente a acusação muitas vezes repetida, de que está construindo um império aqui em África, assim como as potências européias negavam no final do século XIX. Para os mais atentos, hoje Pequim é o maior parceiro comercial da África e tem sido frequentemente acusada de ser um "colonialista de recursos" eticamente surdo - extraindo a riqueza mineral do continente a preços imbatíveis para impulsionar seu crescimento econômico em casa.

Na maioria das capitais africanas, e Luanda não foge à regra, fica difícil perder a nova presença e influência da China. Eu diria mesmo que até parece que este é um momento de transformação para a África. Também não estaria sozinho, em afirmar que nenhum país teve um impacto tão grande no tecido político, econômico e social da África, como a China desde a virada do milênio. O que na verdade importa aqui salientar, para os fazedoras de opinião e governantes sobretudo em Angola, nossa abordagem sobre esta temática sobre a China, deve ser encarada como diferente do Ocidente. A razão é simples, a China tem procurado concentrar-se mais no comércio e no investimento justificado comercialmente, em vez de doações de ajuda e empréstimos fortemente subsidiados. A China se recusa a dizer aos governos africanos como eles deveriam administrar seus países ou a tornar seus investimentos dependentes da reforma do governo. Esta aproximação, torna a China em comparação com muitos estabelecimentos de ajuda ocidentais muito peculiar.

Porém, para muitos, e aqui em Angola já é um debate livre, será que a crescente parceria da China com o nosso país e a África deve levantar questões importantes como por exemplo uma abordagem prática se ao não imiscuir-se em assuntos governamentais esta é uma posição correta? Será verdade que o dinheiro e a ambição chineses podem ter sucesso onde o engajamento ocidental falhou? Ou será que a China se tornará a mais recente de uma série de potências coloniais e neocoloniais de Angola e de África, destinadas como as outras a deixar seu próprio legado de amargura e decepção no velho continente?

Exemplo triste, mas aconteceu já na primavera de 2008, quando o governo sitiado do Congo Democrático divulgou um pacote de investimentos chineses no total de US $ 9,3 bilhões, número mais tarde reduzido, por razões complexas que envolveram a pressão do Fundo Monetário Internacional, para US $ 6 bilhões - ainda aproximadamente metade do PIB do Congo naquele ano. A China construiria novas e enormes minas de cobre e cobalto; 1.800 milhas de ferrovias; 2.000 milhas de estradas; centenas de clínicas, hospitais e escolas; e duas novas universidades. Em discurso no parlamento, Pierre Lumbi, ministro das infraestruturas do país na época, comparou o pacote ao bem conhecido Plano Marshall depois da Segunda Grande Guerra Mundial, e chamou de "a base sobre a qual o crescimento de nossa economia será construído". Utopia ou visão típica de dirigentes de sua era?

Por toda Angola por exemplo, desde que a cooperação Chinesa se instalou no país,
novas pistas foram sendo construídas, estradas construídas, portos aprofundados, aeroportos como o do 30, centralidades, caminhos de ferro, contratos comerciais assinados, tudo em uma escala sem precedentes, e todos foram liderados pela China, cujo apetite por mercadorias parece também insaciável. Os grandes projetos da China para Angola e África, prometiam no início da década passada, a transformação, finalmente, de um continente atrasado para desenvolvido. Ou apenas isso seria sua exploração?

Diga-se que os angolanos e africanos, todos nós temos problemas existenciais e se calhar deve ser também essa predisposição nossa ao laissez-faire, muito ligados à cultura de que quando temos problemas, pedimos a alguém que cuide deles para nós. Assim nunca cessamos de pedir aos europeus, aos americanos e agora nessa nova dispensação, aos chineses. Vamos destruir as estradas, as ferrovias, aeroportos, centrals elétricas, por tudo em ruínas, e depois dizermos aos chineses que precisamos que venham reparar. Isso não é desenvolvimento nenhum.

Sugiro aqui aos nossos governantes, e suas equipas econômicas, para que saibam que para entenderem completamente a abordagem econômica da China em África, eles precisam estudar a história imperial européia , como Pequim está fazendo. Existem relatos de que no início da década passada, uma delegação chinesa muito interessante visitou Bruxelas, e eles pediram para ver todos os velhos mapas coloniais do Congo. Sabe-se que estes são os únicos mapas que refletem pesquisas razoavelmente precisas das riquezas minerais do Congo, eles desejavam usá-los para planos de desenvolvimento em Katanga e em outros lugares.

Portando, olhando para os documentos de política chinesa, é muito óbvio que eles estão focados em abrir o coração do continente. Existe claramente uma estratégia de longo prazo para isso, e ela procura interromper o fluxo norte-sul de minerais, construir linhas leste-oeste que lhes permitam contornar a África do Sul.

Segundo estimativas conservadoras, a África conta agora com quase dois milhões de residentes chineses. Suas diversas atividades - incluindo mineração, exploração madeireira, pequenos negócios e grandes projetos de construção - têm ajudado a moldar a África, muito embora isso seja falso. Mas a verdade é que o continente tem fornecendo à China combustível para sua industrialização e riqueza para sua ambiciosa marcha para se tornar a maior superpotência do mundo.

Em outras palavras, a China adotou um sistema de troca moderna que oferece acesso aos recursos de petróleo, gás, mineração, silvicultura e vastos recursos agrícolas da África em troca da construção de estradas, ferrovias e edifícios públicos. Hoje, quase que 45% das importações de petróleo da China, cerca de 90% de seu cobalto, 35% de manganês e 30% de seu tântalo - todos os principais insumos para a fabricação de alta tecnologia, vêm da África. Dos US $ 10 bilhões em 2000, o comércio bilateral da China com a África subiu para mais de US $ 250 bilhões em 2018. Para rematar, é que na verdade já no início da primeira década deste século, a China comprometeu cerca de US $ 74 bilhões em fundos estatais e privados na África, muito mais do que o Banco Mundial.

Hoje pesquisadores europeus se perguntam como a África lidará com a China quando, em meados deste século, duas tendências emergentes se encontrarão: a primeira é que a população da África dobrará para mais dois bilhões e a segunda é que grande parte das reservas conhecidas de petróleo, ferro, bauxita, cobre, cobalto, urânio e ouro serão em grande parte esgotados em Angola e no resto do continente. Diz-se que a África possui 60% das terras aráveis não cultivadas do mundo. A China, por outro lado, possui 22% da população mundial e 9% de suas terras agrícolas. Grande incentivo para estar em África.

Mesmo hoje em Luanda, viajando pela via expresso, fica amargo notar as disparidades, para não dizer neo colonização chinesa, ao encarar os prósperas shopping centros chineses, lojas e estabelecimentos comerciais, todos deles, em meio de uma população local empobrecida e sem oportunidades. Assim, Angola já é ou não é uma província chinesa?